No campo da Astrofísica de Altas Energias,[1] as pesquisas continuam apesar da escassez de pesquisadores e técnicos pela não contratação de pesquisadores há mais de 20 anos. As constantes mudanças de orientação e de prioridades no programa espacial brasileiro também têm prejudicado essas pesquisas, pois envolvem observações espaciais com satélites, que colocariam a Astronomia brasileira num patamar já desejado há muitas décadas. Estudos têm sido feitos em técnicas de imageamento de fontes de raios X duros utilizando “máscaras codificadas”, novos desenhos de plataformas de detectores para satélites e experimentos preliminares para uso de nanossatélites.
O campo da Astrofísica de Ondas Gravitacionais,[2] no qual o Brasil está engajado desde 2000, finalmente efetivou em 2015 a detecção dessas ondas produzidas pela coalescência de dois buracos negros, pelo método de interferometria a laser. Desde então foram detectados cerca de 90 eventos similares, envolvendo a coalescência de estrelas compactas: buracos negros ou estrelas de nêutrons.
No mesmo ano de 2015, o envolvimento brasileiro que vinha sendo desenvolvido no Instituto de Física da USP, teve que ser descontinuado para liberar o espaço onde se encontrava a antena gravitacional que foi desmontada e transportada para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos, SP. Porém, os últimos experimentos realizados com esse instrumento que utiliza a técnica de absorção de energia da onda gravitacional por uma massa esférica ressonante, sugeriram que o sistema de isolamento vibracional da antena fosse revisto, tarefa essa em curso. Esse isolamento é para que o sinal, isto é, as oscilações das ondas gravitacionais não sejam contaminadas e obliteradas por oscilações espúrias do ambiente (ruído).
No campo da radiointerferometria em ondas milimétricas e submilimétricas,[3] está em curso a construção do Large Latin American Millimeter Array (LLAMA), dentro de um projeto de colaboração argentino-brasileiro que visa à instalação e operação de uma antena de 12 m de diâmetro nos Andes, a 4.820 m de altitude. Esse radiotelescópio funcionará na faixa de 35 a 800 GHz e será equipado com receptores de alta sensibilidade e com um sistema de computação complexo, capaz de, ao mesmo tempo, rastrear radiofontes, realizar a aquisição de dados e o processamento dos mesmos, além de monitorar parâmetros indicadores das condições operacionais do telescópio e dos receptores. Essa complexidade está ligada ao fato de a operação ser remota, devido à elevada altitude.
Inicialmente esse radiotelescópio funcionará isoladamente, mas está prevista a possibilidade de sua integração para interferometria de linha de base muito grande (VLBI) com o grande interferômetro Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).
Este projeto sofreu descontinuidades em seu financiamento do lado argentino por troca de diretores, até pelo falecimento de um deles, depois por mudança de diretrizes governamentais. Mas, o lado argentino está realizando a construção da antena, enquanto o lado brasileiro tem se dedicado ao desenho, construção e aprimoramento de subsistemas.
Na participação do Brasil em consórcios internacionais,[4] a adesão do Brasil ao ESO (Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul), considerada o passo mais importante da Astronomia brasileira, já era um acordo assinado em 2011. O ESO, devotado à observação astronômica em solo, reune 16 estados membros. Mas a participação do Brasil, como estado membro convidado, foi suspensa pelo ESO em 2018 pela demora da sanção presidencial e respectivo não pagamento de quota. Isso é lastimável porque o ESO, sob um céu astronomicamente privilegiado nos Andes chilenos, detém telescópios dos maiores e mais avançados do mundo, além do complexo de radiotelescópios ALMA no Atacama. O acesso a esses instrumentos já podia e continua podendo ser feito pelos astrônomos brasileiros, mas como usuários externos, através de concorrida fila de espera.
Outro projeto de participação brasileira em empreendimento internacional [5] é o Giant Magellan Telescope (GMT), que será composto de 7 espelhos de 8,4 m cada um, equivalendo a um único telescópio de 24,5 m. Ele permitirá acessar um universo 30 vezes maior do que o acessível pela atual geração de telescópios, com uma nitidez 10 vezes maior que a do Telescópio Espacial Hubble em observações no infravermelho. Será um dos telescópios da próxima geração, com diâmetro triplicado em relação ao da atual geração, que deverá entrar em operação no início da próxima década. A execução desse projeto teve início em 2015 e a participação brasileira conta com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os outros parceiros são dos Estados Unidos, Austrália, República da Coreia e Chile, que abrigará o GMT no Observatório Las Campanas no Atacama, norte do Chile.
Mas o objetivo deste projeto não é só construir o telescópio e colocá-lo em operação. O Brasil já se especializou em instrumentação astronômica óptica e infravermelha, em especial na construção de espectrógrafos que, através de centenas de fibras ópticas alimentam o mosaico de píxels de um detector CCD para realizar ao mesmo tempo imageamento e espectroscopia em grandes telescópios de consórcios internacionais.[6] O projeto GMT visa também a contribuir na engenharia de sistemas de instrumentos complexos para várias áreas estratégicas, não apenas para Astronomia, como as áreas espacial, de medicina e saúde, do agronegócio e outras.
Outro campo é o dos grandes mapeamentos cosmológicos para estudos da evolução de galáxias e de sistemas de galáxias em função da idade do Universo, como também da distribuição espacial de galáxias em grande escala cosmológica. Essa tarefa é ingente, envolve colaboração internacional que vem sendo desenvolvida desde 2010 através do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA).[7]Ultimamente esse laboratório virtual promove o envolvimento de cerca de 100 pesquisadores brasileiros, de uma ampla rede de instituições nacionais, em projetos internacionais de Big Science de uma rede global de centenas de instituições, as mais importantes do mundo, que geram colossais volumes de dados (Big Data).