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Rede global impulsiona pesquisa biomédica na América Latina

Iniciativa promove acesso a tecnologias de código aberto e enfrenta desafios estruturais para fortalecer a ciência em países em desenvolvimento.

 

A disparidade no acesso a insumos essenciais para pesquisa entre cientistas do Sul Global e do Norte Global tem sido uma barreira histórica para o avanço científico em países em desenvolvimento. Para mudar esse cenário, a rede global Reclone está financiando a aceleração de pesquisas biomédicas com tecnologias de código aberto na América Latina, oferecendo soluções acessíveis e sustentáveis para superar desafios estruturais.

Fundada em 2020, a Reclone tem como objetivo reduzir a dependência de pesquisadores do Sul em relação aos fabricantes de reagentes do Norte, criando alternativas locais. A rede já conta com o apoio de especialistas como Camila González Rosas, professora da Universidade dos Andes (Colômbia), e Lindomar Pena, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que compartilham suas experiências com atrasos e custos elevados no acesso a reagentes essenciais para pesquisa.

“Os reagentes no Canadá chegam em um ou dois dias. Na Colômbia, levam ao menos três meses, e muitas vezes chegam danificados devido a problemas na cadeia de frio”, relata David Duplat Torres, assistente de pesquisa na Universidade dos Andes. No Brasil, os desafios são semelhantes, como explica Pena: “O custo pode ser até três vezes maior, e o armazenamento inadequado nos aeroportos muitas vezes compromete os insumos.”

A iniciativa da Reclone oferece um caminho para mudar esse panorama. A rede disponibiliza reagentes livres de patentes para pesquisa genética e molecular, com aplicações que vão desde estudos de biodiversidade e programas de conservação até o desenvolvimento de diagnósticos para doenças como dengue, chikungunya e zika.

Com financiamento significativo até 2026, a Reclone já apresenta resultados promissores. Fernán Federici, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, conseguiu reduzir os custos de produção de enzimas em seu laboratório, permitindo maior autonomia nas pesquisas. Enquanto isso, o Centro de Investigaciones en Microbiología y Parasitología Tropical (CIMPAT), na Colômbia, desenvolveu um teste de detecção de dengue para áreas remotas, utilizando enzimas de alta qualidade fornecidas pela rede.

Além de fomentar a produção local de insumos, a Reclone investe em capacitação científica e no fortalecimento de laços entre universidades e comunidades científicas na região. O objetivo é assegurar, a médio prazo, que os pesquisadores latino-americanos tenham acesso equitativo a ferramentas fundamentais para o avanço da ciência. “Precisamos de novos modelos de financiamento que beneficiem as universidades e promovam mais e melhores pesquisas”, conclui Paula Benítez Bolívar, assistente de pesquisa da Universidade dos Andes.

Com informações de SciDev.Net

 

Capa. Freepik.com
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