A Companhia de Jesus foi fundada em 1534, poucos anos depois da Reforma de Lutero. O fundador, Inácio de Loyola (1491-1556), tendo recebido formação militar, concebeu a ordem com a estrutura de um exército que, obedecendo estritamente ao papa e de acordo com as circunstâncias, promoveria a guerra santa da Contrarreforma. Nessa agenda constava a atividade missionária com alcance universal, atingindo os pagãos das Índias e do Extremo Oriente, como também os nativos do Novo Mundo. Na visão do fundador, a ação missionária envolvia educação. Mas educação tinha um significado bem específico.
Para definir as diretrizes pedagógicas básicas dessa educação religiosa, foi publicado após muita discussão entre os jesuítas e coleta de experiências o Ratio Studiorum (1599), subentendendo-se que o ensino das verdades da Fé pressupunha um substrato de formação humana (binômio Fé e Razão). O plano de estudos da ordem previa a seguinte estrutura curricular na ordem ascendente: Humanidades (Línguas, Gramática, Literatura e Retórica) para o domínio da linguagem; Artes ou Filosofia (Lógica, Matemática, Filosofia Natural, Metafísica, Cosmologia, Psicologia e Ética) para o conhecimento do mundo físico e Teologia (Teologia Escolástica, Teologia Moral, Sagrada Escritura e Hebreu); a Escolástica era um método de pensamento baseado na lógica silogística de Aristóteles e na filosofia de Tomás de Aquino (1224-1274) que objetivava conciliar Fé e Razão. A Teologia Moral tratava dos princípios ético-morais subjacentes à doutrina cristã e de sua aplicação no cotidiano. Entre parênteses estão indicadas as disciplinas com designação mais atualizada.[1] A inclusão da Matemática e Cosmologia explica o interesse de membros da ordem, como Stansel, por essas disciplinas, pois eram professores das mesmas.
A missão fundamental da Companhia de Jesus era a evangelização nos quatro cantos do mundo. A cultura europeia era considerada civilizada, em contraposição à barbárie ou selvageria que existia, por exemplo, na África e no Novo Mundo. Como o cristianismo estava embutido na cultura europeia, a evangelização acabava sendo também uma divulgação da cultura europeia. No Brasil colonial os jesuítas criaram as missões para catequizar os índios e estabeleceram colégios para educar novos clérigos e cidadãos nos moldes europeus. A expansão da rede de colégios jesuítas pelo mundo foi impressionantemente rápida.[2] Mas na China, por exemplo, a tática evangelizadora teria que ser diferente. Não era possível impor os costumes cristãos de padrão europeu, pois lá já existia uma civilização que os próprios missionários admiravam nos templos, na escrita, nos costumes etc. Foi necessária então, uma aculturação pragmática dos próprios missionários para que eles fossem minimamente ouvidos.[3] Houve assim uma real interação entre missionários e chineses intelectuais, ou da corte. Na prática essa interação foi restrita à elite local que realmente admirou os jesuítas como homens letrados e sábios. O alcance da ação missionária foi pouco significativa frente à numerosa população. Mas isso mostra como a ação missionária tinha que se adaptar nas diferentes partes do globo.