O militar português Luís Serrão Pimentel [1] (1613-1679) foi aluno do colégio jesuíta de Santo Antão onde recebeu introdução à Matemática, aprendeu Cosmografia (um misto de disciplinas da atual Matemática, Física e Geografia) orientada para a Arte da Navegação. Frequentou também a Aula da Esfera quando aprendeu a Matemática da época. Já como Tenente-general da Artilharia, desde 1641 lecionou interinamente como Cosmógrafo-mor, ganhando finalmente esse título em 1671.
No contexto de reestruturação na esfera militar almejada por D. João IV, coube a Pimentel reformular o ensino militar, com a criação da Aula de Fortificação e Arquitectura Militar em 1647, a primeira escola de formação de futuros engenheiros em Portugal. Consistiu numa reorientação dos conteúdos para objetivos militares e a transferência desse ensino para os militares que passaram a superintender esse ensino. Ao estudo da Matemática em Santo Antão, Pimentel juntou o estudo dos princípios da fortificação (Arquitetura Militar), pois a crescente militarização de Portugal demandava pessoas formadas em arquitetura militar, na vertente de fortificação.
Como mestre de Fortificação e Arquitetura Militar, cabia a ele aplicar exames aos pilotos, cartógrafos e construtores de instrumentos ligados à navegação marítima, rever normas e compilar relatórios de viagens. A escola ficou sediada na Ribeira das Naus, em Lisboa, onde os futuros engenheiros militares do reino aprenderiam a arte da fortificação. Até então, a arquitetura era ensinada na Aula da Esfera, com base no estudo da Matemática pura, tendo por referência uma obra de 1634 do jesuíta Inácio Stafford, professor de Santo Antão.
Deixava-se para trás um caráter especulativo dessas lições oferecidas a nobres, a fim de atender às necessidades militares conjunturais do país e dar ao engenheiro militar um conhecimento mais prático e funcional.
Com esta reforma, ocorreu uma mudança importante na produção cartográfica portuguesa. A cartografia, antes executada, de um modo geral, por missionários que tinham passado pelo Colégio de Santo Antão, tornou-se tarefa dos engenheiros militares, com a justificativa de que estes eram mais afeitos a armas de fogo (artilharia), à guerra e à cartografia, do que os cosmógrafos, mais afeitos à náutica.
Essa medida teve repercussão na produção cartográfica do Brasil, pois D. Pedro II, filho de D. João IV, introdutor da reforma, fez fundar em Salvador, em 1696 e, no Rio de Janeiro, em 1698, uma escola de Aula de Fortificação, nos moldes daquela de Ribeira das Naus, para a formação de engenheiros capazes de produzir mapas precisos que servissem para a discussão de fronteiras. Essas escolas formaram engenheiros que depois se tornaram governadores que, de fato, produziram ou ajudaram a produzir mapas.
Existe na Biblioteca Nacional o “Mapa das Minas de Ouro de São Paulo e costa do mar que lhe pertence” (1714), considerado de baixa precisão, atribuído ao oficial Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, “tenente-marechal de campo general das Minas”, que representa não só o território da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, mas todo litoral e interior do Brasil entre o sul da Bahia e Santa Catarina. Essa capitania existiu entre 1709 e 1720, quando foi dividida dando origem à capitania de São Paulo e à capitania das Minas de Ouro, mais tarde conhecida como Minas Gerais.[2] Esse mapa foi elaborado na corrida do ouro, com levantamentos cartográficos realizados já por engenheiros militares.