Explorando o papel crucial das cientistas brasileiras na revista ao longo de 75 anos
A participação das mulheres na formação do pensamento científico remonta aos primórdios da ciência. No entanto, ao longo da história, essa participação enfrentou desafios significativos, refletindo desigualdades tanto culturais quanto estruturais que persistem até hoje. A revista Ciência & Cultura da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), como o mais antigo veículo de divulgação científica do Brasil, sempre se destacou por incentivar a inclusão feminina. Ao longo de seus 75 anos, a revista não apenas testemunhou, mas também impulsionou a evolução das representações e narrativas das mulheres na ciência brasileira.
A revista Ciência & Cultura tem sido palco de importantes contribuições de mulheres que deixaram um legado marcante na ciência brasileira. Rosina de Barros, renomada pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), desempenhou um papel crucial na institucionalização da genética no Brasil. Em 1949, ela se tornou a primeira mulher a publicar um artigo na revista, intitulado “Um caso de alteração na proporção entre os sexos, em ‘Drosophila mercatorum pararepleta’”. Este trabalho não apenas demonstra o seu compromisso com a pesquisa em zoologia e biologia celular, como também apresenta temas relevantes nas publicações do Departamento de Biologia Geral nas décadas de 1930 e 1940.
Johanna Dobereiner, agrônoma pioneira em biologia do solo, deixou sua marca com estudos que revolucionaram a agricultura tropical, especialmente no cultivo de soja. Em 1959, seu artigo “Influência da umidade do solo na população de bactérias do gênero Beijerinckia derx” destacou-se na revista pela importância de suas descobertas para a ciência agrícola. (Figura 1)
Figura 1. Johanna Dobereiner
(Reprodução)
Marie Curie, física e química de renome, primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e naturalizada francesa, também deixou sua marca na revista em 1981. Com Lúcia Tosi, ela abordou em seu artigo “A mulher brasileira, a universidade e a pesquisa científica” os desafios enfrentados pelas mulheres na ciência, apesar da ausência de barreiras legais formais no acesso ao ensino superior no Brasil. Marie Curie destacou os obstáculos sociais que, segundo ela, eram muitas vezes mais eficazes do que qualquer legislação restritiva. (Figura 2)
Figura 2. Marie Curie
(Reprodução)
A psicóloga e educadora Carolina Bori foi a primeira mulher a presidir a SBPC em 1987. Além de sua liderança marcante, contribuiu significativamente para a popularização da ciência no Brasil e advogou pela integração da psicologia como disciplina essencial no país. Em 1964, seu artigo “Um curso moderno de psicologia” na revista exemplificou seu compromisso com o avanço do conhecimento científico e sua aplicação prática na sociedade. (Figura 3)
Figura 3. Carolina Bori
(Foto: Acervo SBPC. Reprodução)
A revista também foi enriquecida por outras mulheres notáveis, como Mayana Zats, pioneira em biologia molecular e genética; Lilia Moritz Schwarcz, renomada historiadora e antropóloga; Elza Furtado Gomide, a primeira doutora em matemática pela USP; e Ima Vieira, destacada pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi. Cada uma delas contribuiu de forma singular para a ciência e deixou um legado importante na história da publicação. Essas mulheres não apenas abriram caminho para futuras gerações de cientistas, mas também redefiniram o panorama da pesquisa científica no Brasil, demonstrando um compromisso contínuo com a excelência acadêmica e a inovação.
A diversidade de perspectivas e vozes dessas mulheres não apenas enriquece os campos científicos e culturais, mas também promove a inovação, beneficiando tanto a qualidade da pesquisa quanto a relevância cultural. Em um mundo cada vez mais voltado para o conhecimento, é crucial garantir espaços justos e igualitários para as mulheres em todas as profissões que escolham seguir.