O matemático e astrônomo português José Monteiro da Rocha (1734-1819) veio ainda criança para o Brasil e foi educado pelos jesuítas no Colégio da Bahia. Entrou na ordem em 1752 aos 18 anos, e obteve formação inicial em Matemática e Astronomia no Colégio dos Jesuítas em Salvador. Estudou Matemática na Faculdade de Matemática do Colégio da Bahia, fundada em 1757, onde depois foi professor.
Na expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias, encetada por Pombal em 1759, abandonou a Companhia de Jesus e se ordenou padre secular na Bahía, em 1760. Regressou a Portugal para frequentar a Universidade de Coimbra entre 1766 e 1770, onde se formou em Direito Canônico. Em vista do seu interesse pelas ciências, foi recomendado pelo reitor da universidade ao Marquês de Pombal como pessoa competente para organizar a nova Faculdade de Matemática criada com a Reforma de 1772. Monteiro da Rocha colaborou na redação dos estatutos da universidade reformada, na parte referente às Ciências Naturais e à Matemática. Em 1772 obteve o grau de doutor em Matemática, juntamente com o já citado Miguel Antonio Ciera que já tinha participado da comissão de demarcação de limites entre 1752 e 1756 e, depois, foi grande colaborador de Monteiro da Rocha. Com o doutoramento, ambos foram incorporados ao corpo docente da Faculdade de Matemática.
Mesmo os escritos iniciais de Monteiro da Rocha, que só mais recentemente passaram a ser analisados, já demonstram que ele estava a par dos avanços científicos de seu tempo.
Um deles é o “Sistema Físico-Matemático dos Cometas”, escrito em 1760 quando Monteiro da Rocha era professor no Colégio da Bahia. O manuscrito foi achado casualmente pelo historiador Carlos Ziller Camenietzki na Biblioteca Pública de Évora, em Portugal, quando era pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins, do Rio de Janeiro. Trata-se de um texto didático, elaborado por ocasião da passagem do cometa Halley em 1759, acerca da natureza física dos cometas (assunto ainda controverso na época) e o cálculo, feito de modo simplificado, das efemérides desse cometa já utilizando a Teoria da Gravitação Universal de Newton.[1]
Num manuscrito de 1765 ou 1766, escrito talvez ainda no Brasil, ele abordou o problema da determinação da longitude pelo método das distâncias lunares (Determinação da longitude pela distância lunar), onde apresentou ideias originais modificando a observação e os cálculos. Infelizmente esse trabalho não foi publicado.[2]
Além de participar da reforma do sistema de ensino no período pombalino, Monteiro da Rocha também foi o fundador e primeiro diretor do Observatório Astronômico da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra (demolido na década de 1940), vice-reitor da Universidade e conselheiro do príncipe regente D. João, futuro D. João VI. O Observatório foi inaugurado em 1799, muito tarde em comparação com outros observatórios nacionais. O primeiro do país ligado a universidade, mas com características de um observatório nacional, visava aos problemas de Navegação, Geodésia e Cartografia, observações astrométricas (Astrometria é o ramo da Astronomia voltado à medição precisa da posição e movimentos dos astros), cálculo e publicação de efemérides. A Academia Real das Ciências de Lisboa foi fundada em 1779, também muito tardiamente.
Por ter recebido toda a formação em Matemática na Faculdade de Matemática do Colégio da Bahia, a carreira acadêmica de Monteiro da Rocha bem atesta a excelência do ensino brasileiro que pleiteava a criação de uma universidade, pedido que era sistematicamente negado.