A dona de casa dócil que atende o marido e os filhos. A beldade curvilínea vendendo cerveja. O empresário bem-sucedido dirigindo um carro de luxo. Essas imagens tendem a se tornar cada vez mais raras na publicidade brasileira. Isso é o que mostra a décima onda da Pesquisa TODXS, realizada pela Aliança sem Estereótipos, da ONU Mulheres.
O estudo mapeou a representatividade na mídia brasileira em 2021. No total, foram analisados 1.657 posts no Facebook e 5.467 comerciais de TV, abrangendo 425 anunciantes cinco emissoras (Rede Globo, SBT, Record, Megapix e Discovery Kids). Os resultados mostraram que a publicidade brasileira tem avançado com histórias de empoderamento. No entanto, ainda inova muito pouco quando se trata de abordagem de gênero e raça.
Na raça
Em relação à diversidade racial, a pesquisa aponta que houve um crescimento de 22% para 27% de representação das mulheres negras protagonistas na TV em relação a 2020. No caso dos homens negros, esse aumento foi ainda mais significativo: o número passou de 7% a 20%. Porém, quando comparado a presença de homens e mulheres brancos, essa representatividade permanece baixa: as mulheres e os homens brancos mantêm 62% e 74% do protagonismo na publicidade, respectivamente.
Uma questão de gênero
Segundo a pesquisa, a publicidade brasileira ainda relaciona as mulheres com maternidade e tarefas do lar e homens com poder e autoridade. Além disso, mulheres e meninas ainda seguem sendo objetificadas sexualmente. Por outro lado, o estudo também aponta que houve avanços no sentido que aumentaram as histórias de empoderamento, ou seja, mais narrativas que rompem estereótipos através de histórias onde mulheres e homens assumem novos papéis. No entanto, é significativo que a maioria das marcas ainda não se posiciona: cerca de 37% das peças publicitárias são classificadas como “neutras”, apontando para a falta de posicionamento de muitos anunciantes em relação à representatividade e à diversidade.
Outro fato marcante — e assustador — é o percentual de 0% de peças publicitárias com participação de pessoas LGBTQIAP+. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo, por isso a presença dessa comunidade é urgente. Outro número inexpressivo é o número de peças publicitárias com pessoas com deficiência: 1,2%.
Em sua conclusão, a pesquisa aponta que o “público LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, mulheres negras maduras existem, trabalham, consomem, se apaixonam, tem sonhos, desejos e deveriam ter sua existência naturalizada na publicidade”.
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