Países vulneráveis ao clima precisam de adaptação e financiamento para perdas e danos
A falha em agir sobre as mudanças climáticas significará que os limites críticos de aumento de temperatura serão violados em mais de 1 oC neste século. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em seu relatório de lacunas de emissões de 2022, não existe atualmente um “caminho confiável” para manter o aumento da temperatura em 1,5 oC – como os líderes prometeram fazer em 2015.
As promessas feitas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), realizada em Glasgow (Escócia) no ano passado, levariam a reduções de emissões de gases de efeito estufa de menos de 1% das emissões projetadas para 2030, segundo o PNUMA. Isso significa que um aumento da temperatura global entre 2,4 oC e 2,6 oC é esperado até 2100, mesmo que esses compromissos sejam cumpridos. O relatório do PNUMA é um dos muitos em uma avalanche de análises divulgadas antes da COP27, a cúpula climática da ONU de 2022 que será realizada no Egito este mês.
Alta das emissões
As emissões de gases de efeito estufa reduziram em algumas regiões, mostra a análise de dados de carbono, mas as emissões globais continuaram a aumentar entre 1990 e 2019.
Os países e indivíduos mais ricos são responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Desde 1990, os 50% mais pobres da população mundial foram responsáveis por apenas 16% de todo o crescimento das emissões, enquanto o 1% mais rico foi responsável por 23% do crescimento total das emissões, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Os países da África Subsaariana têm a menor pegada de carbono média, enquanto os ultra-ricos Luxemburgo e os Estados Unidos têm a mais alta, de acordo com um estudo liderado pela Universidade de Groningen, na Holanda.
Alta dos custos
Em 2009, os países ricos com alta emissão de GEE se comprometeram a fornecer US$ 100 bilhões por ano até 2020 para os países em desenvolvimento para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas. Em 2015 essa promessa não cumprida foi repetida e estendida até 2025. Porém, novamente essa promessa não foi atendida.
Enquanto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que o financiamento para adaptação está aumentando, a organização de pesquisa sem fins lucrativos World Resources Institute (WRI) diz que é necessário mais financiamento para cumprir um compromisso assumido no ano passado por países de alta renda para fornecer US$ 40 bilhões em financiamento de adaptação até 2025.
Desde 2017, cerca de metade de todos os apelos da ONU para apoio a desastres climáticos não foram atendidos, deixando os países com menos recursos com a tarefa de encontrar US$ 33 bilhões para se recuperar de enchentes, incêndios e outros eventos extremos. A análise da instituição de caridade internacional Oxfam também descobriu que para cada US$ 2 solicitados por um país que enfrenta uma catástrofe climática, eles receberam cerca de US$ 1.
O financiamento para os danos irreversíveis causados pelas mudanças climáticas – conhecidos e perdas e danos – está ganhando atenção, e espera-se que a questão receba um grande impulso por países de baixa e média renda e comunidades vulneráveis na COP27. Os países menos responsáveis pelas emissões históricas estão sofrendo o impacto das mudanças climáticas e querem que os países ricos façam restituição financeira.
Transições
Os sistemas de agricultura industrial são os principais emissores de gases de efeito estufa. Os sistemas alimentares em todo o mundo são responsáveis por 80% do desmatamento e 70% do uso de água doce, além de serem o maior impulsionador da perda de biodiversidade baseada na terra, segundo o mais recente relatório Global Land Outlook da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD).
A produção intensiva de culturas únicas e o desmatamento geram a maior parte das emissões de carbono associadas à mudança no uso da terra, enquanto os óxidos nitrosos do uso de fertilizantes e as emissões de metano do gado compõem “a maior e mais potente parcela” das emissões agrícolas de gases de efeito estufa, segundo a perspectiva.
Fim do combustível fóssil
A Agência Internacional de Energia (AIE) aponta, em seu relatório World Energy Outlook 2022 preparado para a COP27, que a “era de ouro do gás” acabou. A AIE afirma que políticas reforçadas, altos preços de curto prazo e preocupações com a segurança energética precipitariam o fim desta “era de ouro”, a agência admite que o gás fóssil permaneceria “crucial” em meio a fluxos de gasodutos mais baixos para a Europa e demanda de importação na Ásia. O documento também aponta que as reverberações da invasão da Ucrânia pela Rússia e o impacto duradouro nas políticas de energia de combustíveis fósseis levariam a demanda global por “todo combustível fóssil” a atingir o pico em 2025.
Fonte: SciDev.Net