Entidade aponta que três anos seguidos do fenômeno La Niña prolongaram situações extremas pelo mundo
O fenômeno La Niña durará três invernos consecutivos pela primeira vez neste século. Associado a um contexto de mudanças climáticas causada pela ação humana, isso vem contribuindo para agravar e prolongar situações extremas pelo mundo, de acordo com novo estudo da Organização Meteorológica Mundial (OMM). A entidade também publicou um relatório sobre a disponibilidade e fluxo da água em 2021. O documento mostra que cerca de 3,6 bilhões de pessoas têm acesso inadequado à água pelo menos um mês por ano. Este número deve chegar a mais de 5 bilhões em 2025. Os dois documentos foram lançados esta semana.
La Niña é normalmente associado a um clima mais frio do que o normal em todo o mundo, e deve durar até fevereiro ou março de 2023, final do inverno no Hemisfério Norte. O fenômeno geralmente tem efeitos opostos no clima aos do El Niño. Segundo a OMM, o La Niña continuará afetando os padrões de temperatura e precipitação e exacerbando secas e inundações em diferentes partes do mundo.
Conforme a OMM, as condições climáticas foram mais secas do que o normal este ano na Patagônia, América do Sul e sudoeste da América do Norte, assim como no leste da África. O Chifre da África sofre atualmente a seca mais longa e severa da história recente, preocupando a comunidade internacional. Por outro lado, o sul da África, norte da América do Sul, no continente marítimo e no leste da Austrália foi mais úmido do que o normal. Chuvas de monção mais intensas e mais longas no sudeste asiático estão associadas ao La Niña. O Paquistão, por exemplo, experimentou chuvas arrasadoras em julho e agosto.
Crise hídrica
Em seu primeiro Relatório Global sobre Recursos Hídricos, a entidade aponta que o mundo esteve mais seco do que o normal em 2021, impactando economias, ecossistemas e a vida da população. O documento “Estado dos Recursos Hídricos Globais 2021” fornece uma visão concisa da disponibilidade de água em diferentes partes do mundo.
Entre as áreas consideradas excepcionalmente secas estão a região do Rio da Prata, na América do Sul, afetada por uma estiagem persistente desde 2019. Na África, grandes rios como o Níger, Volta, Nilo e Congo tiveram fluxo de água abaixo da média em 2021. A mesma tendência foi observada em rios em partes da Rússia, Sibéria Ocidental e na Ásia Central. Por outro lado, houve volumes de rios acima do normal em algumas bacias da América do Norte, no norte da Amazônia e na África do Sul, assim como na bacia do rio Amur, na China, e no norte da Índia.
A área da bacia amazônica sofreu tanto inundações como secas em 2021. Durante a enchente, o nível da água na estação de Manaus no Brasil estava acima do limite, quebrando o recorde da cheia anterior de 2012.
O relatório destaca um problema básico: a falta de dados hidrológicos verificados acessíveis. Com uma nova política, a OMM quer acelerar a disponibilidade e o compartilhamento dessas informações, incluindo descargas fluviais e informações sobre bacias hidrográficas transfronteiriças.
A recente Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, COP27, no Egito, pediu aos governos que integrem ainda mais a água nos esforços de adaptação. Foi a primeira vez que a água foi mencionada em um documento final da COP em reconhecimento à sua importância.
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que tudo indica que os últimos oito anos sejam os mais quentes já registrados, com uma aceleração do aumento do nível do mar e do aquecimento dos oceanos. Segundo ele, a continuidade do La Niña prolonga as condições de seca e inundação nas regiões afetadas. “Os impactos das mudanças climáticas são frequentemente sentidos através da água, secas mais intensas e frequentes, inundações mais extremas, chuvas sazonais mais fortes e derretimento acelerado das geleiras, com efeitos em cascata nas economias, ecossistemas e todos os aspectos de nossas vidas diárias”, afirmou, no lançamento do relatório.
Com informações de ONU News