Cosmonauta russo veio ao Brasil após se tornar primeiro ser humano a viajar pelo espaço
Pouco mais de três meses após realizar o feito histórico de se tornar o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, Yuri Gagarin desembarcava no Brasil para uma visita que marcaria tanto a história da exploração espacial quanto as relações diplomáticas entre os dois países. A viagem do cosmonauta russo, que fazia parte da “Missão da Paz”, uma iniciativa que o levou a diversos países representando a União Soviética, ganhou grande destaque na imprensa brasileira. O sucesso da visita contribuiu para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética ainda em 1961.
O tour de Gagarin correu apenas três meses após o cosmonauta voar ao redor da Terra com sua Vostok 1, em abril de 1961. Naquela época, o Brasil não tinha relações diplomáticas com a União Soviética, mas a recepção calorosa de Gagarin no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília desempenhou um papel fundamental na aproximação entre os países. Multidões se aglomeraram nas ruas para ver o cosmonauta, que recebeu honrarias e condecorações ao longo de sua estadia. Sua visita ao Brasil foi um evento de destaque, cercado de multidões, paparazzi e políticos que aproveitaram o prestígio do cosmonauta russo. No entanto, também foi marcada por incidentes de repressão policial.
No Rio de Janeiro, Gagarin visitou a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Associação Brasileira de Imprensa e o Sindicato dos Metalúrgicos, além de se encontrar com celebridades, como o pintor Di Cavalcanti, o escritor Jorge Amado e a pioneira da aviação brasileira, Anésia Pinheiro Machado. Ainda se encontrou com diversos políticos na capital carioca, como o controverso Tenório Cavalcanti (UDN-RJ). (Figura 1)
Figura 1. O cosmonauta russo Yuri Gagarin é recebido por estudantes da UNE no Rio de Janeiro
(Foto: Acervo UH/ Folhapress. Reprodução)
Iuri Gagarin seguiu para São Paulo no dia 01 de agosto, onde uma enorme multidão tomou as ruas de Congonhas para receber o cosmonauta. Ele foi saudado pelo presidente do Instituto de Aeronáutica, Flávio Pereira, e pelo prefeito da cidade, Prestes Maia, que o condecorou com o diploma e a medalha “Pioneiro do cosmos”. À noite foi assistido por mais de 2 mil pessoas no ginásio do Ibirapuera, quando contou ao público paulistano sobre todos os passos de sua aventura a bordo da Vostok 1.
No dia 02 de agosto, Yuri Gagarin chegou a Brasília, onde foi recebido pelo presidente do Brasil, Jânio Quadros, que o condecorou com a ordem da Força Aérea Brasileira “Pelos méritos na esfera de navegação aérea”. (Figura 2)
Figura 2. O Presidente Jânio Quadros condecora o cosmonauta soviético Yúri A. Gagarin.
(Foto: Arquivo/ INPE. Reprodução)
A passagem de Gagarin pelo Brasil contribuiu para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o país sul-americano e a União Soviética, que se concretizou em dezembro de 1961. O cosmonauta russo deixou um legado de cooperação científica e diplomática, mostrando como a exploração espacial poderia ser um meio de aproximar nações em um contexto de Guerra Fria. Sua visita ao Brasil é lembrada como um marco na história das relações internacionais e da exploração espacial.
Yuri Gagarin
Yuri Alekseyevich Gagarin, nascido em 9 de março de 1935, na antiga União Soviética, foi escolhido como um dos 20 pilotos para o primeiro Programa Espacial Russo, e 16 de seus colegas o escolheram para ser o primeiro cosmonauta. Sua pequena estatura, apenas 1,58 metros, foi um dos fatores que o tornaram o escolhido, já que a cabine da espaçonave Vostok-1 tinha apenas dois metros de largura.
Gagarin não era um astronauta, mas um piloto da Força Aérea Soviética. Em 12 de abril de 1961, ele entrou para a história ao participar do primeiro voo orbital tripulado, dando uma volta ao redor da Terra em um tempo de 1h48. Quando avistou a Terra do espaço, ele proferiu a famosa frase: “A Terra é azul”. Durante a descida, Gagarin acionou o assento ejetável a apenas sete quilômetros do solo, terminando sua jornada com a ajuda de um paraquedas. Essa manobra era mantida em segredo na época, pois os soviéticos não queriam desqualificar a missão.