João Francisco de Azevedo criou o aparelho inspirado em um piano, mas não conseguiu patentear sua obra
Em 1861, na cidade de Recife, surgiu uma invenção pioneira, a máquina de escrever. O responsável por essa ideia revolucionária foi o padre João Francisco de Azevedo. Ele teve a brilhante ideia de adaptar um piano de 24 teclas para imprimir letras em papel, inaugurando um dispositivo mecanizado para a escrita. No entanto, anos depois, um modelo quase idêntico surgiu nos Estados Unidos e foi fabricado em larga escala pela empresa Remington, que adquiriu os direitos da invenção.
Batizada de máquina taquigráfica, o equipamento criado pelo religioso tinha 16 teclas, que, combinadas, davam origem aos demais sinais gráficos. Um pedal servia para mudar de linha. Em novembro de 1861, o padre paraibano viajou do Recife ao Rio de Janeiro para exibir sua invenção na Exposição Nacional. Apesar de ter sido premiada com uma medalha de ouro, a máquina não foi escolhida para representar o Brasil na Exposição Universal, em Londres. (Figura 1)
Figura 1. Máquina taquigráfica
(Arquivo. Divulgação)
Controvérsias
No entanto, a história da invenção é permeada por controvérsias. Miguel Sanches Neto, em seu romance “A Máquina de Madeira”, resgata a história verídica do padre Azevedo, que apresentou ao imperador a máquina taquigráfica, antecipando a invenção da máquina de escrever, anos antes da Remington.
Segundo o biógrafo Ataliba Nogueira, no livro “Um inventor brasileiro”, publicado em 1934, o projeto de Francisco João foi roubado por um agente de negócios norte-americano que teria passado os desenhos ao tipógrafo Christopher Lathan Sholes, também norte-americano, que aperfeiçoou o invento e foi reconhecido como o inventor da máquina de datilografia.
Durante sua pesquisa para o livro, Sanches Neto percorreu diversas cidades em busca de informações sobre o padre e sua invenção, revisitando o contexto histórico do Brasil do século 19. O autor reflete sobre a importância da inovação no país, destacando que o Brasil muitas vezes prioriza a produção de matéria-prima em detrimento da invenção e inovação.
Como em todas as grandes invenções, inúmeros países reivindicam a invenção da máquina de escrever. Além do Brasil e dos Estados Unidos, figuram na lista França, Inglaterra e Itália. Francisco João de Azevedo morreu em 1880 sem completar o sonho de patentear a máquina e transformar o Brasil num grande exportador do produto. Seu corpo foi enterrado no cemitério de João Pessoa. (Figura 2)