Instituições científicas da Amazônia brasileira alertam sobre redução e defasagem em seus orçamentos
A Amazônia reassume o protagonismo na agenda climática brasileira com o compromisso do governo de eliminar o desmatamento até 2030. Ao mesmo tempo, a América do Sul aguarda a possível realização da Conferência Mundial sobre o Clima da ONU (COP30) pela terceira vez, prevista para o final de 2025, em Belém, Brasil.
No entanto, as instituições de ensino e pesquisa na maior floresta tropical do mundo enfrentam desafios significativos, com orçamentos estagnados em níveis muito baixos e sem ajustes para a inflação há anos.
O Museu Paraense Emílio Goeldi, instituição de pesquisa pioneira na região amazônica em Belém, viu seu orçamento diminuir em mais de 10% nos últimos dois anos. Em 2024, essa alocação reduziu ainda mais, chegando a US$ 3,2 milhões, enquanto a inflação em 2023 atingiu 4,6%.
A situação também é crítica no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a terceira instituição que mais produz pesquisas sobre o bioma no mundo. Seu orçamento para despesas fixas caiu de quase US$ 7,6 milhões em 2022 para US$ 7,3 milhões em 2023, um valor inferior ao de 2017.
A Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, também teve seu orçamento reduzido para US$ 37,4 milhões em 2024, pouco mais de US$ 1 milhão a menos que em 2023. Enquanto isso, o orçamento da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, apresenta uma diferença de mais de US$ 26,7 milhões em 2023 em relação a 2019, sem correção para a inflação.
Distribuição desigual
Além dos valores dos orçamentos das instituições da região, a distribuição desigual de recursos para a pesquisa também é um desafio em destaque.
Um exemplo dessa disparidade foi revelado em um estudo publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation. Os pesquisadores analisaram a distribuição de recursos feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de financiamento à pesquisa vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Brasil, para projetos em áreas como botânica, zoologia, ecologia e limnologia.
Os resultados mostraram que os grupos de pesquisa da região receberam US$ 481,6 mil para cobrir os custos de suas atividades, enquanto os do sudeste receberam quase US$ 2 milhões no mesmo período, e os do sul, US$ 861,3 mil.
Essa disparidade persistiu na última convocação universal concluída no final de 2023, onde dos quase US$ 55 milhões investidos em projetos de todas as áreas e em todo o país, apenas US$ 2,2 milhões foram destinados às instituições da Amazônia.
Para enfrentar essa desigualdade, o MCTI lançou o programa “Mais Ciência na Amazônia”, que prevê um investimento de US$ 685 milhões entre 2024 e 2026 para infraestrutura de pesquisa e apoio à inovação em instituições dos estados da região.
A falta de recursos públicos para a pesquisa e a dificuldade em atrair e reter cientistas qualificados são problemas crônicos que afetam as instituições do norte do Brasil. Dos 2.744 pesquisadores de programas de pós-graduação em biodiversidade, apenas 329 estão nas instituições da Amazônia, destacando a necessidade de maior equidade e investimento nessas regiões.
Esses desafios ressaltam a importância de garantir financiamento adequado e distribuição justa de recursos para fortalecer a pesquisa científica na Amazônia e promover o desenvolvimento sustentável da região.
Com informações de SciDev.Net