Tecnologia utiliza bagaço de cana-de-açúcar para eliminar metais pesados da água e oferece uma solução para comunidades afetadas pela contaminação histórica.
Um dispositivo doméstico inovador, semelhante a um purificador de água, está mostrando ser uma solução eficaz e de baixo custo para remover metais tóxicos da água consumida pela população de Ouro Preto, cidade histórica localizada em Minas Gerais, o maior produtor de minério de ferro do Brasil. Desenvolvido com bagaço de cana-de-açúcar, o artefato é acoplado a torneiras ou filtros de cerâmica, conectando-se diretamente à tubulação de residências e proporcionando água mais segura.
A mineração, que remonta ao século XVII, deixou Ouro Preto com águas subterrâneas contaminadas por metais pesados como chumbo, ferro, manganês e arsênico. Estima-se que aproximadamente 75 mil habitantes da cidade estão expostos a esses riscos, principalmente em áreas onde o fornecimento de água tratada não alcança todas as casas. O arsênico, em particular, é altamente tóxico e difícil de remover com os métodos convencionais, como o uso de carvão ativado.
O dispositivo desenvolvido usa o bagaço de cana como adsorvente, ou seja, capaz de reter partículas contaminantes. Para aumentar sua eficácia, os cientistas modificaram a estrutura do material, adicionando moléculas orgânicas com afinidade química pelos metais pesados a serem eliminados. O resultado foi um sistema que, em testes de laboratório, removeu até 95% do arsênico presente na água.
Atualmente, o dispositivo já está em fase de transferência tecnológica e produção em escala comercial. A startup Aquaouro, criada para facilitar essa transição, espera fabricar de 50 a 200 unidades por mês na própria universidade. O objetivo é que o custo final por unidade não ultrapasse R$ 150,00, tornando o produto acessível para a maioria das famílias afetadas pela contaminação.
Apesar da eficiência do dispositivo, especialistas alertam para a necessidade de definir o destino correto do material filtrante após o uso, para evitar novos focos de poluição. O arsênico removido será encaminhado para empresas que produzem concreto mecanizado, uma solução considerada segura.
Desde que a concessionária Saneouro assumiu a distribuição de água em 2019, o fornecimento foi interrompido em algumas áreas, o que gerou protestos entre os moradores, que reivindicam a volta do controle público sobre o serviço. Além disso, a população se queixa das altas tarifas, que variam de R$ 300 a R$ 1.400, e da qualidade questionável da água fornecida.
A contaminação por metais pesados representa uma ameaça de longo prazo para a saúde, podendo causar danos ao fígado, rins, pele e sistema neurológico. Embora não haja dados oficiais sobre vítimas, relatos de moradores indicam uma possível correlação entre doenças e a qualidade da água consumida.
Enquanto o dispositivo de purificação de água oferece uma solução promissora para a contaminação, a população de Ouro Preto ainda enfrenta desafios relacionados à privatização e à falta de transparência no fornecimento de água, o que torna a busca por alternativas seguras e acessíveis uma questão urgente.
Com informações de SciDev.Net