Brasileiro Bartolomeu de Gusmão foi pioneiro na invenção de um aerostato para conquistar os céus
O sonho de voar talvez seja um dos mais antigos do homem. E o balão de ar quente foi uma das primeiras tentativas de tentar conquistar os céus. Registros históricos apontam experiências com balões de ar quente na China por volta de 220-280 d.C.
Em 1776, o cientista inglês Henry Cavendish descobriu várias propriedades do hidrogênio, incluindo sua baixa densidade. Um ano depois, Joseph Black sugeriu encher um balão leve com hidrogênio para demonstrar essa descoberta, mas não há registros se o experimento foi realizado. Na mesma época, o italiano Tiberius Cavallo usava hidrogênio para encher bolhas de sabão, demonstrando seu poder de suspensão. Finalmente, em 1783, os irmãos franceses Joseph Michel e Jacques Étienne Montgolfier fizeram uma demonstração pública de balões de ar quente, impressionando até a Academia de Paris. Os Montgolfier seguiram com testes, culminando no primeiro voo tripulado por humanos com o marquês D’Arlandes e Pilâtre de Rozier. (Figura 1)
Figura 1. Demonstração pública do primeiro voo do balão dos irmãos Montgolfier
(Fonte: Gravura na Biblioteca de Artes Decorativas, Paris)
Mas no meio desta história há a presença importante de um brasileiro da vila paulista de Santos: Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Ao examinar o comportamento de uma chama, Gusmão percebeu que o ar quente podia elevar pequenos objetos. Sem documentos históricos, é difícil saber como tudo aconteceu. Sabe-se que, no entanto, que em agosto de 1709 – ou seja, 74 anos antes da demonstração pública dos Montgolfier – o padre Bartolomeu de Gusmão, então com 24 anos, convocou a Corte portuguesa para conhecer seu mais novo experimento. O anúncio sobre a tal máquina de voar inquietou a sociedade lisboeta. O sacerdote recém-chegado do Brasil, onde já era conhecido como inventor, pretendia mostrar à família real, fidalgos e autoridades eclesiásticas do que era capaz a sua engenhoca batizada de “Passarola”.
Sua primeira tentativa, no entanto, acabou pegando fogo antes de alçar voo. O segundo ensaio ocorreu dois dias depois e teve mais sorte: o globo de menos de meio metro de comprimento subiu pouco mais de quatro metros. Porém, alguns criados do palácio, preocupados com a possibilidade do invento incendiar as cortinas, abateram o aeróstato antes que ele alcançasse o teto. A terceira tentativa reconheceu finalmente o mérito de Bartolomeu de Gusmão: dessa vez realizada no pátio do palácio, o balão ganhou os ares.
Ergueu-se lentamente perante o rei de Portugal, Dom João V, e a rainha, Dona Maria, indo cair no terreiro da casa real.
Genialidade
Além do balão de ar quente, o padre Bartolomeu Gusmão possuía outras invenções no currículo. Após mudar-se para a Capitania da Bahia para continuar seus estudos no Seminário de Belém, construiu uma bomba elevatória para transportar água do rio Paraguaçu até o colégio dos padres, que ficava a 100 metros do nível do mar. Esse invento fez de Gusmão o primeiro brasileiro a conseguir uma patente. Além do balão e da bomba elevatória de água, Bartolomeu de Gusmão inventou uma forma de drenar embarcações – a criação foi definida na época como um “processo para esgotar água sem gente, dos navios alagados”. Anos depois, na Holanda, ele também criou um sistema de lentes para assar carne ao sol. (Figura 2)
Figura 2. Padre Bartolomeu de Gusmão
(Fonte: Benedito Calixto, 1902/ Wikimedia Commons. Reprodução)
Foi só 74 anos depois da criação do padre brasileiro que um balão tripulado alcançou o céu com sucesso. Depois de seis anos de pesquisas e experiências, os irmãos Montgolfier conseguiram, em 4 de junho de 1783, na cidade de Annonay, voar dois quilômetros, a uma altitude máxima de 2 mil metros. Abriram, assim, as portas para os voos tripulados e uma nova era na história da aviação. Desde então, os balões evoluíram não apenas como veículos de entretenimento, mas também desempenharam papéis importantes na ciência, na guerra e nos esportes.