Confira entrevista com Priscila Rezende da Costa, coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica da ESPM
Com uma trajetória marcada pela produção científica e pela articulação entre universidade, empresas e governo, Priscila Rezende da Costa ocupa hoje um lugar de destaque no debate sobre inovação, empreendedorismo e transformação digital no Brasil e no exterior. Professora titular da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), atua no Programa de Pós-Graduação em Administração (mestrado, doutorado e pós-doutorado) e coordena o Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT ESPM) e o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT ESPM). Sua atuação transita entre múltiplas frentes: da cooperação internacional em pesquisa ao fortalecimento de ecossistemas empreendedores, passando pela edição de revistas científicas de impacto na área de gestão e inovação. “A chave está em orientar o conhecimento científico para problemas reais, promovendo inovação com impacto social efetivo”, defende. Priscila da Costa lidera discussões sobre temas como capacidades dinâmicas, redes tecnológicas e o papel da economia criativa no desenvolvimento sustentável. “Minha motivação sempre esteve ligada ao desejo de compreender como a inovação pode servir como motor de transformação econômica e social”, afirma. Nesta entrevista, ela compartilha sua visão sobre os desafios da inovação, as possibilidades de colaboração entre academia e mercado, e os caminhos para fortalecer a ciência e a gestão no país.
Ciência & Cultura – Sua trajetória acadêmica envolve temas como inovação, ecossistemas empreendedores e transformação digital. O que a motivou a seguir esse caminho e como foi consolidar sua presença em áreas historicamente dominadas por homens?
Priscila Rezende da Costa – Minha motivação sempre esteve ligada ao desejo de compreender como a inovação pode servir como motor de transformação econômica e social. Desde a graduação em Administração na UFLA até o doutorado na FEA-USP, busquei investigar como a cooperação tecnológica, os ecossistemas empreendedores e a transformação digital poderiam alavancar novos modelos de negócio e desenvolvimento sustentável. Consolidar minha presença em áreas historicamente masculinas significou não apenas conquistar espaço, mas também atuar como exemplo para outras mulheres. Essa trajetória exigiu resiliência, formação sólida e a capacidade de articular redes acadêmicas e institucionais que reconhecessem o valor da diversidade.
“Consolidar minha presença em áreas historicamente masculinas significou não apenas conquistar espaço, mas também atuar como exemplo para outras mulheres.”
C&C – Você coordena o Instituto de Ciência e Tecnologia da ESPM, além do Núcleo de Inovação Tecnológica. Como essas estruturas contribuem para aproximar a ciência da sociedade e impulsionar parcerias entre universidade, empresas e governo?
PRC – O Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) e o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da ESPM funcionam como plataformas de conexão entre a universidade e a sociedade. Por meio deles, fomentamos pesquisas aplicadas, parcerias com empresas e iniciativas com órgãos governamentais, promovendo uma ciência orientada a resultados concretos. Essas estruturas permitem que a produção científica seja convertida em soluções inovadoras e socialmente relevantes, além de impulsionar a formação de profissionais preparados para lidar com os desafios contemporâneos.
C&C – Você pesquisa cooperação universidade-empresa-governo, modelo conhecido como “tríplice hélice”. Quais os principais desafios e oportunidades para esse tipo de colaboração no contexto brasileiro atual?
PRC – O modelo de tríplice hélice enfrenta obstáculos como a burocracia regulatória, a falta de alinhamento de incentivos e a ainda limitada cultura de confiança entre academia e setor produtivo. No entanto, o Brasil tem um campo fértil de oportunidades: setores como agronegócio, energia e saúde apresentam grande potencial de inovação a partir da cooperação. Quando há governança adequada e clareza de papéis, esse modelo gera resultados que vão além da inovação tecnológica, alcançando também impactos sociais e ambientais.
“Essas estruturas permitem que a produção científica seja convertida em soluções inovadoras e socialmente relevantes.”
C&C – Em sua visão, como as capacidades dinâmicas e as rotas tecnológicas podem ser ferramentas para impulsionar a inovação com impacto social no Brasil?
PRC – Minhas pesquisas destacam como as capacidades dinâmicas — a habilidade de aprender, adaptar e reconfigurar recursos — e as rotas tecnológicas — os caminhos que orientam a evolução de tecnologias — podem ser aplicadas para reduzir desigualdades. No Brasil, essas ferramentas podem direcionar inovações em áreas críticas, como saúde pública, educação e energia limpa. A chave está em orientar o conhecimento científico para problemas reais, promovendo inovação com impacto social efetivo.
C&C – A transformação digital e a segurança da informação são temas cada vez mais estratégicos. Como equilibrar inovação tecnológica e responsabilidade ética nesses campos?
PRC – A transformação digital e a segurança da informação estão no centro da competitividade, mas também da responsabilidade ética. O equilíbrio depende de três dimensões: governança e regulação claras, para proteger dados e direitos; formação ética de profissionais, para que a inovação seja guiada por valores; e transparência nas organizações, para garantir que o avanço tecnológico não amplie desigualdades ou vulnerabilidades. O compromisso ético deve estar presente em todo o ciclo de inovação, da concepção à aplicação.
“Quando há governança adequada e clareza de papéis, a tríplice hélice gera resultados que vão além da inovação tecnológica, alcançando também impactos sociais e ambientais.”
C&C – Que conselhos você daria a jovens mulheres interessadas em ingressar na pesquisa acadêmica nas áreas de tecnologia, inovação e gestão, especialmente em posições de liderança?
PRC – Meu principal conselho é: acreditem na sua trajetória e construam redes de apoio. Nas áreas de inovação, tecnologia e gestão, ainda é preciso romper barreiras culturais e institucionais. Para isso, sugiro:
- Buscar constante formação e internacionalização, como fiz em projetos multicêntricos na América Latina e na Europa.
- Assumir posições de liderança em grupos de pesquisa e comitês, mesmo diante de resistências.
- Valorizar a interdisciplinaridade, pois é dela que surgem as inovações mais transformadoras.
- E, sobretudo, lembrar que ocupar espaços de destaque é também abrir caminho para outras mulheres.


