Com materiais reciclados, enredos ambientais e economia circular, o Carnaval de Belém se consolida como exemplo de festa consciente e engajada, oferecendo lições valiosas para a Conferência do Clima da ONU em 2025.
Poucos eventos conseguem mobilizar tantas pessoas, afetos e territórios quanto o Carnaval. Em Belém do Pará, essa mobilização ganha contornos ainda mais relevantes: blocos, escolas de samba e iniciativas culturais vêm transformando a maior festa popular brasileira em um verdadeiro laboratório de sustentabilidade. Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), marcada para novembro de 2025 na capital paraense, o Carnaval de Belém desponta como uma poderosa plataforma para pensar um futuro mais verde, inclusivo e culturalmente enraizado.
Mais do que folia, o Carnaval se tornou, nos últimos anos, uma vitrine de práticas sustentáveis. Em meio a serpentinas e batuques, agremiações carnavalescas adotam materiais recicláveis em fantasias e carros alegóricos, promovem a coleta seletiva e trazem, em seus enredos, temas ligados à crise climática, à proteção da Amazônia e à valorização dos saberes ancestrais. É o caso do projeto Carnaval Sustentável, da associação Escolas de Samba Associadas de Belém (ESA), que reúne 11 agremiações do grupo especial em ações educativas e de reaproveitamento criativo de materiais.

Figura 1: Agência Pará. Reprodução
Enredos verdes e identidade amazônica
No último desfile do grupo especial, realizado na Aldeia Amazônica, todas as escolas apresentaram um enredo único: Amazônia. A escolha dialoga diretamente com o momento histórico vivido pela cidade, que se prepara para sediar a COP30. Mas não é apenas o tema que importa — é a forma como ele é tratado. Alegorias feitas com materiais recicláveis, adereços confeccionados em mutirões comunitários e mensagens de alerta sobre o desmatamento e a valorização dos modos de vida tradicionais foram destaques nos desfiles de escolas como Mocidade Olariense, Rancho Não Posso Me Amofinar e Império Pedreirense.

Figura 2. Cristino Martins/ O Liberal. Reprodução
Economia circular e justiça social
Por trás dos desfiles coloridos há uma cadeia produtiva pulsante que movimenta artesãos, costureiras, pintores, ferreiros, vendedores ambulantes, catadores de materiais recicláveis e pequenos empreendedores. Ao reaproveitar materiais e estimular o consumo consciente, o Carnaval fortalece práticas de economia circular, gerando renda local e promovendo inclusão social.
“Ao reaproveitar materiais e estimular o consumo consciente, o Carnaval fortalece práticas de economia circular, gerando renda local e promovendo inclusão social.”
Programas como o Coleta Mais, em parceria com cooperativas de catadores, ampliam a coleta seletiva durante os eventos carnavalescos e transformam resíduos em recursos. Copos reutilizáveis são incentivados em blocos como o Circuito Mangueirosa, e a criatividade se alia à consciência ambiental na confecção de fantasias feitas com papelão, tecidos reaproveitados e garrafas PET.
Conexões com a COP30
A COP30 será o maior evento diplomático da história da Amazônia. E, paradoxalmente, o Carnaval — símbolo da irreverência popular — pode ajudar a inspirá-lo. A experiência de Belém com o Carnaval Sustentável oferece pistas sobre como integrar cultura, educação ambiental e justiça social às discussões climáticas de alto nível.
“O Carnaval de Belém é um laboratório vivo de sustentabilidade, onde a cultura popular ensina lições ambientais com brilho, batuque e criatividade.”
Entre as lições que o Carnaval pode oferecer à COP30 estão: Gestão participativa de resíduos, com protagonismo de cooperativas e catadores; Engajamento de múltiplos setores sociais, como escolas, ONGs, artistas e movimentos culturais; Produção com menor impacto, a partir de materiais reciclados e práticas de economia circular; Educação ambiental em larga escala, traduzida em linguagem acessível e envolvente; Promoção de um legado sustentável, que valorize a cultura local e as soluções comunitárias.
Uma cidade que se reinventa
Além das escolas de samba, blocos como o Boi de Máscara têm se destacado por levar temas ambientais às ruas, misturando arte performática, crítica social e referências aos mitos amazônicos. Eventos como o Carnaval em Janeiro, realizado pela ESA, reforçam a ideia de que sustentabilidade e diversão não são excludentes — pelo contrário, podem caminhar juntas e se fortalecer mutuamente.
Nesse contexto, a COP30 ganha uma aliada inusitada, mas poderosa: a cultura popular. Belém, cidade de rios e ritmos, pode mostrar ao mundo que um novo modelo de desenvolvimento é possível — e que ele passa também pela valorização da festa, do território e da criatividade de seu povo.
Capa. Divulgação


