A América Latina é uma das regiões com melhor representatividade feminina na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Science, Technology, Engineering and Mathematics — STEM) do mundo. Com o Caribe, as mulheres da região somam 46% no total de cientistas, superando os 33% referentes ao total mundial. Os dados são do relatório publicado recentemente pela Unesco, o British Council e o Cilac Forum. O objetivo do documento é refletir sobre a disparidade de gênero para apontar estratégias de ação e mostrar o que acontece com as mulheres ao longo de suas carreiras acadêmicas.
Apesar da aparente paridade de gênero, o documento ressalta que existe uma realidade oculta por trás dos números. Embora a participação feminina tenha aumentado, desigualdades persistem em vários países da região e em certos setores disciplinares, afetando o acesso a STEM e o reconhecimento do trabalho de mulheres, assim como a possibilidade de ascenderem a posições de liderança.
Em muitos países da região, as mulheres não chegam a 40% dos estudantes universitários em áreas relacionadas à engenharia, indústria, construção e tecnologia da informação. Enquanto Trinidade e Tobago, Venezuela, Uruguai, Brasil e Argentina já alcançaram a paridade, países como Peru e México têm apenas 30% de mulheres pesquisadoras.
Dificuldades persistentes
Segundo o relatório, existem vários e complexos fatores que levam a resultados desiguais para homens e mulheres em STEM. No nível educacional, há uma falta substancial de conscientização entre as gerações jovens sobre os potenciais dos estudos na área, reforçado pela falta de pedagogias, ferramentas e infraestruturas STEM sensíveis ao gênero que afetam a maioria das escolas e impactam nas capacidades dos professores para tornar os estudos mais interessantes. Além disso, preconceitos de gênero persistem ao longo dos ciclos profissionais e afetam o desenvolvimento da carreira de mulheres pesquisadoras e profissionais que trabalham em sistemas e empresas de P&D. Por fim, contextos econômicos, culturais, sociais e religiosos se cruzam nesses processos, gerando lacunas que podem se tornar crônicas e reforçar as diferenças econômicas e sociais.
O documento ainda ponta que as áreas STEM são importantes porque estão ligadas aos empregos do futuro, impulsionando a inovação, o bem-estar social, o crescimento inclusivo e desenvolvimento sustentável. Mas estima-se que apenas uma mulher consiga um emprego nas áreas de STEM para cada quatro homens, contribuindo para uma maior desigualdade econômica na sociedade. Apesar dos esforços para preencher as lacunas de gênero na área, ainda existem lacunas em diferentes níveis de educação e progressão na carreira em quase todos os países do mundo.