A relação intensa entre pai e filha deixou marcas definitivas na vida de Marília de Andrade, que tinha nove anos quando seu pai, Oswald de Andrade, morreu em 1954. Em uma longa conversa, a professora aposentado da Unicamp, que criou o curso de graduação em Dança da Universidade, traz um emocionado depoimento sobre os últimos anos da vida de Oswald, também revelados no livro “Diário confessional”, recém-publicado pela Companhia das Letras com material inédito, trazido a público mais de 70 anos após a morte do modernista. As anotações de Oswald em seu diário começaram em 1948, quando Marília tinha apenas três anos de idade. Somente agora ela leu os relatos e nos conta que precisou criar coragem para isso.
Feminista da linha de frente na década de 1970, período em que ela já trazia para o debate questões de identidade de gênero, Marília desenvolveu uma sólida carreira acadêmica e artística ao longo de sua vida. Primeiro como psicóloga social, área em que se tornou pesquisadora e fez PhD pela Columbia University; depois como coreógrafa e dançarina, profissão que lhe permitiu apresentar-se em palcos do mundo inteiro, a começar por “Kuarup”, com o Ballet Stagium. Especializou-se em Isadora Duncan, bailarina que também cruzou a vida do seu pai. Marília conta que se iniciou no ballet, aos 3 anos, com uma outra bailarina que marcou a vida de Oswald, como ele revela em seu diário.
Marília de Andrade é a única filha mulher e também a única viva de um total de quatro filhos. Ela é curadora da obra de Oswald, que continua sendo traduzida em todo o mundo. Estas e outras lembranças, como a que ela dançou na sala de sua casa para Villa-Lobos a pedido do seu pai, Marília compartilha conosco nesta edição do Ciência & Cultura Cast.