Na medida em que a escravização dos nativos era reprimida, a escravização dos negros da África se agravava. Assim, a situação foi sempre pior para os negros do que para os índios. A bem da verdade, isso já vinha dos tempos do infante D. Henrique, no início das Grandes Navegações. Foi ele quem introduziu o tráfico de escravos no Atlântico em 1441. Depois Portugal introduziu o tráfico de escravos nas Américas usando suas colônias em ilhas africanas do Atlântico como Cabo Verde (1460), São Tomé e Príncipe (1490), até então desabitadas, como pontos de ajuntamento de cativos e depósitos de mercadorias que chegavam ao litoral da Mauritânia (1445), a São Jorge das Minas (1482), perto de Elmina na atual Gana (entre parênteses, os anos de início). Esses negócios no litoral oriental africano eram lucrativos, pois curto-circuitavam a rota terrestre transaariana controlada pelos atravessadores muçulmanos.
Mas os interesses lusitanos se voltaram para o comércio mais lucrativo na Índia, pois em 1453, com a Queda de Constantinopla pelos turcos, caia a fonte de especiarias, sedas e outros bens luxuosos produzidos na Ásia e no Oriente Médio. O estabelecimento do Estado Português da Índia entre 1500 e 1515 marcou também lá o início do tráfico de escravos no Oceano Índico. Navios portugueses transportavam escravos de Moçambique para seus assentamentos na Índia como Damão, Diu e Goa, e, finalmente, até Macau na China e Nagasaki no Japão.
Portanto, quando o tráfico começou no Brasil, Portugal já tinha know-how de pelo menos um século!
O Brasil se tornava o maior produtor de açúcar do mundo. Já estava em vigor o sistema da plantation, caracterizado por vastas áreas cultivadas de um único dono, o senhor de engenho; produção monocultural visando ao comércio exterior, sem preocupação com a subsistência da população local e utilização de mão de obra escrava africana. Escravos africanos foram utilizados como mão de obra substitutiva dos índios e, se não houve bula papal para defender a liberdade dos negros como era defendida a dos indígenas, flancos foram deixados abertos permitindo que eles fossem escravizados sob a justificação absurda de que o tráfico salvava almas condenadas ao paganismo e era necessária para o desenvolvimento do Brasil.
Quando mais tarde os holandeses, não católicos, mas calvinistas, sob o governo de Nassau, um humanista calvinista, permitiram a escravização de africanos e inclusive promoveram conquistas na África para aumentá-la, o argumento foi, de novo, a necessidade.