Análise cartográfica do Mapa das Cortes

Para esta análise cartográfica [1] foi utilizada uma versão manuscrita de 1737, pois a de 1749 sofreu modificações. A análise foi da precisão das coordenadas e levou em conta mapas que serviram de fontes, assim como documentos da época. O mapa não cobre os Sete Povos das Missões, nem se sabe sobre os autores dos mapas que serviram como fontes.

Já vimos La Condamine participando da expedição geodésica franco-espanhola em 1735 perto de Quito, percorrendo depois o rio Amazonas. La Condamine pretendeu ser o autor do mais perfeito traçado desse rio até então: Carte de cours du Maragnon ou de la grande rivière des Amazones (1744). La Condamine forneceu os dados e D’Anville desenhou.   Mas o próprio La Condamine declarou que, além de seus dados recolheu mapas, documentos e relatos de missionários e viajantes, daí a dificuldade para se identificar os autores primários. A parte amazônica aparece no Mapa das Cortes. Nele, considerando-se os escritos de D’Anville, constata-se que foram utilizadas as longitudes da carta de La Condamine. Latitude e longitude para locais selecionados foram analisadas estatisticamente na Carte du Maragnon de La Condamine e no Mapa dos confins do Brazil de D’Anville e comparados. No mapa de D’Anville notou-se que os erros de longitude que, na média, são de 1,2º, na América espanhola são menores do que na América portuguesa, o que pode ser explicado pelas observações mais precisas da comissão geodésica franco-espanhola. Também se notou que na América Portuguesa há um encurtamento de 3º do rio Amazonas entre Belém e o rio Javari. A análise revela que há erros intencionais de latitude e longitude para dar impressão aos espanhois de que os portugueses tinham avançado menos do que tinham feito, o que facilitaria a cessão pelos espanhois da região dos Sete Povos.

Foram feitos dois originais idênticos, um para a Espanha e outro para Portugal. O último foi encontrado pelo Barão do Rio Branco em Paris. Após a assinatura do Tratado de Madri, a partir dos mapas originais foram feitas em 1751, três cópias em Lisboa e enviadas a Madri e outras três em Madri e enviadas para Lisboa. Atualmente as três cópias feitas em Lisboa pertencem à Mapoteca do Itamaraty e uma das cópias feita em Madri encontra-se na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.


Notas
[1] Cintra, Jorge Pimentel, O Mapa das Cortes: perspectivas cartográficas, Anais do Museu Paulista, 17, 2, 63-77, 2009.
http://old.scielo.br/pdf/anaismp/v17n2/05.pdf
Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente tem se dedicado à História da Astronomia no Brasil.
Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente…
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