A vida do jovem cientista no Brasil é atraente?
Corte de bolsas, poucas oportunidades, muito trabalho. Afinal, a vida do jovem cientista no Brasil vale a pena? Para falar dos desafios da carreira científica, em suas diversas áreas, o Ciência & Cultura Cast conversou com três pesquisadores engajados no tema: Sofia Daher, assessora técnica e analista de Ciência e Tecnologia, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); Jaqueline Mesquita, professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB); e Vinícius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), gestão 2022-2024.
Desde 1996, o CGEE estuda a formação de mestres e doutores e sua empregabilidade. Segundo Daher, com a crise que se aprofundou desde 2014 no Brasil, o número de pós-graduados sofreu uma redução, segundo dados de 2009 a 2017. Porém, ao mesmo tempo, houve um aumento na absorção pelo mercado de trabalho, ou seja, o número de pessoas empregadas cresceu e a taxa foi maior que entre pessoas sem qualificação. “Para termos dados mais claros sobre o impacto da pandemia, precisamos do levantamento de 2018 a 2022”, diz. Em sua visão, o Brasil tem hoje uma formação persistente de mestres e doutores, o que contribuiu para fortalecer o sistema que passou por vários governos. Sistema este que precisa ser revisitado e reavaliado com frequência, face à importância dos jovens cientistas para o desenvolvimento do país, conclui a pesquisadora.
Para Mesquita, os desafios da carreira científica passam por ingresso, permanência, conclusão e empregabilidade. Ela lembra que há muito tempo não há reajuste nas bolsas de estudos e os concursos para carreiras acadêmico-científicas também têm atraído cada vez menos candidatos. A pesquisadora participa do estudo do Perfil dos Pesquisadores Brasileiros em Início e Meio de Carreira, realizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e com o projeto Parent in Science. O objetivo deste mapeamento com mais de quatro mil entrevistados é revelar quais os desafios que o jovem cientista enfrenta, considerando as diferenças regionais, raciais e econômicas do País. O survey deve gerar subsídios para a criação de políticas públicas.
Já Soares destaca uma das questões que considera mais importante neste contexto: Como atrair novos talentos, visto que a juventude não tem visto boas perspectivas na pós-graduação diante dos baixos valores das bolsas de pesquisa? “Muitas vezes a gente vai fazer a escolha de como colocar o pão na mesa”. Além dos baixos valores das bolsas, Vinícius também fala da falta de direitos trabalhistas, “apesar de já sermos profissionais”. Soma-se a isso as questões da permanência e da saúde mental. “No mundo inteiro, os pós-graduandos têm 60% mais chances de ter problemas psicológicos.” Em uma frase que já virou piada, o presidente da ANPG resume o cenário dos últimos anos para os pós-graduandos: “Tudo mudou no mundo desde 2013, até o Papa – menos as bolsas.”
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