Diferentes países da região conseguiram restaurar fósseis e peças de valor histórico. Padrão é positivo, mas ainda insuficiente.
O Ubirajara jubatus voltou. O fóssil de dinossauro brasileiro foi retirado da região do Cariri cearense de maneira irregular em 1995 e estava no Museu Estadual de História Natural da cidade de Karlsruhe, na Alemanha. Seu retorno ao Brasil foi marcado pela luta da comunidade científica nacional, através de intensa campanha na mídia e nas redes sociais, e o Ubirajara jubatus acabou se tornando um símbolo do esforço brasileiro para recuperar peças históricas contrabandeados para o exterior.
O dinossauro sul-americano, que possui as evidências mais antigas de possuir estruturas semelhantes a penas, tem sido um gatilho para que o Brasil e outros países latino-americanos ganhem maior força internacional para recuperar peças de seu passado retirados clandestinamente de seus territórios. O caso deu início a um novo processo de repatriação de 45 fósseis que serão devolvidos ao Brasil pelo governo francês e se soma a outro processo de restituição de mais de 998 fósseis, todos extraídos ilegalmente da bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, no Nordeste do país.
Essas conquistas serviram também para denunciar publicamente o chamado colonialismo na ciência. O colonialismo paleontológico é a prática na qual pesquisadores de um país roubam um recurso de outro – no caso um fóssil –o levam para seu próprio país, estudam, publicam, e divulgam sem a participação de pesquisadores do país de origem. A prática era vista como “normalizada” até a década de 1990 ou início dos anos 2000, mas nas últimas décadas a comunidade científica começou a se posicionar contra ela.
Repatriação
O México também teve repatriações bem-sucedidas: desde 2018 conseguiu restaurar quase 12 mil peças arqueológicas, históricas e etnográficas que estavam fora do país. Uma dessas peças, o Monumento Chalcatzingo 9, também conhecido como “Portal para o submundo”, foi devolvido ao México este ano pelos Estados Unidos, após uma espera de mais de 50 anos.
Outro exemplo aconteceu na Argentina em maio de 2021, quando a França concordou em devolver os restos mortais do chefe indígena tehuelche Liempichún Sakamata que estavam no Museu do Homem em Paris. Seu túmulo foi profanado em 1896 por um conde francês que enviou esses restos mortais para seu país em 1897 junto com mais de 1.400 objetos.
Patrimônio da humanidade
Apesar da luta estar rendendo frutos positivos, eles ainda são insuficientes. Ainda é preciso muito esforço e negociação da comunidade científica para reaver suas peças históricas – o que é dificultado ainda mais quando elas são consideradas “patrimônio da humanidade”. Países como a Inglaterra e a França ainda relutam em devolver essas peças (fósseis e até restos mortais) devido a argumentos baseados no fato de serem patrimônio da humanidade, afirmando que sua conservação, cuidado e exibição devem continuar sendo realizados por esses países.
O repatriamento mostra que o colonialismo científico ainda ocorre em diversas formas. Por isso é importante que retornem seus países de origem para promover o desenvolvimento científico nacional e regional.
Com informações de SciDev.Net