Bioma Pantanal

Da complexidade do ecossistema à conservação, restauração e bioeconomia

Resumo

O Pantanal é um bioma amplamente conhecido por ser a maior planície inundável do mundo, mais do que isso é um mosaico contendo áreas inundáveis e não inundáveis, floresta decidual, savana (cerrado), florestas ripárias, pastagens, áreas temporárias, áreas permanentemente aquáticas e com formações monodominantes características. É um reservatório de biodiversidade com organismos adaptados aos ciclos de seca, cheia e fogo, requerendo atenção especial para sua conservação e restauração, ainda mais com os desmatamentos e incêndios catastróficos que recentemente ocorreram. Essa região também possui populações indígenas e tradicionais, que detêm inclusive conhecimentos ancestrais sobre a biodiversidade da região e precisam ser incluídas nos planejamentos para a conservação e restauração desse bioma.

Introdução

O Pantanal é um bioma com uma área de aproximadamente 179.300 km2 com ocorrência no Brasil (78%), Bolívia (18%) e Paraguai (4%). No Brasil, ocorre nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo que este último concentra 65% da área brasileira.[1]

Os ecossistemas no Pantanal são conectados e usualmente moldados por efeitos antropogênicos e ações naturais. Uma característica marcante deste bioma são as estações bem definidas e caracterizadas por seca e chuva, sendo marcado pelo pulso de enchentes, o que influencia as comunidades do ecossistema e a ciclagem de nutrientes (Figura 1).[2] Recentemente, o Pantanal tem sido destaque devido aos frequentes incêndios de grandes proporções associados às mudanças climáticas como a redução das chuvas, da umidade relativa e as altas temperaturas, além de também sofrer com ações relacionadas à prática da pecuária.[3]


Figura 1. O Pantanal possui áreas inundáveis extensas que durante a seca não ficam submersas e áreas com queimadas recorrentes, apresentando espécies de plantas resistentes a essas condições extremas do bioma.
(Foto: Geraldo Alves Damasceno Junior)

 

A biodiversidade do Pantanal é marcada por mais de 2.000 espécies de plantas, 131 répteis, 271 peixes, 57 anfíbios, 580 aves, 174 mamíferos e inúmeros invertebrados e microrganismos que merecem destaque por serem escassamente catalogados.[2,4] Além dessas espécies, ainda há muito para se descobrir e explorar no Pantanal, uma vez que são poucos os estudos, principalmente relacionados aos processos e funções, dificultados pelo acesso em algumas áreas e perdas continuamente relacionadas aos incêndios e desmatamentos.

Apesar de conter poucas plantas endêmicas, o Pantanal é um mosaico com áreas inundáveis e não inundáveis, floresta decidual, savana (cerrado), florestas ripárias, pastagens, além de áreas temporárias, áreas permanentemente aquáticas e com formações monodominantes.[4] Essa formação observada no Pantanal, juntamente com a alternância dos ciclos de seca e chuva, é um interessante alvo para estudos de fenômenos ecológicos, incluindo a movimentação dos animais e a adaptação das espécies a toda essa dinâmica de fatores bióticos e abióticos pertinentes ao bioma.

Nas diversas paisagens, desde a planície até as áreas de morraria (Figuras 1 e 2), há populações humanas que vivem em comunidades indígenas, tradicionais ou em propriedades privadas, como as grandes fazendas de gado bovino. Moradores de diversas cidades e comunidades rurais, como as localizadas ao longo do rio Paraguai, o principal coletor de águas do Pantanal, ainda mantêm conhecimentos ancestrais sobre a biodiversidade, apesar de mudanças acentuadas nas últimas décadas no contexto ambiental, social, econômico e cultural.[5] Assim, as demandas relacionadas à conservação do Pantanal devem incluir a preservação do patrimônio biocultural, incluindo tanto à conservação da biodiversidade quanto à manutenção das populações humanas e seus modos de vida. Fazem parte dos seus sistemas de conhecimentos tradicionais o hábito de tomar tereré, de fazer artesanato, extrativismo de plantas para fins medicinais, alimentícios e construção, caça, pesca e cultivo em roças e quintais.


Figura 2. Pantanal possui áreas de morraria (Serra do Amolar), além das extensas planícies
(Foto: Geraldo Alves Damasceno Junior)

 

Em meados da década de 1990, foram criadas Unidades de Conservação (UCs) como as Reservas do Patrimônio Cultural na borda oeste do Pantanal, por exemplo. Entretanto, a implementação dessas UCs adotou um modelo de exclusão das populações humanas,[6,7] contrariando recomendações como as do Programa “O Homem e a Biosfera” da UNESCO.[6] A perspectiva da conservação biocultural, deve estar contemplada, portanto, nas políticas públicas, que devem considerar aspectos sociais e culturais das populações humanas.

 

O Pantanal e o fogo

O Pantanal, localizado em uma zona climática com intensa influência da sazonalidade, apresenta uma estação seca (de julho a outubro) e uma chuvosa (de novembro a março) com chuvas anuais ao redor de 1.000 mm. Também está sujeito a inundações de pulso monomodal causadas pelo transbordamento dos seus principais rios logo ao final da estação chuvosa.[8,9] No meio da estação seca, que em geral coincide com a fase terrestre do pulso de inundação, existe uma janela onde a biomassa vegetal acumulada no período de chuvas pode ficar disponível para queima, caso haja ignição.[10] Na área de inundação do Rio Paraguai, parte oeste do Pantanal, a inundação ocorre com um atraso em relação ao período chuvoso das cabeceiras do rio. Isso acontece devido à topografia plana da região, fazendo com que essas águas levem cerca de três meses para alcançar a área de inundação.[8] Assim, o pico da inundação na região ocorre no meio da estação seca, o que diminui as possibilidades de ocorrência de fogo em anos de cheia normal do Pantanal. Portanto, os eventos de fogo nessa região são mais comuns nos anos em que o rio Paraguai não transborda.[10]

 

“Recentemente, o Pantanal tem sido destaque devido aos frequentes incêndios de grandes proporções associados às mudanças climáticas como a redução das chuvas, da umidade relativa e as altas temperaturas, além de também sofrer com ações relacionadas à prática da pecuária.”

 

Vale ressaltar que o Pantanal é uma região dependente do fogo e este faz parte da paisagem,[11] existindo neste local antes dos registros mais antigos da presença humana na área Pantaneira.[10] Alguns tipos de vegetação são bastante associados ao fogo, como as formações monodominantes de Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f ex S. Moore (Bignoniaceae), conhecidas localmente como paratudais com sua ocorrência associada a alta frequência de fogo e altos níveis de inundação.[12] A palmeira Attalea phalerata Mart. ex Spreng (Arecaceae) também se beneficia de ambientes com registro de fogo recorrente e com algum nível de inundação.[13] Até as matas ciliares no Pantanal são resistentes a fogo de baixa intensidade, apresentando efeitos como perda de riqueza e número de árvores nas bordas mais baixas que ficam em transição com os campos inundáveis. Entretanto, o fogo de alta intensidade pode ter efeito catastrófico como o ocorrido nos eventos de incêndios registrados em 2020.[14]

No geral, cerca de apenas 1% do fogo no Pantanal é oriundo de causas como raios, e a maioria dos eventos de fogo são causados pelo manejo realizado por fazendeiros da região.[15] A principal atividade econômica nesse bioma é a criação de gado de corte com uso de pasto nativo.[2] Entretanto, como as espécies forrageiras tendem a ficar fibrosas com o tempo, há necessidade de queimar para que as folhas fiquem mais palatáveis para o gado.[10] Essa prática, associada à presença de biomassa vegetal acumulada e ao período de estiagem, podem resultar em incêndios.

Portanto, o desafio enfrentado pela ciência e pelos atores que vivem na região é manter a prática de uso das pastagens nativas, que conservam a flora local, empregando o fogo como instrumento de manejo, mantendo baixa emissão de carbono e com impacto mínimo para a flora e fauna locais. Nesse sentido, é importante que se inclua o Manejo integrado do fogo como ferramenta nas fazendas e unidades de conservação a fim de se evitar incêndios catastróficos e contribuir para a conservação dos recursos naturais da região.

 

A química contida na biodiversidade do Pantanal

O Pantanal é considerado um reservatório de biodiversidade, contendo organismos altamente adaptados a condições estressantes como fogo, inundação e seca. Neste contexto, as plantas e microrganismos, por exemplo, produzem um poderoso arsenal químico para sobrevirem a essas condições e tais substâncias podem se tornar promissores alvos na busca de compostos de interesse para o desenvolvimento de produtos, ativos para o combate a doenças e compreensão de fenômenos ecológicos.[16] Desta maneira, o Pantanal é um valioso alvo de estudos, uma vez que carrega diversas informações químicas únicas para que seus organismos possam sobreviver às suas condições drásticas, o que ressalta a necessidade urgente de medidas para a sua conservação.

Como já abordamos no tópico sobre a relação do fogo com as espécies do Pantanal, destacamos o ipê amarelo, T. aurea, conhecido na região como paratudo que apresenta ocorrência em formações monodominantes (paratudais) (Figura 3). O ipê amarelo tem uma grande importância para as comunidades tradicionais e ribeirinhos que costumam utilizar as suas amargas cascas para os tratamentos de picada de cobra e da dor. Estudos comprovaram que suas cascas é um poderoso agente anti-inflamatório, analgésico e promove redução dos danos causados por veneno de cobra em estudos com animais. A principal substância encontrada em grande quantidade em suas cascas do caule é o iridóide especiosídeo (Figura 3), podendo este ser um potencial alvo para desenvolvimento de fármacos e produtos, já que sua elevada produção e acúmulo na espécie facilita sua obtenção.[17,18]


Figura 3. Formações monodominantes do Pantanal com a espécie Tabebuia aurea (ipê amarelo) e em destaque suas flores e estrutura do iridoide especiosídeo presente nas cascas do caule desta espécie
(Foto: Geraldo Alves Damasceno Junior)

 

A canjiqueira, Byrsonima cydoniifolia A. Juss, é também uma espécie que ocorre no Pantanal como uma formação monodominante (canjiqueiral). Seus frutos são utilizados pela comunidade para o consumo in natura e produção de sucos, geleias, licores e sorvetes. Esses frutos apresentam potente atividade anti-inflamatória e alto valor nutracêutico devido a elevada concentração de um estilbenoide trans-piceatannol, podendo ser uma fonte para esse composto, o qual é reconhecido pelos benefícios à saúde humana e ocorre também em uva e frutas vermelhas.[19]

O Pantanal também possui uma imensa biodiversidade de microrganismos ainda escassamente conhecida e explorada, incluindo os denominados de endófitos, que são microrganismos que colonizam o interior das plantas sem causar prejuízos a elas. Esses endófitos do Pantanal são raramente estudados, mas são alvos importantes para o desenvolvimento de estratégias na busca de novos fármacos e bioprodutos para as mais diversas áreas como agricultura, pecuária e alimentícia.[20] Um exemplo da relevância dos microrganismos do Pantanal para a ciência e bioeconomia é a startup Arandu Biotecnologia Ltda. que foi recentemente fundada e está incubada na Pantanal Incubadora Mista de Empresas (PIME) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Essa startup desenvolve corantes naturais sustentáveis para o mercado a partir de microrganismos do Pantanal e, dentre seus produtos em desenvolvimento, possui um corante natural vermelho a ser lançado no mercado e passível de substituir o vermelho de cochonilha (vermelho carmim) que é amplamente usado na produção iogurtes, xaropes, embutidos, doces e sucos, mas que o Brasil importa do Peru esse corante, o qual é produzido a partir de um inseto praga agrícola, a cochonilha.[21]

 

Sistemas de produção com base na biodiversidade

A permanência da pecuária de corte como a principal atividade econômica depende da eficiência produtiva associada à conservação da biodiversidade presente nas diferentes paisagens da região, além da qualidade de vida da população local. Como o Pantanal possui restrições à agricultura convencional devido às inundações periódicas, solos de baixa fertilidade, dificuldade de acesso, entre outras, é de fundamental importância buscar estratégias de uso sustentável da região. O Pantanal possui 2.250 espécies de fanerógamas, cujas principais famílias são as leguminosas (240 espécies), gramíneas (212 espécies) e ciperáceas (92 espécies).[4] As gramíneas, que consistem no principal componente da dieta de bovino,[22] estão presentes nos ecossistemas abertos como campo limpo, campo cerrado, vazantes e bordas de lagoas, o que torna a região com aptidão natural para a criação extensiva de gado de corte.[23]

 

“As demandas relacionadas à conservação do Pantanal devem incluir a preservação do patrimônio biocultural, incluindo tanto à conservação da biodiversidade quanto à manutenção das populações humanas e seus modos de vida.”

 

O estabelecimento de sistemas de produção multifuncionais com a criação de gado de corte associado com a diversificação da produção, uso sustentável de recursos naturais aliado com a conservação dos serviços ecossistêmicos pode ser a opção mais sustentável para a região,[24] assegurando a conservação das paisagens e da biodiversidade da região. Porém, cada propriedade tem um limite de produtividade da pecuária variável em função do grau de inundação e da composição das paisagens, em especial das áreas campestres dominadas por forrageiras nativas.[24,25]

 

Restauração do Pantanal

O Pantanal é o bioma com maiores lacunas de conhecimento a respeito de sua restauração[26] e ainda sem políticas de incentivo para tal como os Programas para Pagamentos por Serviços Ambientais.[27] Segundo o Plano Nacional de Vegetação Nativa (Planaveg 2017), o déficit legal no Pantanal é de 50 mil hectares que legalmente devem ser restaurados. Apesar desse valor parecer pequeno, perante os demais biomas, devido à complexidade de sua dinâmica sazonal, com grandes variações nos seus níveis de inundação, é grande a dificuldade de recuperação dos seus ecossistemas e estratégias de conservação devem ser prioritárias nas políticas públicas para a manutenção dos ecossistemas remanescentes.[28] Ou seja, antes de focar na restauração ativa ou passiva, a conservação do que existe é uma prioridade.

Desse modo, a conversão aumentando recentemente e em ritmo acelerado do bioma[26] e a introdução de grandes matrizes plantadas de pasto com uso de espécies de gramíneas invasoras será um problema a médio e longo prazo, tanto para a conservação, devido ao potencial invasor das mesmas sobre em áreas naturais e áreas protegidas (Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente), quanto para a restauração, devido à dificuldade e alto custo de controle dessas plantas. O controle da expansão das gramíneas exóticas, especificamente as braquiárias, possui alto custo, porém deve ser constante. Esse capim exótico, principalmente a braquiária, tem sido um grande problema para restaurar o Pantanal, a fim de reestabelecer os processos ecológicos e a biodiversidade, uma vez que experiências prévias demonstram que intervenções de restauração ativa não têm tido sucesso devido ao efeito da competição com as gramíneas exóticas.[29,30] Ou seja, uma vez introduzidas, estas espécies invasoras só sairão do sistema com muito investimento financeiro (uso de herbicidas, roçagens mecânicas permanentes e de longo prazo). O nível de invasão por gramíneas exóticas pode afetar o potencial de regeneração, mesmo em áreas que estejam perto de fontes de sementes. Vale ressaltar que existem relatos de áreas que podem levar até 30 anos para recuperar a vegetação nativa, mesmo com alto potencial de resiliência.[29]

 

“Os conhecimentos tradicionais e os científicos andam lado a lado e se complementam para estudarmos a biodiversidade e a sociedade.”

 

Por outro lado, é urgente a restauração das nascentes que abastecem a planície pantaneira, mas que nascem no planalto (compreendendo o Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia) que é adjacente e sofrem grande pressão por serem de uso para agropecuária. Além disso, áreas remotas que, por exemplo, possam ter sofrido degradação por incêndios severos podem receber como estratégia de restauração o enriquecimento com espécies mais sensíveis que possam ter saído do sistema devido a estes incêndios recentes, sendo ideal que estas estratégias sejam implantadas em áreas prioritárias. Entretanto, devido à dificuldade de acesso às áreas remotas, técnicas de restauração que não necessitem de infraestrutura (ex. produção e transporte de mudas do viveiro) serão preferíveis.[31] A exemplo da técnica de transplante de plântulas provenientes da regeneração natural com uso de proteção anti-herbivoria individual (cercas em cada muda para evitar os grandes mamíferos).[29] Ademais, sempre atentando para escolha de espécies resistentes à inundação quando a implantação for feita em áreas alagadas sazonalmente.[32] Por fim, para alavancar a cadeia da restauração com diversidade genética, redes de sementes e de produção de mudas poderão gerar renda e oportunidades para as pessoas que diretamente dependem da natureza, tais como comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e povos originários do Pantanal.

 

Conhecimento Tradicional sobre Plantas Alimentícias nativas

Os conhecimentos tradicionais e os científicos andam lado a lado e se complementam para estudarmos a biodiversidade e a sociedade. Estudos etnobotânicos realizados ao longo do rio Paraguai, identificaram cerca de 70 espécies alimentícias nativas que fazem parte da cultura das populações humanas, incluindo o município de Corumbá e de Porto Murtinho.[33, 34] Estas espécies representam apenas uma parcela das 217 espécies alimentícias nativas usadas ou com potencial de uso no Pantanal.[35] Nesse trabalho, foram identificadas espécies com usos na literatura, citadas como parte da cultura dos Guató, dos Terena e dos Bororo, entre outros que ainda vivem no Pantanal e por povos indígenas extintos, mas cujos dados da literatura indicam os usos das plantas no passado. Diversas dessas espécies, com consagrado uso popular ao longo de numerosas gerações, têm um rico valor nutricional e podem representar uma excelente fonte de vitaminas, minerais e outros elementos importantes para a dieta.[34]

Apesar do potencial alimentício das plantas do Pantanal, elas ainda são pouco conhecidas pelas pessoas que vivem nas cidades com pequena inserção nos mercados. Fora desse domínio cultural, elas têm sido chamadas de “Plantas Alimentícias não Convencionais” (PANC),[36] cujo termo tem sido associado a um movimento em prol do uso tanto das espécies nativas quanto das exóticas (introduzidas no Brasil) não convencionais na dieta. Mesmo se tratando de plantas nativas com valor cultural nas comunidades indígenas e tradicionais, há espécies que foram importantes no passado e que têm sido abandonadas, passando por um processo de erosão dos conhecimentos tradicionais. Esse é o caso das espécies de arroz nativo (Oryza latifolia Desv. e O. glumaepatula Steud.) (Figura 4).[33]


Figura 4. Colheita de arroz do pantanal. Parte da Oficina do programa Sabores realizada na Escola Estadual Indígena João Quirino de Carvalho – Toghopanãa, localizada na Aldeia Uberaba em Corumbá- MS – comunidade indígena Guató.
(Foto: Ieda Maria Bortolotto)

 

Nos municípios do Pantanal, com exceção da farinha de bocaiuva (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart.) que é comercializada há mais de 30 anos na casa do Artesão de Corumbá, poucos frutos e produtos tradicionais tinham inclusão nos mercados ou feiras até meados da década de 1990. Considerando essa situação, juntamente com o processo de perda de conhecimentos tradicionais e busca por alternativas de renda nas comunidades, foi desenvolvido um Programa de Extensão visando a valorização das plantas alimentícias nativas, a sua conservação e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, iniciado em 2006.[37]

Com o envolvimento e parceria de diversas comunidades, houve o estímulo ao aproveitamento de espécies com valor cultural ainda em uso e de espécies que estavam sendo abandonadas. As atividades, ainda em andamento (veja sabores.ufms.br), têm sido desenvolvidas nas comunidades, escolas e hotéis. Atualmente há várias instituições governamentais e não governamentais que incentivam o aproveitamento de espécies alimentícias nativas no Pantanal. Da mesma forma, as comunidades estão se organizando e tomando para si esta responsabilidade de desenvolver atividades nesta linha com grande envolvimento de mulheres.[38]

Em relação à conservação das espécies, ainda há muitos desafios. Espécies como o acuri (A. phalerata) e a canjiqueira (B. cydoniifolia.), que têm populações numerosas, fornecem toneladas de frutos ao ano, ainda são consideradas invasoras de pastagens.[35] Associado a isso, os incêndios no Pantanal nos últimos anos danificaram boa parte da flora nativa, tornando os alimentos do local menos disponíveis tanto para a dieta humana quanto para a fauna silvestre. Os trabalhos de pesquisa e extensão continuam em desenvolvimento, buscando fortalecer tanto as comunidades, quanto a cultura local e os produtos que geram renda e movimentam a bioeconomia.

 

Capa. O Pantanal é um mosaico contendo áreas inundáveis e não inundáveis, floresta decidual, savana, florestas ripárias, pastagens, áreas temporárias e áreas permanentemente aquáticas
(Foto: Jairmoreirafotografia. Reprodução)

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Denise Brentan Silva é professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (FACFAN) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Coordenadora do Laboratório de Produtos Naturais e Espectrometria de Massas (LAPNEM), coordenadora do Núcleo Mulheres da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e representante da regional Centro-Oeste da Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFgnosia).
Letícia Couto Garcia é professora no Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), coordenadora do Laboratório Ecologia da Intervenção (LEI), é membro representante do Centro-Oeste do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE).
Sandra Aparecida Santos é pesquisadora nível III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e coordena projetos relacionados com Conservação de Recursos Genéticos Animais e Forrageiros, sistemas sustentáveis e multifuncionais como a “Fazenda Pantaneira Sustentável” e “Abordagem holística dos ecossistemas do Pantanal para definição de estratégias de manejo sustentável das pastagens nativas”.
Geraldo Alves Damasceno Junior é professor no Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Coordenador do projeto “Estudo de longa duração dos efeitos do fogo ao longo do gradiente de inundação no Pantanal” contemplado no edital do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD).
Amanda Galdi Boaretto é técnica de laboratório do Laboratório de Produtos Naturais e Espectrometria de Massas (LaPNEM) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Atualmente é aluna de doutorado no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC-UFMS).
Ieda Maria Bortolotto é pesquisadora sênior e docente do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Mato do Sul (UFMS), colabora no programa de extensão “Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado” e atua na área de etnobotânica.

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