Ter dados por gênero é essencial para melhorar políticas rurais.
Um estudo revelador da AgTech Innovation, sediada em Piracicaba, São Paulo, ressalta o papel fundamental das mulheres na adoção de tecnologias e na automatização das explorações agrícolas rurais no Brasil. Apesar disso, a contribuição dessas mulheres muitas vezes permanece invisível.
Conforme a pesquisa de 2021, 52% das mulheres rurais estão envolvidas na inovação pré-produtiva, abrangendo aspectos como maquinário, produtos químicos, sementes e logística. Além disso, 59% participam ativamente no processo produtivo, desde o plantio até o processamento, enquanto 34,3% incorporam inovação na pós-produção, incluindo armazenamento e distribuição.
O relatório “Mulheres na Pecuária” destaca que a estrutura de gênero na sociedade brasileira reflete-se no trabalho agrícola. Tarefas relacionadas ao cuidado e à subsistência, frequentemente, recaem sobre as mulheres, embora não sejam reconhecidas como atividades econômicas geradoras de renda para a família. A pesquisa revela que metade das propriedades administradas por mulheres no Brasil são dedicadas à criação de gado, enquanto 37% se dedicam à criação de aves. No entanto, a liderança agrícola na pecuária ainda é predominantemente masculina, com mulheres frequentemente excluídas da sucessão nas fazendas.
Francisca Neri, presidente da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos de Betânia, no Piauí, Nordeste do Brasil, testemunhou essa realidade em primeira mão. Filha de agricultores, Neri entrou no mundo da pecuária e enfrentou a desconfiança em relação à sua liderança por ser mulher.
Apesar dos obstáculos, Neri destaca que a gestão feminina agrega sensibilidade e visão ampla ao negócio. Ela afirma que as mulheres têm a capacidade de entender as necessidades do campo de forma mais holística, destacando-se na detecção de problemas e soluções.
Contudo, Alessandra Galiè, líder do grupo de trabalho de gênero do Instituto Internacional de Investigação Pecuária, ressalta que globalmente menos de 15% dos proprietários de terras são mulheres, o que limita o acesso delas aos mercados e serviços de apoio.
Para De Mori, é crucial dar mais visibilidade ao trabalho das mulheres rurais e produzir mais pesquisas sobre o tema. Ela destaca que a produção científica pode impulsionar inovações que facilitem o trabalho das mulheres e embasar políticas públicas que atendam às suas necessidades.
Galiè concorda, enfatizando a importância de coletar dados desagregados por gênero nas áreas rurais para orientar políticas eficazes. Ambas acreditam que uma igualdade de condições entre homens e mulheres nas zonas rurais é essencial para um modelo sustentável de produção alimentar.
Em última análise, o reconhecimento e o apoio às mulheres rurais não apenas promovem a igualdade de gênero, mas também impulsionam a inovação e a sustentabilidade no setor agrícola brasileiro.