Pesquisadora defendeu a regulamentação da psicologia e promoveu o avanço científico em tempos desafiadores.
Carolina Bori foi uma pioneira na ciência e na política científica brasileira. Ela introduziu a Análise Experimental do Comportamento no Brasil em uma época em que a psicologia ainda era um campo de estudo novo e pouco explorado no país. Em 1987, Carolina Bori quebrou barreiras ao ser eleita a primeira mulher presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), superando um espaço historicamente dominado por homens. Sua coragem, determinação e habilidade diplomática a destacaram como uma das grandes cientistas do país.
Bori sempre defendeu com fervor a importância da ciência se aproximar do público e do poder, e de se espalhar por todos os setores da sociedade. Ela acreditava na ampliação do conhecimento científico e em seu alcance. Participou da criação de cursos de Psicologia Experimental na USP, em Rio Claro, e nas universidades federais de São Carlos, Bahia, Pará e Rio Grande do Norte. Na Universidade de Brasília (UnB), criou o Laboratório de Psicologia Experimental e coordenou o Instituto de Psicologia entre 1963 e 1965. “Ela recebeu o registro número um de psicóloga no Brasil porque ela teve um papel muito importante nas comissões que se empenharam para criar os cursos de psicologia no país e criar a profissão de psicólogo”, conta Deyse das Graças de Souza, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino.
Sua atuação política foi notável, desde a defesa da regulamentação da profissão de psicólogo e o estabelecimento do primeiro currículo mínimo para a formação de psicólogos no Brasil, até a mobilização da comunidade científica para a elaboração de propostas para a nova Constituição Federal de 1988. Carolina Bori entregou pessoalmente a proposta oficial da comunidade científica à Assembleia Constituinte em abril de 1987. Ela também ocupou diretorias em diversas sociedades científicas, como a Associação Brasileira de Psicologia, a Sociedade de Psicologia de São Paulo, a Associação de Modificação de Comportamento e a Sociedade Brasileira de Psicologia, além da SBPC. “Ela tinha essa profunda convicção de que era o desenvolvimento científico, o desenvolvimento das diferentes áreas da ciência, que levaria o país adiante”, pontua Deyse de Souza, que foi orientanda de Carolina Bori.
O ativismo marcou toda a trajetória de Carolina Bori. No início de sua carreira, ela lutou pela consolidação da psicologia como ciência no Brasil e, posteriormente, pelo desenvolvimento científico e tecnológico como um todo. Ela acreditava que a ciência e a educação eram os caminhos para o desenvolvimento do país. Após a regulamentação da profissão, Carolina Bori participou ativamente da elaboração do currículo mínimo para os cursos universitários de psicologia e da criação de cursos na UFSCar e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) de Rio Claro, hoje parte da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Ela investiu muito tempo para ver o desenvolvimento científico, para promover, para criar condições, para criar discussões, para criar bases e possibilidades para que as pessoas se desenvolvesse e ao se desenvolverem cientificamente, também desenvolvessem a ciência em geral no Brasil”, finaliza Deyse de Souza.
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