Aquecimento global está forçando comunidades a abandonarem suas terras e exacerbando crises sociais e econômicas
As mudanças climáticas no Brasil estão exacerbando uma série de crises interligadas, ameaçando os direitos humanos e intensificando a pobreza e a perda de meios de subsistência. À medida que eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e severos, as condições de vida das comunidades mais vulneráveis pioram, levando a um aumento significativo de deslocamentos forçados.
Estes “deslocados ambientais”, termo que descreve aqueles que são obrigados a deixar suas casas devido a eventos relacionados ao clima, não são reconhecidos oficialmente pelo direito internacional, complicando a proteção e assistência a essas populações. Isso é ainda mais complexo quando o deslocamento ocorre dentro do próprio país. “Os nossos deslocados ambientais internos são invisíveis e não recebem proteção nenhuma. Não há nem lei, nem política pública para protegê-los”, alerta Andrea Pacheco Pacífico, professora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba e coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Deslocados Ambientais (Nepda).
Além dos deslocamentos diretamente causados por eventos extremos, as mudanças climáticas atuam como um “multiplicador de ameaças”, intensificando outros fatores de risco, como a pobreza, a perda de recursos e as tensões sociais. Isso cria um ambiente propício para conflitos e violência, que, por sua vez, podem gerar novos deslocamentos. “Não adianta só você tirar as pessoas e colocar em outro local se você não dá condições para a sobrevivência”, explica Andrea Pacífico. “É preciso dar visibilidade aos deslocados internos por questões ambientais, mesmo que sejam imigrantes ambientais, imigrantes climáticos, não importa a terminologia. O que importa é que eles precisam ser protegidos e ser reconhecidos como uma parte vulnerável da negociação. E tem que advogar para trazer os próprios deslocados para a mesa de negociação, para que eles sejam ouvidos”, finaliza.
Ouça ao episódio completo: