Em meio a ameaças crescentes e a perda de terras, os povos indígenas são protagonistas na luta contra o desmatamento e a crise climática
Os povos indígenas, que representam cerca de 6% da população mundial, são reconhecidos pelo secretário-geral da ONU como “guardas do conhecimento e das tradições” essenciais para a proteção de algumas das áreas mais biodiversas do planeta. No entanto, essa população enfrenta ameaças e violência constantes, especialmente em regiões onde atividades como mineração, agricultura e transporte intensificam o desmatamento e a degradação dos solos.
De acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, as terras ancestrais e os recursos naturais dos quais os povos indígenas dependem estão “sob cerco”. Ele ressaltou que o direito à autodeterminação, conforme estipulado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, ainda não foi plenamente respeitado, destacando a necessidade urgente de apoiar esses povos na construção de seu próprio futuro.
Um exemplo positivo citado pela ONU vem do Brasil, onde a etnia Puyanawa, uma das 15 que habitam o estado do Acre, tem se destacado pela preservação de seu território, 93% coberto por florestas. Sob a liderança de Joel Puyanawa, a tribo adotou práticas agrícolas tradicionais, como o plantio de árvores de madeira dura nos campos, para minimizar o impacto na terra. Joel Puyanawa enfatiza que, apesar do trabalho extra envolvido, a preservação do que é mais sagrado é essencial, alertando que uma floresta destruída “nunca se recuperará”.
Essa abordagem dos Puyanawa é vista pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como uma prova de que sustentabilidade e crescimento econômico podem coexistir. No entanto, o caminho para essa conscientização não foi fácil. No início do século 20, a tribo sofreu ataques de colonos interessados na extração de borracha, resultando na morte de muitos Puyanawa e na exploração dos sobreviventes em suas próprias terras.
Somente em 2001, com o fortalecimento dos direitos territoriais indígenas pelo governo brasileiro, os Puyanawa começaram a recuperar suas tradições, incluindo a língua, práticas espirituais e técnicas de manejo florestal. Essa reconquista é crucial em um contexto onde o mundo perde, anualmente, uma área de cobertura florestal equivalente ao tamanho de Portugal, com grande parte desse desmatamento ocorrendo em 20 países tropicais, incluindo o Brasil.
No Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) destaca a importância do conhecimento indígena na luta contra as mudanças climáticas. Segundo a agência, os povos indígenas possuem sistemas de conhecimento, inovações e práticas únicas, transmitidos de geração em geração, que permitiram a essas comunidades viverem de forma sustentável em diversas partes do mundo.
Diante da intensificação da crise climática, os conhecimentos e práticas indígenas emergem como soluções valiosas para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, além de estratégias de adaptação e resiliência necessárias para enfrentar esse desafio global.
Com informações de ONU News