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Carbono azul: a nova fronteira na luta contra o aquecimento global

Explorando o papel controverso da fauna oceânica e dos ecossistemas marinhos na captura de carbono

 

O “carbono azul”, que se refere ao carbono capturado e armazenado em ambientes marinhos e costeiros, tem despertado um interesse crescente devido ao seu potencial para desacelerar o aquecimento global. Enquanto há um consenso sobre a contribuição positiva dos ecossistemas vegetados costeiros, a participação da fauna oceânica nesse processo é mais controversa. Especialistas divergem sobre a capacidade de grandes animais e cardumes em armazenar carbono, ressaltando que o metabolismo dessas espécies pode, em alguns casos, liberar dióxido de carbono (CO2) em vez de armazená-lo. Além disso, é fundamental considerar o contexto dos ecossistemas e a interferência humana nessas áreas.

Ecossistemas como marismas, manguezais e pradarias marinhas armazenam cerca de metade do carbono presente nos sedimentos oceânicos. Seus solos compactos evitam a degradação da matéria orgânica, mas, por estarem localizados em regiões costeiras ou atrativas para o turismo, correm risco de desaparecer. No entanto, a preocupação com o carbono azul nos oceanos tem aumentado nos últimos anos.

Um relatório recente da organização Ocean Science & Technology destaca alguns exemplos da contribuição da fauna marinha para o armazenamento de carbono: predadores que controlam herbívoros, permitindo o crescimento da vegetação; peixes que incorporam carbono durante a alimentação; e baleias que transportam nutrientes ao migrarem. Segundo o relatório, cachalotes, ao se alimentarem em zonas profundas e defecarem perto da superfície, armazenam cerca de dois milhões de toneladas métricas de carbono por ano, o equivalente às emissões de 600 voos de ida e volta entre Paris e Nova York.

Embora grandes animais contenham mais carbono individualmente, a maior contribuição conjunta provém dos peixes mesopelágicos, que habitam a zona de penumbra oceânica entre 200 e 1000 metros de profundidade e armazenam mais de 27 milhões de toneladas de carbono, uma quantidade equivalente à de uma floresta com o dobro do tamanho do Reino Unido.

 

Controvérsia

Contudo, a contribuição da fauna marinha para a captura de carbono ainda é bastante debatida, uma vez que seu metabolismo também pode gerar emissões de CO2. O ciclo do carbono envolve vários processos químicos e biológicos antes de atingir o fundo do mar, dificultando a avaliação precisa do impacto do carbono azul. Desta forma, o papel da ciência é fundamental para o carbono azul ser verificável e confiável.

Por um lado, as tartarugas marinhas, que se alimentam principalmente de pasto marinho, não são grandes aliadas do carbono azul. Mas por outro, as baleias-azuis podem sequestrar até 30 toneladas de carbono ao longo de suas vidas, além de fertilizarem o oceano com seus dejetos, que fornecem nutrientes para as microalgas. Diante disso, é preciso valorizar iniciativas como o Santuário de Baleias estabelecido no Chile desde 2001, embora ainda em processo de implementação, para consolidar uma política nacional de conservação e uso não letal de cetáceos, assim como a recente criação de uma área protegida no Arquipélago de Humboldt, uma zona de alimentação de baleias e pinguins próxima a um projeto de mineração de ferro e cobre que tem gerado preocupações ambientais.

 

Inovação

Outras estratégias para a preservação da biodiversidade marinha e dos estoques de carbono têm se mostrado mais inovadoras. Em 2010, Belize proibiu a pesca de arrasto, que além de seus efeitos destrutivos, emite até 370 milhões de toneladas anuais de CO2. A iniciativa foi possível com o apoio da organização Oceana, que comprou os últimos dois barcos que realizavam essa atividade. Há o questionamento se novas aquisições como essa poderiam contribuir para as metas de mitigação das mudanças climáticas.

Esse questionamento é válido, especialmente considerando um estudo de 2020 que sugere que a limitação das atividades pesqueiras, especialmente em áreas menos lucrativas, poderia reduzir as emissões de CO2 devido ao menor consumo de combustível e à regeneração das populações de peixes. Um estudo adicional destaca que “os peixes proporcionam outros benefícios às pessoas (nutrição, biodiversidade, valores culturais, recreativos e comerciais)”, que também devem ser considerados ao tomar decisões de manejo.

Entretanto, qualquer estimativa da contribuição de peixes ou baleias ao fluxo de carbono depende de uma quantificação precisa da biomassa atual e da taxa de transporte de carbono para as profundezas oceânicas, algo que ainda está longe de ser concretizado.

Com informações de SciDev.Net

 

Capa. Freepik.com
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