Entidades foram fundamentais para a institucionalização da ciência e para o desenvolvimento científico no país
Em muitos países em desenvolvimento, a ciência às vezes não recebe a devida atenção. No entanto, as sociedades científicas estão se tornando peças-chave nesse cenário. Elas não só defendem os interesses dos cientistas e promovem pesquisas, mas também abraçam causas importantes, como a inclusão cultural e de gênero, a proteção do meio ambiente, a democracia e a justiça social.
Ao longo da história, as sociedades científicas têm sido fundamentais. Elas não só ajudam a desenvolver as próprias ciências e as profissões que delas dependem, como também preservam sua história, divulgam conhecimento e criam condições para o crescimento científico e profissional. Além disso, promovem uma cultura de apoio ao progresso baseado em ciência e tecnologia por iniciativas públicas e outras ações.
Pelo mundo
As sociedades científicas têm suas raízes no Renascimento, quando novos incentivos à pesquisa levaram à criação de grupos que reuniam os grandes pensadores da época. Esses grupos tinham como objetivo melhorar a compreensão humana em áreas como astronomia, botânica, filosofia e história, promovendo discussões e trocas de ideias e descobertas. Esses pioneiros deram origem a instituições científicas renomadas, como a L’Accademia Nazionale dei Lincei (Itália, 1603), a German Academy of Sciences Leopoldina (Alemanha, 1652), a The Royal Society (Inglaterra, 1660), a Académie des Sciences (França, 1666) e a The American Philosophical Society (Estados Unidos, 1743).
Essas associações inspiraram a formação de outras sociedades científicas pelo mundo. No século XVIII, muitas capitais europeias e até mesmo províncias menores começaram a criar suas próprias sociedades científicas. Esses grupos ofereciam um espaço para compartilhar e disseminar conhecimento, especialmente através de seus periódicos, que se tornavam cada vez mais populares e fundamentais para o avanço da ciência.
No Brasil
No Brasil, uma das primeiras iniciativas de organização científica aconteceu no século XVIII com a criação da Academia Científica do Rio de Janeiro pelo marquês do Lavradio em 1772. Seu objetivo era disseminar certos aspectos da ciência entre a elite local. A academia tinha apenas nove membros e durou apenas sete anos. Logo após, surgiu a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que também teve uma existência breve, sendo fechada por motivos políticos e seus membros presos sob acusação de conspirar a favor da independência da colônia.
No século XIX, surgiram poucas tentativas de organizar os poucos cientistas existentes, mas algumas entidades ligadas a setores profissionais foram fundadas, como a Academia Nacional de Medicina em 1829 e o Clube de Engenharia em 1880. Voltada para a indústria, foi criada a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional em 1831, e sete anos depois, surgiu o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), focado na preservação histórico-geográfica, cultural e de ciências sociais.
Durante todo o século XIX, as atividades científicas brasileiras estavam centralizadas no Rio de Janeiro. Segundo Maria Amélia Mascarenhas Dantes em seu artigo “As Ciências na História Brasileira”, isso acontecia porque a capital era o centro onde estavam concentrados os profissionais, brasileiros e estrangeiros, que começaram a se organizar em associações. Com a chegada da República, iniciou-se uma diversificação regional no desenvolvimento científico e técnico, que se expandiu ao longo do século XX. Assim, no final do século XIX, escolas de engenharia, faculdades de medicina, museus de história natural e institutos na área da saúde começaram a surgir em todo o país.
Diversificação e desafios
No século XX, as sociedades científicas se multiplicaram, especialmente na segunda metade do século, quando a ciência começou a florescer no Brasil. As universidades se espalharam pelo país e a pós-graduação começou a se consolidar. Em 1916, uma importante iniciativa foi a criação da Sociedade Brasileira de Ciência, que mais tarde se tornou a Academia Brasileira de Ciência (ABC). Esta sociedade teve um papel crucial no desenvolvimento científico do país. Na década de 1930, surgiram as primeiras faculdades de filosofia, ciências e letras em São Paulo e no Rio de Janeiro, permitindo a formação de professores e pesquisadores em diversas áreas. (Figura 1)
Figura 1. A Escola Politécnica do Rio de Janeiro serviu de palco para a criação da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
(Fonte: Academia Brasileira de Ciências. Reprodução)
Mesmo com várias iniciativas, a produção científica no Brasil ainda era pequena no início do século XX. Existiam poucas instituições de pesquisa e muitas universidades ainda não tinham a tradição de realizar pesquisas. Após a Segunda Guerra Mundial, ficou claro que incentivar a ciência era essencial para o desenvolvimento social e econômico. Nesse contexto, um grupo de cientistas fundou, em 8 de julho de 1948, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A SBPC foi pioneira, inspirando a criação de muitas outras sociedades científicas e assumindo a função de unir essas entidades para promover a ciência nacional. (Figura 2)
Figura 2. Criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948
(Folha da Noite, São Paulo, do dia 9 de junho de 1948. FMORS/Acervo SBPC)
Hoje, o Brasil conta com inúmeras sociedades científicas em quase todas as áreas do conhecimento, muitas delas com estruturas regionais. Não é possível mencionar todas as mais de duzentas sociedades existentes, mas todas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento científico. Além disso, elas também são essenciais em questões políticas e sociais. Iniciativas recentes mostram seu envolvimento em temas como a defesa dos direitos humanos, da cidadania, da educação e da democracia.