Descobertas pioneiras da cientista na fixação biológica do nitrogênio continuam a impulsionar a agricultura brasileira e a inspirar a pesquisa moderna
A trajetória de Johanna Döbereiner foi um marco para a agricultura brasileira, transformando-a com o desenvolvimento de técnicas inovadoras para a fixação biológica do nitrogênio em plantas. Ao estudar bactérias que transformam o nitrogênio do ar em nutrientes assimiláveis pelas plantas, Johanna Döbereiner contribuiu diretamente para tornar o Brasil um dos maiores produtores de soja do mundo, papel antes inédito no país. Seus estudos ajudaram a criar métodos que substituem o uso de fertilizantes químicos, beneficiando diretamente o meio ambiente e gerando uma economia estimada entre US $1 e 2 bilhões por ano ao setor agrícola brasileiro.
Além de alavancar a produção nacional de soja e consolidar o país na liderança da produção de biocombustíveis como o etanol, o legado de Johanna Döbereiner inspirou o desenvolvimento do programa brasileiro de melhoramento da soja, criado em 1964. “Eu posso dizer que, se não fosse trabalho dela, nós não seríamos hoje o maior produtor mundial da soja”, afirma a engenheira agrônoma Mariângela Hungria, pesquisadora da Embrapa e professora do programa de pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Suas pesquisas não apenas fortaleceram a agricultura, mas também abriram caminho para a ciência ser vista como uma ferramenta para resolver problemas sociais e econômicos.
Johanna Döbereiner mostrou que o conhecimento científico está profundamente conectado ao desenvolvimento sustentável e à segurança alimentar, um campo cada vez mais importante em debates ambientais e econômicos globais. “Um conjunto dessas bactérias, que chamamos de inoculante, para um hectare da soja, conseguimos comprar por R$ 1 real, ao passo que se fosse de fertilizante nitrogenado, isso estaria quase R$ 500. Isso faz muita diferença em termos de economia e em termos ambientais, porque o fertilizante nitrogenado é um dos que mais polui. Um quilo de N-fertilizante equivale a quase 10 quilos de CO2. Então são milhões de toneladas que deixam de ser liberados para a atmosfera — e essa foi uma grande contribuição da doutora Joana”, pontua Mariângela Hungria.
Comemorar o centenário de Johanna Döbereiner é também uma oportunidade de celebrar a força das mulheres na ciência, especialmente em um setor historicamente dominado por homens. Ela não apenas rompeu barreiras em sua área, mas também se tornou uma inspiração para as futuras gerações de cientistas. Sua trajetória lembra que, embora existam desafios substanciais para mulheres na carreira científica, sua contribuição continua essencial para inspirar mudanças e incentivar a representatividade feminina no avanço da ciência e da sociedade. “Então ela não só é uma mulher que abriu portas, mas que continua inspirando a ciência brasileira”, finaliza Mariângela Hungria.
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