Uma pioneira que transformou os direitos das mulheres e a ciência brasileira, unindo luta política e avanços acadêmicos.
Bertha Maria Júlia Lutz foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, sua trajetória combinou uma brilhante carreira científica com uma luta incansável pelos direitos das mulheres. Filha do renomado cientista Adolfo Lutz, pioneiro da Medicina Tropical no Brasil, e da enfermeira inglesa Amy Fowler, Bertha herdou uma paixão pela ciência e um senso de justiça que marcariam sua vida pública e privada.
Educada na Europa, Bertha Lutz graduou-se em Ciências Naturais pela prestigiada Universidade de Paris, a Sorbonne. Lá, além de se aprofundar nos estudos de botânica, zoologia e biologia, ela entrou em contato com o movimento sufragista inglês, que defendia o direito das mulheres ao voto. Ao retornar ao Brasil, em 1918, ingressou no Museu Nacional como bióloga, tornando-se apenas a segunda mulher a ocupar um cargo público no país. No Museu, Bertha Lutz não apenas contribuiu significativamente para a botânica, mas também aproveitou sua posição para impulsionar mudanças sociais.

Figura 1. Bertha Lutz
(Fonte: Divisão de Gravuras e Fotografias da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Reprodução)
Uma voz pela igualdade
Convencida de que a participação política era essencial para a emancipação das mulheres, Bertha Lutz fundou, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Essa organização, mais tarde, deu origem à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), que desempenhou um papel crucial na conquista do voto feminino no Brasil, em 1932. Sob sua liderança, a FBPF organizou o primeiro congresso feminista do país, promovendo debates sobre trabalho, educação e cidadania.
“Convencida de que a participação política era essencial para a emancipação das mulheres.”
Em 1922, Bertha Lutz representou as brasileiras na Assembleia-Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos, e foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Sua atuação internacional colocou o Brasil no mapa do movimento feminista global e fortaleceu a luta por igualdade no cenário nacional.
Embora o direito ao voto feminino tenha sido conquistado em 1932, Bertha Lutz não parou por aí. Como deputada federal, cargo que assumiu em 1936, ela defendeu propostas revolucionárias para a época: igualdade salarial entre homens e mulheres, licença-maternidade remunerada de três meses e a redução da jornada de trabalho feminina, então exaustiva. Também propôs políticas para combater doenças como a malária e a lepra, destacando sua preocupação com saúde pública.
Figura 2. Federação Brasileira pelo Progresso Feminino
(Fonte: Arquivo Nacional. Reprodução)
Ciência e educação como ferramentas de transformação
Além da política, Bertha Lutz foi uma defensora incansável da educação e da ciência como pilares do progresso. Durante sua atuação como inspetora de ensino secundário e no Museu Nacional, fomentou o acesso das mulheres à educação de qualidade e trabalhou para que meninas fossem admitidas no externato do Colégio Pedro II.
“Foi uma defensora incansável da educação e da ciência como pilares do progresso.”
Seus artigos e publicações sobre botânica e o papel educativo dos museus refletem sua dedicação à ciência. Mesmo após sua aposentadoria, em 1964, Bertha Lutz continuou ativa, representando o Brasil em congressos internacionais até 1975, quando participou da Conferência Mundial da Mulher, no México.
Bertha Lutz faleceu em 16 de setembro de 1976, deixando um legado inestimável. Sua vida demonstra como a ciência pode caminhar lado a lado com o ativismo social. Provou que ser mulher, cientista e líder política não eram papéis incompatíveis, mas complementares. Hoje, sua memória inspira novas gerações de mulheres a ocuparem espaços na ciência e na política, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.