Como a colaboração entre cidadãos e cientistas transforma a pesquisa, a conservação ambiental e a saúde pública no país
A ciência cidadã é uma ferramenta poderosa que une voluntários e cientistas para ampliar a produção de conhecimento. Por meio da coleta e análise de dados, cidadãos comuns têm contribuído de forma expressiva para áreas como monitoramento ambiental, saúde pública e conservação da biodiversidade. Desde a observação de aves até o combate a doenças transmitidas por mosquitos, essa prática vem se consolidando como um elemento essencial na democratização da ciência.
Embora o termo “ciência cidadã” tenha ganhado força nos anos 1990, a prática é muito mais antiga. Projetos como o Christmas Bird Count, iniciado nos Estados Unidos em 1900, mostram como o envolvimento popular pode gerar dados fundamentais para a ciência. No Brasil, Vital Brazil foi pioneiro ao envolver a população na coleta de serpentes para o Instituto Butantan em 1911, trocando cobras por soro antiofídico. Hoje, a ciência cidadã floresce em diversas iniciativas inovadoras pelo país.
A ciência cidadã permite a mobilização de milhares de voluntários, coletando dados que dificilmente seriam obtidos apenas por pesquisadores profissionais. Essa colaboração inspira abordagens inovadoras, integrando o conhecimento técnico e local. Além disso, a participação ativa do público fomenta o engajamento e a consciência ambiental, fortalecendo laços entre ciência e sociedade.
Iniciativas que fazem a diferença
Atlas de Registros de Aves Brasileiras (ARA)
O Atlas de Registros de Aves Brasileiras (ARA) é uma iniciativa que começou nos anos 1970 e se consolidou como uma das principais ferramentas para o estudo da avifauna no Brasil. Seu objetivo é mapear a distribuição das aves em todo o território nacional, registrando cerca de 97% das espécies conhecidas. O projeto reúne dados coletados por pesquisadores, ornitólogos e observadores de aves amadores, que contribuem com registros de avistamentos, sons e comportamentos. A participação de voluntários é essencial para o sucesso do ARA, pois eles ajudam a monitorar populações de aves, identificar mudanças nos habitats e contribuir para a conservação de espécies ameaçadas. Além disso, o ARA serve como base para políticas públicas e estratégias de preservação da biodiversidade brasileira, destacando a importância da ciência cidadã para a proteção do meio ambiente.

Figura 1. Atlas de Registro de Aves Brasileiras
(Fonte: ARA. Reprodução)
Wikiaves
O Wikiaves é uma plataforma colaborativa que revolucionou a observação de aves no Brasil. Lançado em 2008, o projeto reúne mais de 2 milhões de fotos e 120 mil sons de aves, tornando-se uma das maiores bases de dados sobre avifauna do mundo. Com a participação de mais de 27 mil usuários, o Wikiaves permite que observadores de aves, desde iniciantes até especialistas, compartilhem registros e informações sobre espécies. A plataforma também oferece ferramentas para identificação de aves, mapas de distribuição e fóruns de discussão, promovendo a educação ambiental e o engajamento da sociedade. Graças a essa colaboração massiva, o Wikiaves tem ampliado o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, ajudando a descobrir novas espécies e a monitorar populações em risco.
“Por meio da coleta e análise de dados, cidadãos comuns têm contribuído de forma expressiva para áreas como monitoramento ambiental, saúde pública e conservação da biodiversidade.”
AE Trapp
O projeto AE Trapp é uma iniciativa inovadora voltada para o monitoramento do mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya. Desenvolvido para envolver a população no combate a essas enfermidades, o projeto permite que voluntários utilizem aplicativos móveis para reportar focos de mosquitos e possíveis criadouros. Esses dados são coletados e analisados em tempo real, auxiliando no planejamento de ações de controle e prevenção, especialmente em áreas urbanas como Recife, onde o projeto foi inicialmente implementado. Além de empoderar os cidadãos, o AE Trapp promove a conscientização sobre a importância de eliminar locais propícios à proliferação do mosquito, contribuindo para a redução de surtos e epidemias.
SISS-Geo
Desenvolvido pela Fiocruz, o Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo) é uma ferramenta essencial para o monitoramento da saúde da fauna brasileira e a identificação de doenças zoonóticas, que podem ser transmitidas de animais para humanos. Por meio de aplicativos, cidadãos podem reportar condições de animais selvagens, como comportamentos incomuns, mortes em massa ou sinais de doenças, além de informações sobre o ambiente em que vivem. Esses dados são integrados a um sistema que ajuda pesquisadores e autoridades de saúde a detectar surtos de doenças, como febre amarela e raiva, e a implementar medidas preventivas. O SISS-Geo é um exemplo de como a ciência cidadã pode fortalecer a vigilância epidemiológica e proteger tanto a saúde humana quanto a biodiversidade.
“A ciência cidadã permite a mobilização de milhares de voluntários, coletando dados que dificilmente seriam obtidos apenas por pesquisadores profissionais.”
Guardiões da Chapada
O projeto Guardiões da Chapada é uma iniciativa que combina conhecimento científico e práticas locais para proteger a biodiversidade da Chapada dos Veadeiros, um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do Brasil. Focado na interação entre plantas e polinizadores, o projeto envolve comunidades locais, pesquisadores e instituições na conservação de espécies-chave e na restauração de habitats. Os participantes atuam como “guardiões”, monitorando a flora e a fauna, coletando dados e promovendo práticas sustentáveis. Além de contribuir para a preservação da biodiversidade, o projeto fortalece a conexão entre as comunidades e o meio ambiente, incentivando a educação ambiental e o turismo ecológico. A iniciativa é um exemplo de como a colaboração entre ciência e sociedade pode gerar impactos positivos para a conservação e o desenvolvimento sustentável.

Figura 2. Guardiões da Chapada
(Fonte: Guardiões da Chapada. Reprodução)