Da fundação por D. Pedro I à liderança na ciência brasileira, a trajetória do Observatório Nacional reflete o desenvolvimento da astronomia e da geociência no país.
No dia 15 de outubro de 1827, o Imperador D. Pedro I decretou a criação do primeiro observatório astronômico oficial do Brasil: o Observatório Nacional (ON). Com o objetivo de promover estudos astronômicos, geodésicos e náuticos, a instituição foi concebida para colocar o país no mapa da ciência internacional e atender às demandas práticas de um território em expansão. No entanto, suas origens remontam ao século anterior, revelando uma rica história de iniciativas precursoras.
As raízes da astronomia no Brasil
Antes da fundação do ON, os primeiros esforços astronômicos no Brasil foram liderados por jesuítas no Morro do Castelo, Rio de Janeiro, em 1730. Décadas depois, em 1780, astrônomos portugueses estabeleceram outro observatório no mesmo local, realizando observações de astronomia, meteorologia e magnetismo terrestre. Em 1808, com a chegada da família real, o acervo foi transferido para a Academia Real Militar, dando início a uma estrutura mais organizada de estudos científicos.

Figura 1. Edifício do Observatório Nacional no morro de São Januário (RJ) em 1927
(Foto: Arquivo Nacional. Reprodução)
A ideia de um observatório oficial ganhou força com a independência do Brasil. Em setembro de 1827, inspirado pelos modelos europeus, a Assembleia Geral Legislativa do Império autorizou a criação do Observatório Astronômico. Pouco depois, em outubro, D. Pedro I oficializou a fundação da instituição, vinculando-a ao Ministério do Império e nomeando o professor Pedro de Alcântara Bellegarde como seu primeiro responsável. Inicialmente, o observatório foi instalado no torreão da Escola Militar.
Crescimento e desafios
Durante as primeiras décadas, o desenvolvimento do ON foi lento. Apenas em 1845, sob o comando do professor Soulier de Sauve, o observatório passou por uma reorganização significativa. Foi transferido para a Fortaleza da Conceição e, em 1846, recebeu seu primeiro regulamento. Mais tarde, sob a direção do renomado cientista francês Emmanuel Liais, a instituição consolidou-se como referência em astronomia, meteorologia e geofísica.
“A instituição consolidou-se como referência em astronomia, meteorologia e geofísica.”
Uma das conquistas mais marcantes dessa época foi a publicação do Anuário do Observatório, em 1885, e da Revista do Observatório, em 1886, a primeira revista científica do país.
Com a Proclamação da República, o Imperial Observatório do Rio de Janeiro foi renomeado Observatório Nacional, refletindo o novo contexto político. Sob a direção de cientistas como Luis Cruls e Henrique Charles Morize, o ON liderou importantes missões científicas, como a expedição ao Brasil Central (1892-1896) que definiu a localização de Brasília. Em 1922, a sede foi transferida para o Morro de São Januário, onde permanece até hoje.
“No século XX, o Observatório expandiu sua atuação em áreas como magnetismo terrestre, sismologia e a disseminação da hora legal brasileira.”
No século XX, o Observatório expandiu sua atuação em áreas como magnetismo terrestre, sismologia e a disseminação da hora legal brasileira. Em 1980, inaugurou o Observatório Astrofísico Brasileiro, em Minas Gerais, que posteriormente deu origem ao Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA).

Figura 2. Laboratório Nacional de Astrofísica
(Foto: LNA. Reprodução)
Legado e preservação
Além de suas contribuições científicas, o ON desempenhou um papel crucial na preservação da história da ciência no Brasil. Em 1985, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) foi criado para abrigar e preservar o acervo histórico da instituição. Hoje, o ON permanece como um centro de excelência científica, consolidando a posição do Brasil no cenário global da astronomia e das geociências.