Confira entrevista com Givânia Maria da Silva, professora, socióloga, ativista e quilombola
Professora, socióloga, ativista e quilombola, Givânia Maria da Silva construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com a educação e a luta por direitos. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Comitê Científico: Quilombos, Territorialidades e Saberes Emancipatórios da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Givânia da Silva tem uma atuação ampla, que passa pela pesquisa acadêmica, a militância e a gestão pública. Foi vereadora, coordenadora de regularização fundiária de territórios quilombolas no Incra, secretária nacional de políticas para comunidades tradicionais e consultora de organismos internacionais como a FAO e a ONU Mulheres. “Eu sempre tive a consciência de que existia uma dívida social com o meu povo. O Estado não olhava para nós, enquanto os fazendeiros tomavam nossas terras e apagavam nossa cultura”, afirma. Apesar desse extenso currículo, Givânia da Silva sempre se apresenta, antes de tudo, como educadora quilombola. “Se não cuidarmos da educação, nossos saberes vão se apagar”, enfatiza. Sua vivência em Conceição das Crioulas (PE) inspira sua visão sobre a educação escolar quilombola como um processo que vai além da sala de aula, incluindo a memória coletiva, os saberes tradicionais e a luta pelo território. “Se não houver um compromisso real com a implementação da educação quilombola, continuaremos perpetuando esse apagamento histórico”, defende. Nesta entrevista, ela compartilha sua visão sobre os desafios e avanços da educação quilombola, a importância da identidade e da resistência e o papel da ciência na promoção da justiça social. Confira!
Ciência & Cultura – Você pode nos contar um pouco sobre suas origens e a história do Quilombo Conceição das Crioulas?
Givânia Maria da Silva – Eu nasci e me criei num Quilombo chamado Conceição das Crioulas. Esse Quilombo fica no Sertão de Pernambuco, na região do semiárido do bioma da Caatinga. Eu costumo dizer mais recentemente que sou uma “Caatingueira”, porque sou desse bioma, nascida e criada lá. Minha comunidade foi fundada há mais de 200 anos por um grupo de mulheres que, certamente, fugiam em busca de liberdade e ali encontraram refúgio. A geografia do lugar ajudou, pois o Quilombo fica cercado por serras, o que deve ter sido estratégico para elas naquele momento. A história oral da comunidade conta que, ao chegarem, fundaram a comunidade, e logo depois chegou um homem trazendo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Elas então fizeram uma promessa: se se tornassem donas daquele território – que, na nossa linguagem, eram três léguas em quadra – doariam um pedaço de terra para construir uma capela em homenagem a Nossa Senhora. Para pagar essa promessa, fiaram algodão e venderam na cidade de Flores, uma das mais antigas de Pernambuco. Assim, em 15 de janeiro de 1802, tornaram-se donas daquela terra – em tese, porque o “título” não era exatamente um título formal, mas um documento que imaginamos ser um contrato de renda, foro ou algo do tipo. Construíram a capelinha, festejaram, e com o tempo, Conceição das Crioulas virou um distrito maior do que o próprio território do Quilombo. Eu nasci nesse lugar, filha de uma artesã e agricultora e de um agricultor. Minha mãe estudou apenas até a segunda série, mas alfabetizava crianças na comunidade. E eu me tornei professora.
“O casamento mais perfeito que já vi foi o do machismo com o racismo. Eles se casam em comunhão total de bens.”
C&C – Como sua trajetória na educação começou e como você começou a refletir sobre a identidade quilombola?
GMS – Desde cedo, participei da Pastoral da Juventude e das Comunidades Eclesiais de Base, mas, na época, o debate racial ainda não era forte para nós. Falávamos sobre libertação, trabalhadores e mulheres, mas não sobre raça. Foi quando comecei a dar aulas na comunidade que as perguntas começaram a surgir: por que nos chamamos Conceição das Crioulas? Quem eram essas “crioulas”? Eu não sabia que era uma delas. A gente não fazia ideia. Se eu tivesse noção de pesquisa na época, teria registrado muito mais. A gente entrevistava pessoas mais velhas, ouvia histórias, anotava algumas datas, mas nada com um método organizado. Até 1995, apenas eu, de toda essa história de mulheres e de pessoas da comunidade, tinha entrado na universidade. Foi nesse período que construíram uma escola de ensino fundamental na cidade, e eu me tornei a primeira diretora. Foi quando comecei a me questionar ainda mais: por que as pessoas estavam indo embora para São Paulo? Por que não havia mais terra para plantar ou construir casas? Eu queria entender tudo. Mas essa busca por respostas me tornou uma pessoa indesejada para os fazendeiros da região. Vivi muito tempo sob ameaça.
C&C – Você também se envolveu com a política. Como foi essa experiência?
GMS – Sim, entrei para um partido, me candidatei e fui eleita vereadora três vezes. Mas só consegui assumir duas. Na última vez, meus irmãos brincam que dormi eleita e acordei “des-eleita”. Eu sempre tive a consciência de que existia uma dívida social com o meu povo. O Estado não olhava para nós, enquanto os fazendeiros tomavam nossas terras e apagavam nossa cultura. Mas não foi só a terra que nos tiraram. Muitas mulheres quilombolas foram exploradas, engravidaram desses fazendeiros e de seus filhos, que depois as negavam completamente. Nasci em um contexto de muita exploração e desigualdade.
“Mesmo quando nós, mulheres, trabalhamos muito e produzimos ciência — seja na academia, nos quilombos, nos assentamentos ou nas aldeias — nossa produção nunca tem o mesmo peso que a dos homens.”
C&C – E como a educação quilombola se tornou parte do seu ativismo?
GMS – Eu me tornei professora com essa inquietação de contar nossa história e buscar os rastros dela através dos saberes comunitários. Hoje chamamos isso de “educação quilombola”, mas, na época, era um processo natural de valorização dos nossos conhecimentos. Atuei em várias frentes, fui educadora popular em projetos da igreja, vereadora em 2007 e também diretora da escola da comunidade. Como era a única professora efetiva do quadro, era a única que podia assumir a direção. Aceitei o desafio sem saber exatamente o que estava fazendo. Mais tarde, quando entrei na universidade e fiz o mestrado, entendi que todas aquelas práticas estavam fundamentadas em teorias. Mas, primeiro, vivemos a prática, depois organizamos o conhecimento. Foi assim que contribuímos para a construção das diretrizes da educação escolar quilombola, que valorizam os saberes da comunidade: as rezas, o preparo da comida, a forma de cuidar da terra, o dia certo de plantar e colher, até mesmo os rituais como o corte de cabelo. Essas práticas são, sim, ciência – mesmo que, na época, não nos déssemos conta disso.
C&C – Como foi o processo de articulação com outras comunidades quilombolas pelo Brasil?
GMS – Em 1995, fundamos a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Foi um momento em que começamos a ouvir quilombolas de outros estados e percebemos que nossa realidade não era uma exceção. Havia muitas semelhanças entre os Quilombos, mesmo com diferenças regionais. Muita gente acha que Quilombo foi só fuga, mas não foi. A fuga foi uma das estratégias. Houveram muitas outras formas de resistência e sobrevivência. Hoje, em 2025, podemos dizer que existem cerca de 8.000 comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil, algumas em territórios enormes, abrangendo mais de três municípios. Em Porto Alegre, por exemplo, um dos espaços mais valorizados da cidade é, na verdade, um Quilombo. Há 30 anos, isso seria impensável. Mas fomos avançando, ocupando espaços e revelando histórias que estavam invisibilizadas.
C&C – Você também passou por momentos difíceis, especialmente com ameaças. Como isso afetou sua trajetória?
GMS – Em 2007, quando eu era vereadora, as ameaças contra mim aumentaram muito. Na época, a ex-ministra Matilde Ribeiro me disse: “Você não vai morrer aqui”. Tinha acabado de acontecer o assassinato de uma prefeita do Mato Grosso do Sul, que vinha denunciando ameaças e ninguém fez nada. Quando os fazendeiros ameaçavam alguém, aquilo era muito sério. Matilde Ribeiro insistiu para que eu fosse embora e, mesmo contra minha vontade, fui para Brasília. Assumi uma secretaria no governo e foi um grande desafio, mas também uma oportunidade. Voltei para a universidade, fiz o mestrado na UnB e sistematizei minha experiência de forma científica. Passei a publicar e participar ativamente desse movimento de valorização da educação quilombola. Saí da oralidade da experiência para consolidar esse conhecimento como pesquisa.
“É essencial que os saberes dos indígenas, quilombolas e mulheres sejam incorporados ao fazer científico, não como elementos secundários, mas como parte essencial da produção do conhecimento.”
C&C – Quais são os maiores desafios enfrentados pelas mulheres quilombolas no acesso à educação? Por que ainda é tão difícil para mulheres, especialmente mulheres negras e quilombolas, acessarem o ensino superior, ingressarem na ciência e percorrerem todo o caminho que você trilhou?
GMS – Há um trecho na minha tese em que digo que o casamento mais perfeito que já vi foi o do machismo com o racismo. Eles se casam em comunhão total de bens, no sentido da dominação. Por que digo isso? Às vezes brinco que, quando as pessoas vão escrever sobre quilombos, parece que imaginam um lugar uniforme, como uma bola homogênea. Elas estranham quando chegam ao quilombo e encontram divergências. Muitas vezes, me dizem: “Gosto muito do seu quilombo, ele é muito organizado”. E eu fico pensando: “Mas quem te falou isso?” O que é organizado e o que não é? E organizado para quem? As mulheres, de forma geral, e as mulheres quilombolas, de onde eu falo, exercem um papel político incrível dentro das comunidades. Mas por que sabemos tão pouco sobre elas? Falamos de Dandara, mas quase nada sabemos sobre ela — apenas a mencionamos associada a Zumbi. Se tirarmos Zumbi de perto de Dandara, ninguém sabe quem ela foi. Sabemos pouco sobre Maria Firmina, muito pouco sobre Tereza de Benguela, pouco sobre as mulheres de Conceição das Crioulas, e menos ainda sobre tantas outras cujos nomes sequer conhecemos. Esse, para mim, é o grande caos do apagamento da história das mulheres: não só perdemos suas histórias, mas também o direito de saber seus nomes. Ninguém sabe quem foi tia Tuca, porque nunca ninguém escreveu o nome dela. Será que era Francisca? Agostinha? Será que é por isso que hoje há uma intriga com a escrita? Essa suposta neutralidade de colocar apenas “Silva”, por exemplo… Eu sou Silva. Mas se eu e o Lula escrevermos um texto, será a mesma coisa: Silva, 2025 e Silva, 2025. Lula também é Silva, entendeu? Fazer ciência também é iluminar essa história, dar nome às coisas, às pessoas, aos lugares. Eu brinco que meu nome é Givânia Maria da Silva e, ao pensar nas iniciais GMS, pode parecer marca de moto ou peça de carro. Mas eu gosto de ser chamada pelo nome completo. Ninguém me esconda. Eu não quero esconder o que digo, porque digo aquilo em que acredito. Nos quilombos, repete-se o que acontece no restante da sociedade. Se olharmos para a presidência das associações comunitárias, a grande maioria dos cargos é ocupada por homens. Mas, se olharmos para o trabalho efetivo, não são os homens que o realizam. Desde a fundação dos quilombos até hoje, as iniciativas são lideradas por mulheres. No entanto, a liderança comunitária ainda é predominantemente masculina. Isso evidencia um domínio masculino do qual os quilombolas também não estão isentos. Além disso, há a sobrecarga do racismo. Por isso digo que machismo e racismo se casaram em comunhão total de bens: o machismo faz com que o trabalho das mulheres — independentemente de classe social ou etnia — tenha menos valor do que o dos homens. Dentro da academia, as mulheres trabalham tanto quanto os homens, mas são os trabalhos deles são mais citados. Cadê as mulheres? Cadê os clássicos escritos por mulheres? Quem são os clássicos? Poucas mulheres entram nessa categoria, e mulheres negras, menos ainda. A sociedade brasileira foi construída a partir da violência de gênero e de raça. Isso persiste até hoje, não só no Brasil, mas no mundo. E, mesmo quando nós, mulheres, trabalhamos muito e produzimos ciência — seja na academia, nos quilombos, nos assentamentos ou nas aldeias — nossa produção nunca tem o mesmo peso que a dos homens. Para mim, o problema está nesses dois componentes: o machismo casado, de forma inseparável, com o racismo. As mulheres não negras enfrentam o machismo, mas escapam do racismo. Já para nós, mulheres negras, a carga é dobrada.
C&C – Em sua opinião, quais políticas públicas são mais urgentes para garantir os direitos educacionais das comunidades quilombolas no Brasil?
GMS – Vou começar pela Conaq. Quando nos reunimos em 1995, eu quase era a estrela do encontro – a quilombola de Conceição das Crioulas, a professora que estava na universidade. Era a única, porque não havia outras quilombolas autodeclaradas no ensino superior. Hoje, passados quase 30 anos, vemos que muitas pessoas que se autodeclaravam negras nunca tinham parado para olhar suas histórias. Na verdade, elas saíram de quilombos, mas o apagamento que sofremos na história é muito cruel. Na época, quando saímos desse primeiro encontro, que culminou na marcha dos 300 anos de Zumbi dos Palmares, escrevemos uma carta sistematizando o que aquelas pessoas – que, mesmo sem saber ler, tinham um vasto conhecimento – nos diziam: “O livro didático não tem nossa história”. Lembro da dona Procópio, que ainda está viva, dizendo: “O livro que os Kalunga de Goiás estudam não menciona o povo Kalunga. Os professores não conhecem a nossa história”. O que entendemos a partir disso? Que o material didático não atendia às especificidades dos quilombos, nem a formação dos docentes. A Conaq nasceu com uma luta muito forte pelos direitos quilombolas, especialmente a regularização fundiária. Durante muito tempo, dediquei-me a essa pauta – trabalhei seis anos no Incra estruturando essa política junto com a equipe. Mas a educação sempre me inquietou. Se não cuidarmos da educação, nossos saberes vão se apagar. Se a educação nos quilombos não for capaz de contar a história que ninguém contou, em pouco tempo, as pessoas nascerão nos quilombos sem saber por que lutam – e quem não conhece sua história, não luta por ela.
C&C – Como a Conaq tem atuado para garantir que a educação quilombola avance?
GMS – A Conaq sempre entendeu que educação e terra precisam andar juntas. Por isso, participamos de momentos históricos, como a primeira elaboração do Plano Plurianual de 2003, onde os quilombolas foram reconhecidos como sujeitos de política pública. Também contribuímos para a construção do programa Brasil Quilombola.
C&C – Quais avanços vocês conseguiram alcançar a partir dessas iniciativas?
GMS – Desde então, temos participado de conferências e conselhos, como a Conferência Nacional de Educação (CONAE) de 2010, que foi um divisor de águas. Conseguimos que a conferência reconhecesse a educação escolar quilombola como uma modalidade de ensino e aprovasse a criação de licenciaturas específicas para formar professores quilombolas. Porém, apesar de as diretrizes terem sido elaboradas e publicadas com nossa participação, os cursos não avançaram. As universidades não entenderam a importância dessa formação. Hoje, em 2023, temos apenas uma licenciatura em educação escolar quilombola, na Universidade Estadual do Maranhão. Nenhuma universidade federal abraçou essa pauta.
C&C – Você acredita que estamos vivendo um novo momento para fortalecer essa luta?
GMS – Sim, acho que estamos diante de uma nova janela de oportunidade. Esse sopro de democracia nos permitiu retomar algumas conquistas. Trabalhei no governo por nove anos, mas percebi que posso contribuir muito mais de fora, lutando pelo que acredito. Atualmente, minha dedicação é exclusiva à educação. Sou membro do Conselho Nacional de Educação, o que tem um grande significado para mim, pois represento vozes que talvez nunca cheguem a esse espaço. Faço parte do Coletivo Nacional de Educação, onde produzimos livros, realizamos cursos de formação e mantemos uma escola nacional de formação de meninas. Esse projeto tem apoio do Fundo Malala e buscamos outras organizações para fortalecer essas iniciativas.
C&C – Como a questão fundiária se relaciona com a educação quilombola?
GMS – Hoje, enxergo a regularização dos territórios quilombolas a partir de outra perspectiva. Precisamos garantir que a educação e a terra caminhem juntas. Nossa luta agora é para que a educação escolar quilombola seja efetivamente implementada, com diretrizes estaduais e municipais bem estruturadas. As políticas públicas educacionais sempre falam em combater desigualdades, mas precisamos enfrentar de fato onde elas estão. Sabemos onde estão as desigualdades, mas parece que temos medo de encará-las. Se não houver um compromisso real com a implementação da educação quilombola, continuaremos perpetuando esse apagamento histórico.
C&C – A educação é um poderoso instrumento de transformação social. Como a senhora vê o papel da educação na luta antirracista e na promoção dos direitos humanos no Brasil?
GMS – A primeira coisa que digo é que, quando entendermos que o machismo não é um problema apenas das mulheres, e que ele também não é exercido apenas pelos homens, daremos um passo importante. Da mesma forma, o racismo não afeta somente as pessoas negras, mas toda a sociedade. Ainda vivemos em um mundo onde as pessoas são divididas pelo tom de pele, e isso é vergonhoso. O combate ao racismo e ao machismo precisa ser uma tarefa coletiva. O machismo mata mulheres, mas também mata e aprisiona homens. Enquanto acharmos que esses são problemas isolados, não encontraremos uma solução real. Essa solução não pode vir de um único olhar, especialmente da pesquisa acadêmica que observa por poucos dias e depois se distancia. É fundamental que a ciência e a academia contem com os saberes e as vivências de quem não apenas estudou o tema, mas vive essa realidade diariamente. As cotas, por exemplo, são uma luta histórica do movimento negro. Durante a revisão da lei, a Conaq pressionou para que os quilombolas fossem reconhecidos como uma categoria específica, o que gerou resistência de vários setores, incluindo o próprio movimento negro e parte da academia. Houve momentos em que quase desistimos, mas seguimos firmes e hoje temos um avanço: nenhuma universidade pode abrir um curso sem destinar pelo menos uma vaga para quilombolas.
C&C – Qual é o próximo passo para garantir que essa inclusão seja efetiva?
GMS – Agora, nossa luta é ampliar essas vagas e garantir que os quilombolas não apenas entrem nas universidades, mas tenham condições de permanecer e produzir conhecimento a partir de seus territórios. Como Lélia Gonzalez dizia, a mesa ainda não tem espaço suficiente para todos, porque aqueles que chegaram antes não reorganizaram o espaço de forma justa. O mesmo acontece nas universidades: conquistamos o acesso, mas ainda enfrentamos desafios para ocupar nosso lugar plenamente. A Conaq tem um papel fundamental nesse processo, não apenas denunciando desigualdades, mas garantindo que os quilombolas sejam reconhecidos, permaneçam nas universidades, produzam conhecimento e tragam visibilidade para seus territórios. Nossa luta não é apenas entrar na universidade, mas também não ser ignorado dentro dela.
C&C – Como garantir que os conhecimentos quilombolas sejam valorizados no meio acadêmico?
GMS – É essencial que os saberes dos indígenas, quilombolas e mulheres sejam incorporados ao fazer científico, não como elementos secundários, mas como parte essencial da produção do conhecimento. Precisamos combater o apagamento dessas perspectivas e garantir que sejam somadas ao conhecimento acadêmico. Acredito firmemente que a educação é o caminho para a redução das desigualdades e a superação do racismo e do machismo. Não consigo imaginar outro meio para avançarmos sem passar pela educação.