Como ferramentas digitais e inteligência artificial estão combatendo o desaparecimento de idiomas minoritários
Quando uma língua desaparece no mundo, leva consigo conselhos tradições, histórias e identidades culturais. Segundo a Unesco, 43% das 6 mil línguas faladas hoje estão ameaçadas de extinção. A globalização e a predominância de idiomas como inglês e mandarim na internet aceleram esse processo, mas, paradoxalmente, a tecnologia e a ciência surgem como aliadas na luta pela preservação linguística.
Cada idioma é como um código que guarda a memória de um povo: seus mitos, sua filosofia, sua forma de nomear o mundo. A extinção de uma língua é como queimar uma biblioteca inteira sem nunca ter lido seus livros. Preservá-las não é só um ato de resistência cultural; é garantir que a riqueza da diversidade humana, construída por milênios, não vire pó na era digital. Afinal, como dizem os linguistas, uma língua não é só um instrumento de comunicação, mas um espelho que reflete como uma comunidade enxerga a própria existência — e perder esse espelho é apagar um pedaço da nossa história coletiva.

Figura 1. Indígenas usam a maioria das aproximadamente 7 mil línguas vivas
(Foto: UN News/Pauline Batista)
Tecnologia a favor da preservação
A digitalização e o armazenamento de dados são ferramentas poderosas nessa batalha. Plataformas online, podcasts e bancos de dados digitais permitem gravar, documentar e disseminar línguas ameaçadas, garantindo que suas pronúncias, estruturas gramaticais e vocabulários não se percam. Projetos como o Endangered Languages Project, apoiado pelo Google, reúnem registros audiovisuais e textos em idiomas vulneráveis, criando um acervo acessível a pesquisadores e comunidades.
“Quando uma língua desaparece no mundo, leva consigo conselhos tradições, histórias e identidades culturais.”
A inteligência artificial (IA) também está revolucionando a preservação linguística. Sistemas de aprendizado de máquina, como os usados pelo Microsoft Translator Hub, permitem criar tradutores automáticos para línguas minoritárias, algo impensável há algumas décadas. Na África, iniciativas como o OBTranslate, desenvolvido pelo nigeriano Gabriel Emmanuel, buscam traduzir e preservar mais de 2 mil línguas africanas, usando IA para superar barreiras de comunicação e garantir que esses idiomas sobrevivam às próximas gerações.
Além da tradução, a IA ajuda a reconstruir línguas já extintas ou em estágio crítico. Algoritmos analisam padrões sonoros e gramaticais de idiomas com poucos falantes vivos, gerando modelos preditivos que auxiliam na revitalização. Empresas como a Google e a Mozilla também investem em reconhecimento de voz para incluir línguas indígenas em assistentes virtuais, como a Alexa e o Google Assistant, integrando-as ao cotidiano digital.

Figura 2. Unesco estima que pelo menos 40% dos idiomas falados no mundo estejam em risco de desaparecer
(Foto: Unesco. Reprodução)
Desafios
No entanto, os desafios persistem. Apenas 10% das línguas do mundo estão presentes na internet, e muitas comunidades carecem de infraestrutura para digitalizar seus idiomas. A falta de investimento e o risco de obsolescência tecnológica — como gravações em fitas magnéticas que se degradam — exigem políticas públicas e parcerias globais para garantir que essas iniciativas sejam sustentáveis.
“Linguística digital, big data e IA estão transformando a maneira como protegemos a diversidade linguística.”
Apesar das dificuldades, o avanço científico traz esperança. Linguística digital, big data e IA estão transformando a maneira como protegemos a diversidade linguística, provando que, com inovação e colaboração, é possível reverter o silêncio imposto às línguas ameaçadas. Afinal, preservar um idioma é salvar não apenas palavras, mas toda uma visão de mundo única.
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