C&C 4S24 - reportagem - Abordagem de Johanna Döbereiner à educação - capa site

A contribuição de Johanna Döbereiner à agricultura sustentável

Pioneira da fixação biológica de nitrogênio, a cientista revolucionou a agricultura brasileira, poupou bilhões em fertilizantes e abriu caminhos para uma produção mais sustentável.

 

Nascida em 1924 na então Checoslováquia, Johanna Döbereiner contrariou as convenções de seu tempo e se transformou em uma das maiores referências da ciência agroambiental brasileira. Seu legado transcende o laboratório: Johanna ajudou a moldar uma nova forma de pensar a agricultura — menos dependente de insumos químicos, mais sustentável e conectada aos ciclos naturais da terra.

Antes de se tornar uma cientista reconhecida internacionalmente, Johanna Liesbeth Kubelka trabalhou como camponesa, experiência que aprofundou sua conexão com o solo. Em 1947, ingressou na Universidade de Munique para estudar Agronomia, uma escolha incomum para mulheres da época. Lá, defendeu uma monografia visionária: “Bactérias na fixação assimbiótica de nitrogênio e a possibilidade de seu aproveitamento na agricultura”.


(Fonte: Embrapa. Reprodução)

 

Ao lado do marido, o veterinário Jürgen Döbereiner, migrou para o Brasil em 1950, estabelecendo-se em Seropédica (RJ), onde começou sua jornada no então Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola — mais tarde transformado na EMBRAPA. Seu primeiro artigo científico, publicado em 1951, já indicava o caminho que ela trilharia por toda a vida: “Influência da cobertura do solo sobre a flora microbiana”, escrito com o agrônomo Álvaro Fagundes.

Mas foi na década de 1960 que Johanna iniciou sua cruzada mais audaciosa: demonstrar que as bactérias fixadoras de nitrogênio poderiam substituir fertilizantes químicos, permitindo que as próprias plantas produzissem seu adubo. Em uma época dominada pelo uso de fertilizantes minerais, essa tese foi considerada quase herética. Ridicularizada por colegas e desacreditada em eventos acadêmicos, ela persistiu.

 

Economia e ecologia de mãos dadas

A insistência deu frutos. A fixação biológica de nitrogênio (FBN), defendida por Johanna, tornou-se base do programa brasileiro de melhoramento da soja. Ao contrário do modelo norte-americano, que apostava em adubação intensiva, o Brasil adotou uma alternativa mais ecológica — e econômica. O resultado? O país passou a economizar mais de US$ 2 bilhões por ano com fertilizantes nitrogenados.

 

“A fixação biológica de nitrogênio (FBN), defendida por Johanna, tornou-se base do programa brasileiro de melhoramento da soja.”

 

No Semiárido, sua contribuição também foi vital. As bactérias diazotróficas estudadas por Johanna ajudam a transformar o nitrogênio da atmosfera em formas assimiláveis pelas plantas – o que é crucial em solos naturalmente pobres, como os do Semiárido brasileiro.

 

Pioneirismo feminino e ciência visionária

A trajetória de Johanna também simboliza uma luta por espaço em um meio majoritariamente masculino. A agricultura era exercida majoritariamente por homens, com pouco espaço de destaque para mulheres – assim, a resistência enfrentada por Johanna não era apenas científica, mas também de gênero.


(Fonte: Embrapa. Reprodução)

 

Sua ousadia em propor alternativas ao modelo industrial de agricultura ecoa com ainda mais força no contexto atual de emergência climática, crise ambiental e necessidade urgente de modelos produtivos regenerativos. Johanna não só abriu um campo de estudos como antecipou, décadas antes, os debates sobre a agricultura sustentável e seus benefícios sociais, econômicos e ambientais.

 

“Sua ousadia em propor alternativas ao modelo industrial de agricultura ecoa com ainda mais força no contexto atual de emergência climática, crise ambiental e necessidade urgente de modelos produtivos regenerativos.”

 

Johanna não foi apenas uma pesquisadora brilhante, foi uma visionária, atuando não só na ciência, mas também na articulação de políticas e na busca por recursos que viabilizassem a continuidade das pesquisas. Johanna Döbereiner faleceu em 2000, mas deixou um legado que fertiliza até hoje o solo da ciência e da produção sustentável. Sua história é uma lembrança viva de que inovação, coragem e respeito à natureza podem — e devem — andar de mãos dadas.

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