O Brasil na corrida pela tecnologia que pode revolucionar o futuro
Você já ouviu falar em qubits? Em computadores que não se limitam ao 0 ou 1, mas operam em múltiplas possibilidades ao mesmo tempo? Parece ficção científica, mas é ciência de ponta — e está acontecendo agora. No Ano Internacional da Ciência e das Tecnologias Quânticas, celebramos os 100 anos da física quântica e, com isso, ampliamos o olhar para uma das fronteiras mais promissoras da atualidade: a computação quântica.
A lógica dos computadores que usamos hoje é binária: tudo é 0 ou 1. Já na computação quântica, entra em cena o qubit — capaz de estar em 0 e 1 ao mesmo tempo, graças ao princípio da superposição. Isso multiplica exponencialmente a capacidade de processamento. Mas, como tudo em física quântica, há um porém: a decoerência, que faz com que o sistema quântico perca suas propriedades ao interagir com o ambiente. “O computador quântico se baseia nos princípios da mecânica quântica. Então, de fato, ele tem potencial de fazer coisas melhores”, pontua Celso Villas-Boas, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
Enquanto empresas como IBM e Google disputam os primeiros computadores quânticos funcionais, o Brasil também marca presença. Pesquisadores da USP, Unicamp e UFRJ conduzem estudos de ponta, formam talentos e participam de redes internacionais. “O grosso de pesquisa no Brasil é a universidade. Então, o país tem uma comunidade muito forte em tecnologias quânticas. Nós temos uma rede espalhada pelo Brasil todo”, afirma Barbara Lopes Amaral, professora do Departamento de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Ainda assim, é preciso cautela: trata-se de uma tecnologia em estágio inicial de desenvolvimento, e um computador quântico plenamente funcional ainda levará tempo para se concretizar. “É uma tecnologia que ainda está em desenvolvimento, que ainda é muito cara, é muito frágil”, explica Rafael Chaves, professor da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) e professor permanente da pós-graduação do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mas as possibilidades são muitas. A computação quântica promete transformar áreas como medicina, com simulações moleculares para o desenvolvimento de novos fármacos; segurança digital, com sistemas de criptografia quase impossíveis de serem quebrados; logística e otimização, oferecendo soluções para problemas que computadores clássicos levariam anos para resolver.
Apesar dos avanços acadêmicos, o Brasil ainda carece de políticas públicas robustas e infraestrutura tecnológica para competir em escala. A boa notícia é que temos talento, conhecimento e vontade. A má é que, sem planejamento e investimento, podemos ficar dependentes de tecnologias desenvolvidas fora — o que comprometeria nossa autonomia científica e tecnológica. “Se o Brasil perder o bonde, esperar os países envolvidos construírem, vai ser um grupo de países que vão dominar a tecnologia e não vão deixar os outros construírem”, alerta Renato Portugal, pesquisador titular do LNCC/MCTI e cientista do Nosso Estado pela Faperj.
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