Como um instituto criado no coração da floresta se tornou referência global em biologia tropical e mudou nossa forma de entender a relação entre ciência, natureza e desenvolvimento sustentável
No coração da maior floresta tropical do planeta, uma instituição silenciosamente revolucionou nosso entendimento sobre a biodiversidade e os segredos da Amazônia. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), criado em 1952 por um visionário decreto de Getúlio Vargas, transformou-se não apenas em um centro de excelência científica, mas no principal tradutor dos mistérios desse ecossistema único para a comunidade global.
A história do INPA começa em um Brasil ainda deslumbrado com seu próprio território. Na Manaus dos anos 1950, uma cidade isolada e sem infraestrutura, o botânico Adolfo Ducke convenceu o governo de que ali, no meio da floresta, deveria nascer o instituto que estudaria a Amazônia. A ideia era ousada: criar um centro de pesquisa de padrão internacional em uma região que o próprio Brasil mal conhecia. Os primeiros anos foram de verdadeiro pioneirismo, com expedições que mapeavam fauna e flora como quem desbrava um continente desconhecido.
“Os cientistas do INPA foram os primeiros a demonstrar como a Amazônia não é apenas vítima das mudanças climáticas, mas peça fundamental no equilíbrio ambiental do planeta.”
O que poucos poderiam imaginar é que aquela instituição precária, que funcionou por quase 20 anos em sedes alugadas no centro de Manaus, se tornaria referência mundial em biologia tropical. O INPA foi essencial para colocar a Amazônia no mapa da ciência internacional, não como objeto de estudo distante, mas como laboratório vivo onde se formularam teorias revolucionárias sobre ecologia, clima e biodiversidade.
Nos anos 1970, com a construção de sua sede definitiva no bairro do Aleixo, o INPA consolidou-se como farol científico. Foi quando lançou a Acta Amazonica, revista que se tornaria o principal veículo de divulgação de pesquisas sobre a região. Mas sua verdadeira revolução veio nos anos 1990, quando passou a coordenar redes internacionais de estudo sobre as interações entre a floresta e o clima global. Os cientistas do INPA foram os primeiros a demonstrar como a Amazônia não é apenas vítima das mudanças climáticas, mas peça fundamental no equilíbrio ambiental do planeta.

(Foto: INPA. Reprodução)
Hoje, os números falam por si: o INPA é a terceira instituição no mundo em produção científica sobre a Amazônia, atrás apenas da USP e da UFPA – um feito notável para um instituto com recursos limitados. Suas pesquisas vão desde o estudo de novas espécies até modelos complexos que preveem o impacto do desmatamento no regime de chuvas do continente. O bosque da ciência, seu espaço de visitação, já recebeu milhões de pessoas, transformando a relação da população com a floresta.
Mas o verdadeiro legado do INPA talvez esteja em como ele redefine o papel da ciência. Ao invés de apenas catalogar espécies, o instituto mostrou que a pesquisa pode ser ferramenta de desenvolvimento sustentável. Seus estudos sobre manejo de pirarucu, por exemplo, revolucionaram a economia de comunidades ribeirinhas. As pesquisas com óleos vegetais abriram caminho para biofármacos. E seus alertas sobre desmatamento influenciaram políticas ambientais em todo o mundo.
“O INPA é a terceira instituição no mundo em produção científica sobre a Amazônia.”
Setenta anos após sua criação, o INPA enfrenta novos desafios, da pressão sobre a floresta à necessidade de inovar com recursos escassos. Mas sua história prova que a ciência feita na e pela Amazônia é insubstituível. Como disse a pesquisadora Maria Teresa Piedade, referência em estudos de áreas alagáveis, “a perseverança dos cientistas na região mostrou seus frutos”. O INPA não apenas estudou a Amazônia – ele a colocou no centro do debate sobre o futuro do planeta, lembrando ao mundo que entender essa floresta não é questão acadêmica, mas necessidade vital para a humanidade.
Capa: INPA. Reprodução


