Museu Nacional dos Povos Indígenas - capa site

A arte e a memória dos povos indígenas nos museus brasileiros

Como as instituições culturais preservam e divulgam a história e a cultura indígena, com o protagonismo das próprias comunidades

 

A história e a arte dos povos indígenas no Brasil são fundamentais não apenas para compreender a riqueza e a diversidade cultural do país, mas também para valorizar a resistência e a resiliência dessas populações ao longo dos séculos. Nos museus brasileiros, essas histórias são contadas de formas cada vez mais inclusivas e autênticas, com a participação ativa das próprias comunidades indígenas.

Museus que Contam a História dos Povos Indígenas no Brasil

O Museu das Culturas Indígenas (MCI), localizado no Estado de São Paulo, é um exemplo de instituição que inova na forma de contar a história dos povos indígenas. Inaugurado em 2022, o MCI é um espaço de diálogo e expressão de diversas culturas indígenas. O museu tem uma gestão compartilhada com o Conselho Indígena Aty Mirim, composto por lideranças de diversos povos do estado. Esse modelo de gestão participativa busca fortalecer a arte indígena e as produções culturais dos povos de São Paulo, refletindo suas memórias e histórias de resistência. No MCI, a arte indígena é uma forma de demarcar a presença e a importância dos povos originários na cultura paulista e brasileira, permitindo uma troca intercultural rica entre indígenas e não indígenas.


Figura 1. Museu da Cultura Indígena
(Foto: MCI. Reprodução)

 

Outro museu essencial é o Museu Nacional dos Povos Indígenas, vinculado à Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Com sede no Rio de Janeiro, esse museu detém um acervo etnográfico de mais de 20 mil objetos que representam a cultura material de 150 povos indígenas de todo o Brasil. O acervo inclui desde peças produzidas nas décadas de 1940 até objetos contemporâneos, refletindo a participação ativa dos próprios indígenas na preservação de sua cultura. A instituição também abriga valiosos arquivos históricos e bibliográficos, como o Fundo do Serviço de Proteção aos Índios, que foi reconhecido pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.

 

“Os museus indígenas e centros de documentação têm se tornado espaços de articulação política e afirmação étnica, funcionando também como locais de educação diferenciada e intercultural.”

 

O Museu Nacional dos Povos Indígenas desempenha um papel crucial na preservação, pesquisa e divulgação do patrimônio cultural indígena. Ao longo de mais de uma década, o museu tem se dedicado à documentação e divulgação das culturas indígenas, desenvolvendo exposições físicas e virtuais, além de publicações especializadas, com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso às informações sobre as culturas indígenas.

Museus e Centros de Formação de Iniciativas Indígenas

Além dessas grandes instituições, há um crescente movimento indígena que tem se apropriado dos processos museológicos para construir sua própria narrativa e fortalecer a identidade cultural. Os museus indígenas e centros de documentação têm se tornado espaços de articulação política e afirmação étnica, funcionando também como locais de educação diferenciada e intercultural.

O Centro Audiovisual, localizado em Goiânia, e o Centro Cultural Ikuiapá, em Cuiabá, são exemplos de unidades descentralizadas que promovem a formação de indígenas nas áreas de audiovisual e documentação cultural. Essas iniciativas permitem que os próprios indígenas participem da produção e registro de suas atividades culturais, garantindo uma representação mais fiel e autêntica das diversas etnias e povos.


Figura 2. Centro Cultural Ikuiapá
(Foto: Rodinei Crescêncio/ Centro Cultural Ikuiapá. Reprodução)

 

O Protagonismo Indígena na Memória e Patrimônio Cultural

O protagonismo dos povos indígenas no processo museológico é essencial para a construção de um espaço de memória e identidade. Ao contrário de um passado em que a história indígena era muitas vezes contada de forma excludente e distorcida, atualmente os povos indígenas têm se apropriado desses espaços para reafirmar suas tradições, valores e cosmologias.

A participação indígena nas atividades museológicas reflete um movimento mais amplo de autonarrativas e contranarrativas, onde os próprios indígenas passam a ser os contadores das suas histórias, dando voz a uma memória muitas vezes esquecida ou silenciada pela historiografia tradicional. Museus como o MCI e o Museu Nacional dos Povos Indígenas não são apenas espaços de exposição, mas também de resistência cultural e fortalecimento das identidades indígenas.

 

“O protagonismo dos povos indígenas no processo museológico é essencial para a construção de um espaço de memória e identidade.”

 

Como afirmou a liderança indígena Cícero Pereira, do povo Kanindé, o museu é “a história que tinha lá atrás, é o que a gente tem aqui. O museu pros Kanindé é vida”. Para muitas comunidades, os museus funcionam como centros de documentação que ajudam na preservação e na transmissão dos saberes tradicionais, sendo um ponto de encontro entre as gerações mais velhas, que guardam o conhecimento ancestral, e os mais jovens, que começam a entender sua identidade e herança cultural de forma mais consciente.

A preservação e a divulgação das culturas indígenas nos museus brasileiros têm avançado consideravelmente, mas ainda há muito a ser feito. A participação ativa dos povos indígenas nesse processo é essencial não apenas para a preservação de sua história, mas também para o fortalecimento de sua presença e voz na sociedade contemporânea. Ao reconhecer e valorizar suas culturas, a sociedade brasileira como um todo ganha uma compreensão mais profunda de sua diversidade e complexidade cultural.

Capa. Museu Nacional dos Povos Indígenas
(Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil. Reprodução)

 

Ciência & Cultura © 2022 by SBPC is licensed under CC BY-SA 4.0  
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