Entre galerias, jardins e trilhas sensoriais, o Instituto Inhotim transforma arte, ciência e biodiversidade em uma experiência única de imersão e descoberta.
No interior de Minas Gerais, em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, encontra-se um dos espaços mais singulares do mundo: o Instituto Inhotim. Mais do que um museu a céu aberto ou um exuberante jardim botânico, o Inhotim é um ponto de convergência entre arte, ciência, educação e natureza – um laboratório vivo onde a criatividade humana encontra a diversidade ecológica em proporções monumentais.
Fundado oficialmente em 2006, o instituto nasceu da visão do empresário Bernardo Paz, que, nas décadas de 1980 e 1990, começou a transformar uma antiga fazenda de solo ferroso em um lugar que uniria grandes obras da arte contemporânea internacional com a riqueza botânica do bioma mineiro. Com mais de 700 obras de cerca de 280 artistas, de 43 países, espalhadas por 140 hectares de área visitável, o Inhotim é considerado o maior museu a céu aberto do mundo — e um dos mais inovadores.
A paisagem como suporte
Situado entre os domínios da Mata Atlântica e do Cerrado, o Instituto ocupa uma área total de 786 hectares, dos quais 440 são destinados à preservação ambiental. Ali, esculturas monumentais, instalações sensoriais e galerias interativas convivem com palmeiras raras, bromélias exóticas e espécies ameaçadas de extinção, em um terreno onde arte e ciência dialogam em escala paisagística.
“Museu, laboratório e jardim: Inhotim é um território onde a arte contemporânea encontra a urgência ambiental.”
Em vez de paredes brancas e salas climatizadas, as obras de arte emergem de trilhas, clareiras e encostas, fazendo do passeio uma jornada imersiva. Algumas instalações, como o Sonic Pavilion, de Doug Aitken, convidam o público a escutar os sons subterrâneos da Terra. Outras, como Cosmococa, de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, oferecem experiências sensoriais que cruzam os limites entre o corpo e a obra.
Essa integração entre arte e ambiente é favorecida pela própria escala do território e pelo conceito de site-specific, que inspira artistas a criarem trabalhos especialmente concebidos para o espaço e seu entorno natural. O projeto paisagístico — assinado por Pedro Nehring e Luiz Carlos Orsini — envolve não apenas beleza estética, mas um compromisso com a regeneração ecológica e o respeito à biodiversidade.
Jardim botânico e laboratório vivo
Reconhecido oficialmente como jardim botânico desde 2011 pelo Ministério do Meio Ambiente, o Inhotim abriga mais de 4,5 mil espécies vegetais de todos os continentes, incluindo a maior coleção de palmeiras do mundo. É também o único local na América Latina a cultivar a flor-cadáver (Amorphophallus titanum), famosa por seu tamanho imenso e odor pungente.

(Foto: Instituto Inhotim. Reprodução)
A atuação científica vai além da curadoria botânica. No Viveiro Educador, localizado dentro da Estufa Equatorial, pesquisadores conduzem estudos sobre espécies ameaçadas e desenvolvem técnicas como cultivo in vitro e armazenamento de sementes em câmaras frias — iniciativas que alimentam ações de restauração ecológica e políticas públicas de arborização. Um banco com mais de 500 mil sementes de 74 espécies nativas da Mata Atlântica e do Cerrado está disponível para doação ou troca com outras instituições e jardins botânicos.
Esse enfoque ecológico se expressa também em projetos como o “Protótipo para Sequestro de Carbono e Recuperação de Áreas Degradadas”, desenvolvido em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a comunidade de Córrego do Feijão, que resultou em publicações científicas e práticas de impacto socioambiental.
Educação e inclusão como pilares
O Inhotim é mais do que um destino turístico ou artístico. É uma instituição comprometida com a formação e a transformação social. Através do seu Educativo, o Instituto realiza anualmente programas que envolvem mais de 40 mil pessoas em visitas mediadas, oficinas, exposições e debates. Metade dos visitantes entra gratuitamente, graças a iniciativas como as quartas-feiras livres e projetos sociais voltados a comunidades locais e estudantes.
“No coração de Minas, um espaço que rompe fronteiras entre criação artística, pesquisa científica e transformação social.”
O Centro de Educação e Cultura Burle Marx, que abriga o Teatro Inhotim, biblioteca, salas de aula e estações educativas, é um espaço voltado à experimentação, pesquisa e formação. Ali, arte e ciência tornam-se instrumentos de cidadania e construção coletiva do conhecimento.
Um museu que não cabe nas categorias
Com obras de artistas como Cildo Meireles, Adriana Varejão, Tunga, Olafur Eliasson e Yayoi Kusama, o acervo do Inhotim vai além das fronteiras nacionais e das definições convencionais de museu. A proposta é proporcionar uma experiência transformadora — e isso também se reflete na programação cultural, que já incluiu shows de Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Marisa Monte e festivais como o MECAInhotim.

(Foto: Instituto Inhotim. Reprodução)
Essa pluralidade está ancorada nos valores institucionais: inclusão, diversidade, sustentabilidade e experimentação. Inhotim é, simultaneamente, galeria, parque, centro de pesquisa, palco e escola. É também um espaço em constante construção, onde cada visita revela novas obras, novas paisagens e novas ideias.
Reflexão e permanência
Mais do que uma coleção de obras e espécies, o Instituto Inhotim é uma proposta de mundo: um lugar onde o humano, o artístico e o natural se entrelaçam. Em tempos de crise ambiental e desafios culturais, Inhotim se impõe como um modelo de integração entre diferentes saberes, apontando caminhos para uma sociedade mais sensível, plural e sustentável.
Visitar o Inhotim é, portanto, mais do que contemplar; é participar de um experimento vivo sobre como arte e ciência podem colaborar para reinventar o presente e imaginar futuros.
Capa: Instituto Inhotim. Reprodução


