Na COP30, a Amazônia ganha o centro do debate global sobre o clima — e os saberes tradicionais mostram que preservar também é uma forma de prosperar.
Falar da riqueza da floresta é falar de múltiplas dimensões: biológica, cultural e econômica. A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, abriga cerca de 10% de todas as espécies conhecidas e concentra uma das maiores reservas de água doce do mundo. Estima-se que suas árvores armazenem mais de 70 bilhões de toneladas de carbono, desempenhando um papel vital na regulação do clima global. Com mais de 4 milhões de quilômetros quadrados só no território brasileiro, o bioma é também lar de cerca de 22 milhões de pessoas — entre populações urbanas, ribeirinhas, quilombolas e mais de 180 povos indígenas que há milênios coexistem com a floresta, cuidando de seus ciclos e aprendendo com sua lógica de equilíbrio.
Mas a riqueza amazônica não se resume à biodiversidade: ela é também cultural e simbólica. Os povos da floresta desenvolveram saberes sofisticados sobre manejo sustentável, plantas medicinais, agricultura de baixo impacto e aproveitamento de recursos sem esgotar a natureza. Essas práticas, baseadas em reciprocidade e respeito ao território, oferecem alternativas concretas a um modelo econômico ainda centrado na extração intensiva de madeira, minérios e commodities agrícolas. Em vez de destruir para gerar lucro rápido, esses modos de vida ensinam que é possível gerar renda, ciência e tecnologia com base na conservação e na regeneração. “O grande perigo atualmente, com as mudanças climáticas, o crescimento populacional e o uso desenfreado de recursos é que haja um colapso da capacidade de suporte do planeta, então o planeta vai chegar num limite que não consegue mais sustentar as populações que aqui vivem”, alerta Luiz Aragão, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Coordenador do Programa Mudanças Climáticas Globais da FAPESP.
Relatórios recentes reforçam esse ponto. Segundo o Banco Mundial (2023), preservar a Amazônia vale, pelo menos, US$ 317 bilhões por ano — uma estimativa que considera o valor dos serviços ambientais, da biodiversidade e da regulação climática. Em outras palavras, desmatar não é apenas ambientalmente desastroso: é economicamente ineficiente. “Não existe economia se não tivermos um meio ambiente equilibrado, um clima equilibrado”, explica Luiz Aragão. O Brasil tem investido em programas de recuperação de áreas degradadas, consolidação de unidades de conservação, pagamento por serviços ambientais e fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis, como o açaí, a castanha e o cacau nativo. São caminhos para transformar o potencial amazônico em desenvolvimento justo, inclusivo e duradouro.
A COP30, que será realizada em Belém, coloca a floresta e seus povos no coração das negociações climáticas. Pela primeira vez, a Amazônia será palco e protagonista de uma conferência global da ONU sobre o clima. Espera-se que o encontro reconheça os saberes tradicionais como parte essencial da solução e que o Brasil apresente políticas de transição ecológica que unam conservação, inovação e justiça social. “Nós temos diversas ações que foram propostas e acordadas dentro desses documentos. O que é necessário agora é realmente os países realizarem essas ações, o que é essencial para que o mundo consiga reverter essa crise climática”, enfatiza Luiz Aragão.
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