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Clima e desigualdade urbana

Como a vulnerabilidade urbana amplia os impactos da crise climática no Brasil

 

Mais de 2.800 municípios brasileiros — o equivalente a metade do país — já vivem em situação de alta ou muito alta vulnerabilidade climática, segundo a plataforma Adapta Brasil. O número integra o relatório Cidades Verdes-Azuis Resilientes, lançado pelo Centro de Síntese em Mudanças Ambientais e Climáticas (Simaclim), que reúne evidências científicas e tecnológicas para apoiar governos, empresas e a sociedade na construção de centros urbanos mais preparados diante da crise climática. Isso é o que discute o novo episódio do Ciência & Cultura Cast.

O avanço dos desastres — muitas vezes associados a enchentes, deslizamentos ou ondas de calor — não está ligado apenas ao evento climático em si, mas sobretudo à interação dessas ocorrências com as condições de vida e infraestrutura de cada território. “Nós temos um problema muito real na cidade brasileira. É uma ocupação desigual, uma ocupação desordenada. Uma ocupação que em muitos casos não deveria estar acontecendo, mas que as autoridades públicas, seja por omissão ou por populismo, acabam não investindo adequadamente em moradia, o que faz com que a população more nessas condições tão precárias, tão sujeitas às inclemências do tempo”, alerta Pedro Jacobi, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Estudos de Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Para o pesquisador, a intensidade e a frequência crescente dos eventos extremos colocam as cidades diante de um desafio sem precedentes. Os sistemas de drenagem, por exemplo, tornam-se insuficientes quando episódios de chuva alcançam 200 ou 300 milímetros em poucas horas, como tem ocorrido em diferentes regiões do país. “Boa parte das cidades do planeta não está preparada para esta transformação. Estamos diante da realidade mais dramática possível, porque os sistemas de drenagem não dão conta mesmo. E o que observamos, muitas vezes, é a imprudência, o não acreditar que isso tem impacto tão significativo”, afirma.

O relatório destaca que a preservação e a restauração da infraestrutura verde e azul — que envolve rios, córregos, zonas úmidas, áreas verdes, parques e árvores — são fundamentais para reduzir impactos como enchentes, ilhas de calor, poluição e crises hídricas. As soluções baseadas na natureza (SbN) vêm se consolidando como estratégias essenciais para integrar ecossistemas e cidades, por meio de corredores ecológicos, telhados verdes, pavimentos permeáveis, recuperação de corpos d’água e ações de arborização. Entre seus benefícios estão o aumento da biodiversidade, o equilíbrio hídrico, a diminuição de temperaturas e a melhoria da qualidade do ar.

Transformar cidades em territórios verdes, azuis e resilientes exige não apenas planejamento técnico, mas também governança colaborativa, com participação de diferentes setores e escalas. O fortalecimento da capacidade institucional dos municípios e o acesso a mecanismos de financiamento — como fundos internacionais, entre eles o Green Climate Fund, o BID e o C40 Cities Finance Facility, além de instrumentos nacionais, como IPTU progressivo, outorga onerosa e operações urbanas consorciadas — são apontados como caminhos decisivos para acelerar a adaptação climática.

Pedro Jacobi reforça que a resposta precisa ir além de obras emergenciais: “Eu diria que é fundamental buscar respostas, trazer respostas. As respostas estão nas soluções baseadas na natureza, na articulação do plano diretor com mudanças climáticas, mudando efetivamente a forma de urbanizar a cidade. E nós estamos vendo isso de uma forma bastante visível e divulgada até pelas mídias, por exemplo, das soluções que têm sido dadas em diversos países”.

Ouça ao episódio completo:

Ciência & Cultura © 2022 by SBPC is licensed under CC BY-SA 4.0  
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