Brasil assume liderança climática, mas COP30 expõe força do lobby dos fósseis. Ouça no Ciência & Cultura Cast
A COP30 em Belém marcou um momento raro em que ciência, política e sociedade civil convergiram no mesmo território — a Amazônia — para discutir um futuro possível diante do avanço das mudanças climáticas. Para Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física e coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP, além de membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o encontro colocou o Brasil em posição de destaque. Isso é o que discute episódio especial do Ciência & Cultura Cast, parte da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “COP 30: ciência, política e ação”.
A presença massiva de movimentos sociais, povos indígenas, pesquisadores e organizações ambientais deu um tom vibrante e plural ao evento. Pela primeira vez, segundo ele, a adaptação climática entrou no centro das discussões de forma séria, reconhecendo que milhões de pessoas já vivem os impactos de ondas de calor, eventos extremos e alterações profundas nos ecossistemas. “Grupos indígenas, grupos quilombolas, ONGs lutando por diferentes questões… Todos os pesquisadores e todos os participantes de fora do Brasil notaram o vigor da sociedade civil no Brasil, que é muito diferente das últimas 10 COPs. Então, isso foi um ponto muito positivo para a COP30 em Belém”, pontua Paulo Artaxo.
Mas o grande obstáculo, segundo o pesquisador, veio da força do lobby da indústria do petróleo. Apesar da liderança do Brasil e da pressão de cientistas e movimentos sociais, não foi possível firmar um acordo global robusto para a eliminação dos combustíveis fósseis. Para ele, essa tensão ilustra o conflito central da crise climática: de um lado, interesses econômicos muito poderosos; de outro, os 7,7 bilhões de pessoas que já enfrentam consequências severas — incluindo um possível aumento de até 4 °C no Brasil, com impactos extremos sobre agricultura, biodiversidade, saúde e infraestrutura. “Do ponto de vista de resultados, como esperado, a COP 30 teve altos e teve baixos. Entre os altos, podemos citar claramente a discussão sobre a questão de adaptação ao novo clima, discussão sobre financiamento climático que avançou significativamente e, como ponto baixo, a questão de que os países produtores de petróleo bloquearam qualquer discussão sobre a necessária o necessário fim da exploração e do uso dos combustíveis fósseis”, alerta.
Ainda assim, o cientista avalia que a conferência foi intensa e produtiva, com uma participação social “extraordinária” e um vigor científico comparável a poucas edições anteriores. O pós-COP, no entanto, é onde se definirá o real alcance desse encontro inédito na Amazônia. Paulo Artaxo integra o grupo de cientistas que seguirá apoiando a presidência da COP e a liderança brasileira na construção de um roteiro concreto para abandonar os fósseis, frear o desmatamento e acelerar a restauração ecológica. Essa continuidade — envolvendo academia, governo, comunidades tradicionais e sociedade civil — será essencial para transformar o impulso político de Belém em políticas duradouras. “É importante salientar que o Brasil exerceu um papel de liderança exemplar ao longo desta COP, pelas pressões que o presidente Lula fez para que a COP tenha resultados concretos, pela visão do presidente da COP que essa teria que ser a COP da ação”, afirma.
Ouça ao episódio completo:


