As Conferências da ONU sobre Mudança do Clima moldam políticas, inspiram mobilizações e chegam à Amazônia com a promessa de um novo ciclo global.
As Conferências das Partes (COPs) são o principal fórum internacional dedicado ao enfrentamento das mudanças climáticas. Reunindo anualmente quase 200 países sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), esses encontros definem metas, estratégias e acordos que orientam o futuro do planeta. Foi em uma COP que nasceu o Acordo de Paris, marco histórico que comprometeu o mundo a limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 °C — um objetivo ambicioso que exige cooperação, tecnologia e, sobretudo, vontade política.
Apesar das críticas sobre lentidão e ineficácia, as COPs produzem efeitos concretos e duradouros. Cada edição ajusta as engrenagens da governança climática, pressiona países a elevar suas metas de redução de emissões e impulsiona mecanismos de financiamento verde. Muitas vezes, o impacto real não está apenas nas resoluções assinadas, mas na força simbólica e política que esses encontros exercem sobre governos, empresas e cidadãos. As COPs se tornaram, de certa forma, o palco onde o mundo reafirma — ou questiona — seu compromisso com o futuro comum. “Eu penso que não são as COPs que mudam o mundo mas são as ações das pessoas partindo de algumas definições ou de alguns pactos que são firmados nas COPs”, pontua Olga Lucia Castreghini de Freitas, professora aposentada do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Há também um “efeito invisível” que transcende as negociações diplomáticas. As conferências ajudam a consolidar o tema climático no imaginário social, influenciando movimentos, campanhas e políticas nacionais. Elas criam um espaço de diálogo entre ciência, economia, juventude e povos tradicionais, abrindo caminho para novas narrativas e formas de engajamento. “A preocupação ambiental passa a ser o centro das discussões, etc. Isso eu acho que é muito positivo”, afirma Suzana Kahn, professora do Programa de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora da COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia). Nesse sentido, as COPs funcionam como uma espécie de catalisador: nem sempre transformam de imediato, mas iniciam processos que reverberam por décadas.
A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém do Pará, carrega um simbolismo especial. Realizada no coração da Amazônia e coincidindo com os dez anos do Acordo de Paris, ela promete recolocar a floresta e a transição justa no centro das decisões globais. O Brasil, com sua vasta biodiversidade e papel estratégico na agenda climática, terá a oportunidade de mostrar ao mundo que proteger o planeta é também um ato de soberania e esperança. “É importante que essa COP do Brasil, com esse simbolismo de ser na Amazônia, tenha um bom resultado”, enfatiza José Eli da Veiga é professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP.
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