Principais mapas do Brasil dos séculos 16 e 17

Em primeiro lugar é citado o mapa ainda bastante impreciso do navegador e cartógrafo castelhano Juan de la Cosa (1460-1510), elaborado entre 1500 e 1508. Ele acompanhou Colombo em suas duas primeiras expedições e o navegador espanhol Alejandro Ojeda (1466-1516) na terceira, da qual Vespúcio também participou. Temos depois a “Carta Náutica do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo” (1534) do cartógrafo português Gaspar Luis Viegas; o mapa mundi do cartógrafo português Bartolomeu Velho (1561) preparado a pedido de D. Sebastião, do Museu Naval de La Spezia na Ligúria (entre Gênova e Pisa); o mapa de 1586, bem conhecido, do outro cartógrafo português, Luís Teixeira que já incluía as capitanias, o Estreito de Magalhães e o meridiano de Tordesilhas tentando separar terras da Espanha e Portugal. Esse mapa foi utilizado para um estudo cartográfico das capitanias, subsidiado com dados quantitativos citados nas cartas de doação. Na análise [1] apontou-se que os erros de latitude, medida com o astrolábio solar ao meio dia, variava de 0,3º a 0,5º e os de longitude, estimada por distância percorrida, variava entre 3º e 6º comparando-se com medições atuais.

Já do século 17 temos o “Atlas do Brasil” de 1640 de João Teixeira Albernaz I ou o Velho (filho do citado Luís Teixeira). Quarenta anos depois, seu neto homônimo João Teixeira Albernaz II, o Moço, produziu o “Atlas do Brasil” (1666), no qual compilou e acrescentou dados aos mapas originais do avô. Nesta lista cabe o mapa mural de Marcgrave cuja precisão, para a região geográfica coberta (litoral nordestino desde o atual Rio Grande do Norte até o atual Sergipe) não foi superada até o primeiro quarto do século 18.[2] O método usado por Marcgrave para determinar longitudes foi o dos eclipses lunares (ver Determinação da longitude pela observação de eclipse lunar), de difícil aplicação prática para ele, principalmente pela falta de relógios confiáveis de hora local. Marcgrave utilizou dados do eclipse total da Lua da noite de 20 a 21 de dezembro de 1638, que ele observou com um quadrante portátil de 1 pé, da Residência do Conde, na ilha de Antonio Vaz (atual esquina entre as ruas 1º de março e do Imperador Pedro II, no bairro de Santo Antônio, no Recife). O outro ponto de referência para a observação foi o Observatório de Uraniborg, construído por Tycho Brahe na ilha de Hven, na Dinamarca que, na época era usado como meridiano de origem para a contagem de longitude, como hoje é Greenwich nas cercanias de Londres. Não havia ninguém em Uraniborg observando o eclipse. Mas já era possível publicar previsões, calculando-se os chamados instantes críticos de um eclipse lunar, isto é, os instantes dos quatro contatos entre o bordo da Lua Cheia e o bordo da sombra da Terra. Da análise das observações de Marcgrave obteve-se um desvio padrão médio de 0,14º para as latitudes e uma diferença de 8º 41’ entre as longitudes de Uraniborg e Recife medidas por Marcgrave e medidas hoje. Um mapa sobre as capitanias do Brasil usando dados de Marcgrave foi publicado por Johannes Blaeu em 1662 em sua famosa gráfica em Amsterdã.


Notas
[1] Cintra, Jorge Pimentel, Reconstruindo o Mapa das Capitanias Hereditárias, Anais do Museu Paulista, 21, 2, 11-45, 2013.
https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/80840/84476
[2] Cintra, Jorge Pimentel e Pereira, Levy, A astronomia e o mapa Brasilia qua parte paret Belgis, de Jorge Marcgrave in História da Astronomia no Brasil (2013), Volume 1, Capítulo 5, Parte 2, 197-228, Org.: Oscar T. Matsuura, Companhia Editora de Pernambuco, Recife, 2014.
Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente tem se dedicado à História da Astronomia no Brasil.
Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente…
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