D. João IV e a Restauração de Portugal

Filipe IV da Espanha, o último dos filipinos da União Ibérica, desgostou os portugueses querendo aumentar os impostos e diminuir a influência portuguesa na corte espanhola. Esse foi o estopim que levou à aclamação popular de D. João IV, da dinastia de Bragança, como rei de Portugal. Sendo chamado Restaurador de Portugal, reinou de 1640 até a morte em 1656. Mas, por não estar aliado aos Habsburgos, morreu sem ser reconhecido como rei pelo papa, algo então necessário. Esse reconhecimento só veio em 1668 com a paz selada entre Espanha e Portugal (Tratado de Lisboa de 1668). Mas custou as despesas de guerras com a Espanha que nada resolviam, do envolvimento de Portugal com Espanha e Holanda para ganhar a aliança dos inimigos da Espanha e derrotar seu rei (Felipe V), que lutava praticamente contra o resto da Europa.

D. João IV já tinha herdado da União Ibérica um triste legado. Portugal já tinha errado começando a se empenhar em colonizar o Brasil com atraso, quando os lucros das especiarias do Oriente já diminuíam pelo aumento do custo de manutenção dos domínios portugueses na África e na Ásia, que incluía naufrágios, estabelecimento de fortes e feitorias, revoltas de populações locais, ataques de indianos, chineses e muçulmanos e até expulsões. O declínio do comércio de Portugal com as Índias foi sentido no início do século 17, quando a União Ibérica enfraqueceu a marinha de guerra portuguesa e possessões foram perdidas para muçulmanos e protestantes ingleses e holandeses.[1] “A negligência dos reis da Casa de Áustria com as possessões portuguesas, a sua preocupação extrema com as guerras na Europa e a prata americana teriam determinado a cadeia de perdas das primeiras quatro décadas do século XVII, especialmente entre os anos 1621 a 1641. Nesse curto período de duas décadas, os portugueses viram o império marítimo do Estado da Índia, organizado em entrepostos comerciais na Ásia como Ormuz, Goa e Malaca, construído com enormes esforços em homens e dinheiro durante o século XVI, cair indefeso ante os ataques de ingleses e holandeses. Ademais, Portugal perdera para os holandeses Pernambuco e as capitanias do norte do Brasil, a mais importante região de produção açucareira do império, sendo recuperada, já no período restauracionista pelos esforçados colonos luso-pernambucanos. Como (Portugal) não culpar a desastrosa política dos Habsburgo pela enorme perda?”[2]


Notas
[1] Mourelle, Thiago Cavaliere, Goa e o Estado da Índia português in Portugal e o Estado da Índia, O Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira, 2018.
http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5282:coment%C3%A1rio&catid=2057&Itemid=215
[2] Megiani, Ana Paula Torres; Pérez, José Manuel Santos e Silva e Kalina Vanderlei, (Organizadores), Introdução, O Brasil na Monarquia Hispânica (1580-1668), Novas interpretações, Historia Diversa, V. 2, 7-21, Humanitas, São Paulo, 2016.
Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente tem se dedicado à História da Astronomia no Brasil.
Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente…
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