Charles-Marie de La Condamine (1701-1774)

La Condamine foi um cientista e explorador francês. Participando de trabalhos da Academia de Ciências de Paris como assistente de laboratório de Química, tornou-se membro da mesma em 1730.

Depois de ter estudado Astronomia e Geodésia, em 1735 foi encarregado pela Academia de participar de uma expedição ao Equador, tendo como objectivo central a determinação precisa do tamanho do arco meridiano de 1º nas proximidades do equador. Com esse objetivo se confirmaria a hipótese de Newton, do achatamento da Terra nos polos. Ao mesmo tempo foi enviada uma outra expedição para a Lapônia, no norte da Escandinávia, para fazer as mesmas medições perto do polo Norte. La Condamine objetivava fazer também pesquisas em História Natural e conhecer o rio Amazonas. Esta última tarefa ele realizaria após o término da medição do arco meridiano no Equador.

A expedição era franco-espanhola. A equipe francesa partiu em 1735 e chegou em Guaiaquil, no Equador, em 1736. A medição do arco meridiano foi numa região montanhosa e hostil, e apenas terminou em agosto de 1739. A convivência na equipe foi se degradando até que os membros decidiram se separar e prosseguir os trabalhos independentemente. Felizmente os trabalhos da medição do arco foram dados por concluídos em 1743, sete anos após a chegada da equipe ao Equador.

O resultado científico dessa expedição, em confronto com os dados obtidos na Lapônia, veio provar sem sombra de dúvida a tese de Newton, de que a Terra é achatada nos polos. Esse já era o resultado esperado, de acordo com os resultados de Richer obtidos mais de 70 anos antes. Mas devemos admitir que o método utilizado era diferente.

Terminado o trabalho geodésico, La Condamine deixou Quito em maio de 1743 e dirigiu-se às cabeceiras do rio Amazonas. No percurso até a foz, fez um levantamento do rio, fazendo observações astronômicas dos satélites de Júpiter, quando podia, para determinar a longitude. Também estudou a vegetação e a antropologia dos povos que encontrava, interessando-se em especial pela seringueira e pelo uso do curare.

Em setembro de 1743 chegou a Belém do Pará, onde permaneceu algum tempo fazendo observações astronômicas e informando-se sobre o uso da borracha. Uma das coisas que chamou sua atenção foi uma bola feita com látex que quicava, algo que na época era surpreendente, parecendo contrariar a lei da gravidade.

Partindo por via marítima para Caiena, lá chegou em fevereiro de 1744, tendo de aí permanecer por cinco meses por falta de uma embarcação que o conduzisse à Europa. No período em que permaneceu em Caiena, continuou suas observações astronômicas e estudou o movimento do pêndulo nas regiões equatoriais. Também se interessou pela vegetação e etnografia local. Partiu para Amsterdã em agosto de 1744, chegando àquela cidade em novembro daquele ano.

Nessa longa viagem coletou informações relevantes sobre o Equador e a Amazônia, dentre elas as que lhe permitiram fazer uma primeira descrição científica da quina, árvore de onde se extrai o quinino, da seringueira e do curare, o famoso veneno utilizado pelos ameríndios nas suas flechas.

Em fevereiro de 1745 chegou a Paris trazendo uma colecção de mais de 200 ítens de história natural e antropologia da bacia amazônica, incluindo a primeira amostra de curare trazida para a França.

Publicou um relato [1] da sua viagem, acompanhado das medições feitas e de um mapa [2] do curso do rio Amazonas, Carte du cours du Maragnon.

Um diário circunstanciado das suas observações durante a viagem à América do Sul foi publicado em Paris no ano de 1751. Também publicou (1745) em espanhol, um relato circunstanciado da sua passagem pela América do Sul. Devido a essa publicação, La Condamine que sobreviveu aos colegas da expedição, beneficiando-se da sua capacidade de escrever, do poliglotismo e sociabilidade, acabou recebendo do público o crédito quase total pelo êxito da expedição, apesar de ser bem menos versado em Astronomia e Matemática do que os seus colegas.

Acerca do conhecimento adquirido por Condamine sobre a natureza amazônica, inclusive por observações astronômicas, uma interessante análise [3] foi feita sobre a adaptação estética do mesmo aos padrões textuais e cartográficos europeus, assim como sobre a sua apropriação e incorporação arrogantemente seletiva no saber europeu, obliterando as origens, principalmente de culturas nativas.


Notas
[1] La Condamine, Charles-Marie de, Relation abrégée d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale depuis la côte de la mer du Sud, jusques aux côtes du Brésil & de la Guiane, en descendant la rivière des Amazones, Mémoires de l’Académie Royale des Sciences, 391-492, Paris, Veuve Pissot, 1745.
[2] Cortesão, Jaime, A cartografia amazônica durante o século XVII, Terra Brasilis (Nova Série), 14, 1-17, 2020, https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.6994. A Figura 13, Carte du cours du Maragnon ou de la grande rivière des Amazones é de La Condamine.
[3] Safier, Neil, Measuring the new world: enlightenment science and South America, Chicago, University of Chicago Press, 2008.
Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura

Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente tem se dedicado à História da Astronomia no Brasil.
Oscar T. Matsuura é docente aposentado do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar. Foi diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica Prof. Aristóteles Orsini em São Paulo e é pesquisador colaborador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI). Ultimamente…
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