João V se empenhou em produzir uma cartografia caracterizada pela precisão, como instrumento de negociação de interesses territoriais. As ciências em geral não atingiram em Portugal um desenvolvimento assinalável durante o seu reinado. Para isso contribuiu o clima de censura da Inquisição. A Medicina foi a que mais sofreu, visto que muitos médicos eram judeus. Neste panorama de estagnação científica encontramos, contudo, uma clara exceção: a Engenharia. De todas as ciências, a que melhores resultados apresentou durante o reinado de D. João V foi a Engenharia, uma arte então essencialmente militar, tal como era ensinada nas academias militares, mas também com ampla aplicação civil em tempo de paz.
Por volta de 1720, o geógrafo e cartógrafo francês Guillaume Deslile (1675-1726) afirmou, a partir de suas análises sobre as fronteiras americanas entre os dois países ibéricos, que o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento não se encontravam “dentro da zona de soberania portuguesa, delimitada pelo meridiano de Tordesilhas”. [1, 2] Guillaume Delisle era famoso pelos seus precisos e populares mapas da Europa e das recém exploradas Américas. Foi admitido à Academia Real de Ciências em 1702, quando assinava seus mapas como Geógrafo da Academia. Em 1718 tornou-se Primeiro Geógrafo do Rei (Luís XIV). Era cartógrafo de gabinete, mas tinha rede de informantes por pertencer à Academia. Recebia informações novas de viajantes.
As críticas de Deslile prejudicavam diretamente os interesses dos portugueses, já que a Colônia do Sacramento era ocupada por Portugal desde o final do século 17 e os lusitanos tinham pretensões de alargar seu domínio sobre a região do rio da Prata. As análises do cartógrafo francês também poderiam aguçar o desejo da Espanha de contestar as fronteiras, uma vez que não existia uma definição precisa dos limites dos domínios de cada nação ibérica na América, que remontavam ao Tratado do Tordesilhas. Diante dessa situação, D. João V compreendeu que era necessário, para obviar futuras alegações da Espanha, fundadas na situação do meridiano de Tordesilhas, renovar por meio da cultura astronômica, a cartografia portuguesa e dar uma nova base à sua diplomacia sobre direito territorial. Mas, principalmente no início das negociações para o Tratado de Madri, a precisão dos detalhes no Mapa das Cortes (ver adiante) foi preterida em favor dos interesses diplomáticos.