Antropólogo social Alfredo Wagner Berno de Almeida discute como a ideia da nova cartografia nasce contra o monopólio dos poderes
“O que é relevante de ser mapeado? Aquilo que o Estado acha que é relevante? Aquilo que o conhecimento científico refinado e erudito acha que é relevante? Ou aquilo que os próprios atingidos dizem que é relevante?”, dispara o professor e pesquisador Alfredo Wagner Berno de Almeida, coordenador do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. “Nós vivemos transitando nestas fronteiras do conhecimento, daí que a nova cartografia foi se erigindo enquanto uma forma de produzir conhecimento.”
Antropólogo social, Almeida é professor da Universidade Federal do Maranhão (UFAM) e das universidades federal e do estado do Amazonas, além de conselheiro regional do Grupo de Trabalho dos Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em nossa conversa do Ciência & Cultura Cast, ele fala como essa ideia da nova cartografia nasce contra o monopólio dos poderes. Antes a cartografia e a ideia de produzir mapas estava muito ligada às ciências militares, ao poder, à ação colonial e aos impérios, explica o professor. “Hoje nós estamos assistindo ao fim do monopólio destes poderes que ditavam o que os mapas deveriam ter desde o século XVI.”
A cartografia social nasce no contexto de popularização dessa nova forma de produzir conhecimento. Para Almeida, é preciso nos atentarmos para novos significados e conceitos. “No caso da nova cartografia social, ela não tem muito a ver com a geografia, tão pouco com a geologia. Ela significa, nesse novo léxico, uma tentativa de produção científica, de descrição, levando em consideração novas possibilidades de entendimento de realidades localizadas e de processos reais, enfatizando a situacionalidade da produção de mapas.”
O pesquisador afirma: “Quando povos originários e comunidades tradicionais produzem as suas próprias representações cartográficas, eles reafirmam suas territorialidades. Esse tipo de produção cartográfica é um passaporte para ser cidadão, porque o território acompanha a sua identidade coletiva.” O professor lembra, no entanto, que ao mesmo tempo que houve um avanço da nova cartografia, há ainda muitas terras indígenas sem mapeamento preciso, assim como terras que são objeto de reforma agrária e assentamento.
Ouça aqui na íntegra o conteúdo desta conversa.