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Cerca de 70% dos brasileiros confiam na ciência, mas campanhas de desinformação afetaram credibilidade acadêmica

Estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) mensurou percepção da população durante período de pandemia

 

Apesar do papel importante desempenhado pela área científica durante a pandemia de covid-19, com destaque à elaboração de vacinas de forma rápida e segura, as campanhas de desinformação tiveram grande influência na queda da confiança da população sobre a Ciência.

É o que aponta a pesquisa “Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia”, realizada pelo Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e divulgada na última segunda-feira (12/12).

Das 2.069 pessoas entrevistadas ao redor do País, 68,9% declararam confiar ou confiar muito na Ciência. Apesar de ser um bom número, os pesquisadores alertaram que tal porcentagem é menor do que em outros estudos que mediram a mesma taxa de confiabilidade – caso do Índice do Estado da Ciência, realizado pela 3M, em que este indicador chegou a 90%.

“A gente tem que ter muito cuidado quando vai fazer comparações, se caiu ou diminuiu a confiança, porque se a gente não tem exatamente a mesma formulação de pergunta, a mesma escala de respostas, isso pode enviesar os resultados. Não podemos afirmar, com certeza. Mas a gente já tinha algumas pesquisas que estavam sendo divulgadas durante a pandemia e que mostraram um cenário mais otimista, com um nível de confiança maior. E aí, baseado nestas pesquisas, a gente percebe que sim, parece que a pandemia influenciou negativamente a confiança das pessoas na Ciência”, explicou Vanessa Fagundes, uma das idealizadoras do estudo. Fagundes é assessora de comunicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), onde coordena um programa de comunicação da ciência.

Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que também encabeçou a equipe de pesquisadores do estudo, apontou que é necessária cautela na percepção ao dizer se houve uma queda de confiança, reforçando que a metodologia do estudo afeta seus resultados significativamente.

“Nós fizemos a pergunta ‘o quanto você confia na ciência?’ e, aparentemente, essa confiança diminuiu. Mas fizemos outra pergunta: ‘quais fontes você considera mais confiáveis para se informar?’, e a porcentagem de cientistas aumentou. A resposta de uma pergunta é diferente de como essa pergunta é formulada. A gente precisa olhar as relações dessas perguntas, para entender o que está aumentando e diminuindo e o porquê”, explicou.

Escolaridade, renda e o período de pandemia afetam confiabilidade

Questionados se a pandemia afetou a sua confiança na Ciência, apenas 32,9% dos entrevistados alegaram que a sua confiança foi inalterada neste período, enquanto que para 67,1% a pandemia foi um período de mudança de atitudes. Para os pesquisadores, este dado mostra que a desinformação que circulou intensamente foi um fator relevante na construção de uma polarização entre quem confia ou não nas decisões científicas.

A pesquisa também apontou que o nível de confiança na Ciência é afetado pelos graus de escolaridade e renda dos entrevistados, sendo maior entre aqueles que possuem algum curso superior ou pós-graduação e em quem possui renda familiar maior do que cinco salários-mínimos.

Na análise dos perfis que mais desconfiam da Ciência, esse público está mais presente na região Centro-Oeste, independentemente de sua escolaridade, renda ou idade. Na região, 43% dos entrevistados declararam confiar pouco ou nada na Ciência, 14% a mais do que a média nacional.

Para o vice-coordenador do INCT-CPCT, professor de História da Ciência na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente de honra da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, o estudo é importante, pois mostra uma necessidade de atenção da população científica às percepções da sociedade, e deve ser utilizado como base para a construção das políticas científicas a partir do novo Governo Federal, que chega em 2023.

“A gente está vivendo um período de mudanças governamentais, e esse é um momento de pensar coisas novas. No nosso campo, isso significa pesquisar, investigar e entender mais a população brasileira. A importância desse estudo é pensar essa realidade e como ela pode refletir em políticas públicas”, concluiu.

Esses e muitos outros resultados podem ser verificados no resumo executivo da survey.
Clique aqui para acessar o PDF e conferir os dados da pesquisa.

Evento de divulgação

A roda de debates para divulgação do estudo “Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia” ocorreu na última segunda-feira (12/12), no Casa de Oswaldo Cruz, e contou também com a presença da pesquisadora Luisa Massarani, coordenadora do INCT-CPCT, além de comentários de Soraya Smaili, do Centro de Estudos SoU_Ciência; do jornalista Herton Escobar e de Thaiane de Oliveira, da Universidade Federal Fluminense.

O evento completo pode ser conferido na página da Casa de Oswaldo Cruz no Facebook.

Jornal da Ciência

 

Capa. Julia Koblitz | Unsplash.com
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